Existem lugares por onde passamos, ou que desejamos
ir, que nos parecem a solução de todos os nossos problemas. Talvez uma praia paradisíaca,
uma casa no campo, ou simplesmente qualquer outro lugar diferente de onde estou
agora soa como um lugar perfeito. É como se ali pudéssemos viver o nosso
particular “Felizes Eternamente”.
Sou afeito ao mar, às praias de areias brancas com
vento e sol. Não posso negar que morar em uma cidade a beira mar, com essas
especificações é uma ideia que me atrai. Minhas férias são sempre programadas
pensando nesse tipo de itinerário. As vezes tenho a impressão que morar em um lugar
assim, “perfeito”, resolveria todos os problemas da vida. Ledo engano.
Essa trapaça do nosso coração começa a ser
desmascarada quando olhamos sinceramente para a história. Via de regra, a maioria
dos problemas do onde estamos, não brotam do lugar em si, mas das pessoas. É verdade
que existem regiões inóspitas no mundo, mas todos os lugares humanamente
habitáveis no planeta têm problemas, mesmo aqueles considerados paradisíacos.
Isso demonstra que o problema maior não está meramente no “onde”, mas em “quem”.
Deus fez o homem “muito bom” (Gênesis 1.31), e o lugar
onde plantou um jardim para que este morasse chamava-se Éden, que quer dizer “delícia
ou prazer”. Neste lugar, Deus empregou o homem para cultivar e guardar o jardim
(Gênesis 2.15). Também lhe deu a mulher, sua auxiliadora necessária. Eis um
homem perfeito em um lugar perfeito, ambos criados pelo próprio Deus, que mais
poderia dar errado?
Alguém teria dito que foi aí onde o “trem descarrilhou”.
Mas para contrapor essa insensatez é bom lembrar o quão terrível é estar desempregado
e sozinho. As catástrofes da história humana não são na maior parte do tempo culpa
de nada, nem de ninguém além do próprio homem. Vejamos como as Escrituras nos provam
isso.
Deus institui uma aliança com o homem, na qual, diante
de tudo que já lhe havia concedido, lhe requeria tão somente a obediência
quanto a não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis
2.17). Um pouco antes, somos também informados da existência da árvore da vida plantada
no meio do jardim (Gênesis 2.9). Mais uma vez, alguém pode dizer que Deus não
precisava provar a obediência do homem, que isso foi algo mesquinho da parte do
Criador. Eu respondo a essa insensatez dizendo que na verdade Deus não
precisava sequer criar o homem, quanto mais cerca-lo de todas as delícias
imagináveis como o fez. Deus não tinha obrigação de nenhuma para com o homem,
mas, ainda assim, bondosamente, o fez habitar em lugar esplêndido, ocupado ao
lado daquela a quem declarou ser “osso dos seus ossos e carne de sua carne”. Deus
não devia nada ao homem, mas lhe concedeu tudo que desejamos até hoje. Quanto
pagaríamos por uma vida assim? Uma fruta poderia valer mais do que tudo isso?
O homem simplesmente devia obedecer a Deus, mas não o
fez. Achou-se mais digno que Ele. Pensou que o Criador não era, afinal de
contas, tão benevolente assim, pois tinha alguma “carta escondida na manga”
(não, não estou dizendo que a fruta em questão era uma manga). Apesar de
perfeito, o homem provou-se não tão perfeito quanto deveria ser. A
desobediência demonstrou que seu amor por Deus não era tão grande quanto a
estima exagerada por si mesmo. Desprezou tudo que o SENHOR Deus lhe havia
concedido em troca de uma ideia fixa de que podia ser feliz por seus próprios
caminhos (que na verdade eram os de Satanás). Tamanha traição não podia ficar
impune. Qualquer um de nós, traídos em condições semelhantes, dificilmente
perdoaríamos. A morte enquanto paga para o pecado não era nada mais do que o
justo.
Deus não deixou de executar o termo da aliança que
dizia que o pecado seria a ocasião da morte entrar em cena no mundo. Nós somos
aqueles que desde Adão criamos nossa própria destruição. Mesmo a própria
criação, outrora boa, encontra-se corrompida por causa do nosso pecado. Não há lugar
onde podemos esconder-nos de nós mesmos. E também não há lugar que possa escapar
da nossa presença devastadora. Somos pessoas imperfeitas em um lugar
imperfeito, o que poderia dar certo?
A história poderia ter terminado aí, com num final
trágico de uma crônica que começou perfeita. “Mas Deus, sendo rico em
misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou...” (Efésios 2.4) traz
uma reviravolta nesse enredo. Ao mesmo tempo que Ele fez cair sobre os homens e
a criação a maldição por causa do pecado, também anunciou que o descendente da
mulher é quem venceria o Diabo, aquele que “contrabandeou” a morte para o
Jardim do Éden (Gênesis 3.15, 17-18). Esse descendente da mulher é Jesus
(Gálatas 4.4), e para que a morte ocasionada pelo pecado fosse morta, Ele
morreu na cruz por nossos pecados. Ele sorveu a maldição da quebra da Aliança
feita com Adão, consumiu em sua carne a ira de Deus sobre os nossos pecados. E
ainda, em nosso lugar, foi perfeitamente obediente, como nosso pai Adão deveria
ser. O mesmo Deus que na Criação nos concedeu todas as coisas, agora, depois de
traído, na Redenção nos restaura todas as coisas e ainda mais. Quem poderia
amar como Ele?
Jesus disse “na casa de meu Pai há muitas moradas...”,
e que iria preparar-nos lugar (João 14.2). Agora, mais do antes no Jardim do Éden,
o SENHOR Deus nos prepara um lugar junto do Pai. Esse é o lugar que desejamos
no nosso mais íntimo, onde poderemos viver longe de todas as mazelas que nos
infernizam por dentro e por fora. Não encontraremos paz em uma praia
paradisíaca, ou em uma casa no campo. Não está em ninguém e em nenhum lugar
desse mundo o prazer que buscamos. Como quem sente saudade do que nunca
conheceu, Deus plantou no coração do homem o desejo pelo prazer nunca experimentado,
o verdadeiro prazer só pode ser descoberto quando provamos do fruto da árvore
da vida, que é Cristo. Desde o Princípio Ele estava lá para deixar claro que
nunca seria por nossos pais, ou por nós mesmos o caminho para a mais perfeita
comunhão com Deus. Essa árvore da vida que foi cercada depois da Queda, para
que o homem não tivesse vida eterna (Gênesis 3. 22-24) agora é novamente
acessível pela fé em Jesus Cristo.
Assim, uma vez aperfeiçoados naquele que é perfeito,
em um lugar perfeito, junto a outros que também foram aperfeiçoados, viveremos eternamente
no paraíso melhor do que aquele perdido por nossos pais. No novo céu e nova
terra (Apocalipse 21.1), temos o lugar que, preparado pelo SENHOR Deus, é
objeto do desejo do nosso coração pelo que é perfeito. Para chegar lá, o único caminho
é conhecido, chama-se Jesus, o Filho de Deus. Creia nele, e tenha a vida
eterna.