terça-feira, 8 de junho de 2010

O cliente sempre tem razão






No comércio é compreensível que a máxima acima seja aceitável. Uma loja vive de sua clientela, e por isso deve aplicar-se ao máximo no sentido de agradar os consumidores. A competitividade nessa área faz com que cada estabelecimento invista em meios para atrair e conservar esses consumidores. Acho isso uma troca justa, uma vez que o cliente que paga pelo produto disposto na loja merece ser valorizado. Em primeira instância ele é o sustento do dono e dos funcionários do estabelecimento.

Mas e quando o caso da frase acima refere-se aos membros de igrejas, seria uma afirmação justa? Já não é de hoje que igrejas têm sido comparadas com o comércio em geral. Isso não chega a ser nenhuma novidade, uma vez que na história da Igreja temos vários casos de tentativas de lucro com a fé alheia - basta lembra-se de Simão em Atos 8, e da venda de indulgências na Idade Média. É quase impossível nesses dias desassociar a idéia de empresas das igrejas, e por isso dizem abertamente "pequenas igrejas, grandes negócios". Uma igreja que funciona como um comércio não tem membros, mas sim clientes.

A cartilha empresarial das igrejas neo-pentecostais sustenta a máxima de não contrariar o cliente, e por isso ele sempre terá razão. Nunca me esqueço de um "artigo" que li em um boletim de uma igreja onde se dizia que a pessoa mais importante no culto é o visitante, e que por isso tudo deveria ser planejado para que ele se senta bem. Esse culto antropocêntrico reflete o pensamento de quem se esqueceu que o Senhor da Igreja é Jesus, e que Ele é o seu fundamento e edificador. MacArthur fala de um "ministério sensível aos interessados" quando se refere a algumas obras literarias que ensinam as igrejas a se adaptarem ao seu público alvo. A intensão parece nobre, pois soa como Paulo dizendo: fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns (1 Co 9.22). Porém, apenas parece. Paulo não está ali ensinuando que o culto deve ser moldado aos gostos ou estilos de vida. Antes, ele fala de sua disposição pessoal para chegar a todo tipo de indivíduo, quebrando barreiras que poderiam limitá-lo por questões pessoais. Paulo vivia para cumprir o propósito para o qual foi chamado (Fp 3.12), e nada deveria se opor a isso, principalmente algum tipo de indisposição pessoal. Por isso ele estava pronto a ir a todos, mas não tornar o culto segundo o gosto de todos.

Com essa idéia torta de tornar o culto atraente a todos estilos e gostos pessoais, as igrejas têm funcionado como um verdadeiro shopping center. Existe igreja para atender a todo tipo de "consumidores da fé". Em muitos casos, uma mesma igreja pode agregar programações que atendem à públicos diferentes com cultos direcionados. É a igreja com a cara de quem a frenquenta, não importando o tipo de vida que esses clientes vivem.

Nessas igrejas, obedecendo a máxima da razão que o cliente sempre têm, nunca alguiém pode ser contrariado. Os ouvintes podem até levar umas chacoalhadas com algumas palavras que soam duras, mas nunca no sentido de se pregar contra o pecado. A pregação que é na verdade uma palestra de auto-ajuda, pode chamar as pessoas à algum tipo de responsabilidade, e até usar palavras duras, mas nunca no sentido de afirma a completa incapacidade que a pessoa tem de se salvar. No fim dessas palestras, convencidos de sua capacidade inerente, o indivíduo se sentirá melhor consigo mesmo, pensado: "Sim, eu posso! Se eu venho fazendo algo errado, eu posso concertar." É sempre bom lembrar que por "errado" nem sempre se quer dizer pecado, e nesses casos de auto-ajuda, nunca.

A questão final que precisamos abordar é: Qual é a razão que temos para fazer parte da Igreja de Cristo? De sermos membros de seu corpo? Não somos clientes e nem consumidores da fé. A Igreja não é uma empresa e nem um comércio, e não é sustentada por nós. Que razão nos resta? É justamente porque estávamos perdidos, mortos em nossos delitos e pecados, sem razão alguma nesse mundo, é que devemos correr para a Videira onde temos vida (Jo15.1-5; Ef 2.1-4). Essa Vida que temos em Cristo, enquanto membros de seu Corpo, é a nossa única razão. Por essa mesma razão Pedro responde a Jesus quando os 12 foram questionados se queriam seguir seus próprios caminhos: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna...". A razão de tudo isso é que entregues a nós mesmos, não temos razão alguma, nada realmente faz sentido. A nossa razão para estarmos na Igreja é que não temos razão em nada nessa vida, se não em Cristo. Ele é e tem toda a razão de ser.