terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Deus enviou seu Filho para que fossemos feitos seus filhos


Nunca passei pelo constrangimento de entrar em uma festa como penetra. Penso que o mais triste num caso como esse é que o bicão vai a uma comemoração nessas condições ou não é conhecido do anfitrião, ou não é benquisto ali. O Natal é a festa que talvez mais acumule penetras em todo o mundo. Milhões de pessoas comemoram o nascimento do Filho de Deus, sem sequer o conhecer, quanto mais relacionar-se com ele.
Em Gálatas 4.1-7, Paulo argumentando contra a tendência judaizante que estava levando os crentes a retrocederem-se para Lei, como se esta os pudesse salvar (Atos 15.1,5). Paulo já havia dito que a Lei funcionou como uma prisão (3.23) e também como aio (pedagogo 3.24), pois sem Cristo, a mesma evidenciava o domínio do pecado, e ao mesmo tempo os conduzia a ele para a justificação. Agora, após identificar a descendência de Abraão pela fé, e também os chamar de herdeiros da promessa (3.29), o apóstolo chama a atenção para realidade deles enquanto menores que sob a tutela de um escravo que geria esta herança. A lei assim também, ante da graciosa vinda de Cristo, separava os herdeiros da promessa, fazendo-os assim como todos os demais viventes da terra. Foi tão somente pela vinda de Jesus que os filhos de Deus alcançaram a maior idade, podendo assim apropriar-se graciosamente da justiça de Deus para suas vidas.
Desta forma, conforme o texto de Gálatas, o nascimento de Jesus tem um impacto incomparável na história. Primeiro porque ele nasceu no tempo preparado por Deus – na plenitude dos tempos – conforme já havia sido anunciado desde o Antigo Testamento. A passagem de Daniel 2.20-45 talvez seja a que melhor expõe isso. O Deus que move os tempos, põe e depõe reis, Ele mesmo estabeleceu impérios que antecederiam a vinda daquele que como uma pedra cortada sem auxílio de mãos, iria fazer desmoronar todos os reinos anteriores e estabelecer o seu próprio, sem que nunca mais este tivesse fim.
Apesar de ser nascido de mulher, ou seja, ser homem, Jesus antes de tudo é Deus, pois é enviado por Deus. Ele sempre existiu, pois foi enviado por Deus, e ele também fez homem, pois nasceu de mulher. Assim, ele é o cumprimento de Genesis 3.15, quando se disse que o descendente de Eva esmagaria a cabeça da serpente, ainda que esta lhe ferisse o calcanhar. Jesus é Deus encarnado, que veio a esse mundo salvar o seu povo de seus pecados, e habitar conosco para sempre (Mateus 1.21,23).
Ele veio sob a lei, ainda que fosse o seu legislador. Foi posto debaixo da lei como seu devedor, mas nunca a transgrediu. Fez isso para remir os que se encontravam debaixo da maldição do pecado, morrendo a morte que não era sua, mas do seu povo que veio salvar.
Assim, somente por causa do irmão Jesus, é que os homens são adotados por Deus, e são reconhecidamente herdeiros da promessa. Para atestar isso, o Pai também enviou o Espírito de seu Filho, para que em seus corações se tornasse ainda mais manifesta a sua paternidade, pois clamam intimamente: Abba Pai. Estes já não são mais escravos, como os demais. Já não se encontra mais sob os rudimentos desse mundo, não são mais contados entres os escravos, mas são filhos, e tem parte em sua casa.
Só são convidados da festa aqueles que têm parte com o Filho. A herança que recebem em Cristo é a comunhão imperdível com Deus, que podemos também chamar de Vida Eterna. Os demais podem usufruir das benesses da vinda do Filho de Deus a esse mundo, mas não são contados como da família, nem são seus amigos. Como incontáveis penetras, podem até participar de toda a alegria e comemoração, mas não tem parte na herança e não são filhos de Deus.
Que o seu Natal seja não apenas uma festa, a mera comemoração de uma data no calendário junto aos amigos e familiares, mas seja antes de tudo a comunhão com o Filho e o com o Pai, e o gozo de sua herança para pela eternidade.

Nasceu Leon, nosso segundo filho.


Há exatamente duas semanas, no dia 10 de dezembro nasceu Leon Barros do Amaral Taques, nosso segundo filho. Nasceu forte como seu nome, que significa obviamente Leão. Os dias que se passaram desde então pareciam ter menos de 24 horas, mas sobrevivemos. Minha linda Candice está mais radiante quem nunca.

Sendo o segundo filho, muita coisa já não é novidade, mas, ainda assim, tudo que é novo é revestido de um amor maior, de um amor que se soma. Agora experimentamos a grandeza de amar dois filhos, e desejar que eles se amem. Se com Benício pude vislumbrar um pouco do amor de Deus por seus filhos, agora penso no amor que Ele deseja que seus filhos tenham uns pelos outros. Graças a Deus Benício tem demonstrado sempre carinho e cuidado para com seu irmãozinho.
Leon se parece muito com Benício em seus primeiros dias. Sei que serão diferentes quando crescerem, e até importa que seja assim. Mas sempre serão criados no mesmo amor, debaixo da graça do nosso único Senhor e Salvador. Desta sorte minha família cresce sob a benção de Deus, mantendo-se uma com Ele.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

A Suposta Dupla Inspiração de Paulo


É possível que alguém sustente ao mesmo tempo a autoridade das Escrituras enquanto regra de fé e prática, e a falibilidade de algumas passagens, supostamente marcadas pelo pensamento de seu autor? Seria racional uma doutrina da "Dupla Inspiração" na Bíblia? Isso é antagônico, mas para alguns parece aceitável.
Li recentemente um texto no blog de Sarah Sheeva,  filha de Baby Consuelo, onde se argumentava a favor do ministério pastoral feminino. Pior do que contrariar as Escrituras no que tange ao texto de 1 Timóteo 2.9-15, é a leitura que se faz de Paulo enquanto escritor inspirado. Desta forma, em conformidade com o Liberalismo, a fim de fazer a Bíblia falar o que é interessante para cada um, vale tudo, até jogar o autor contra si mesmo em algumas passagens. Já me deparei antes com esse tipo de leitura seletiva do apóstolo, e quero discorrer sobre ela em algumas passagens.
Na hermenêutica dessa turma, Paulo é inspirado quando fala algo que agrada a maioria, e retrógrado quando contraria o pensamento vigente desse século. No caso do ministério pastoral feminino, sua sustentabilidade acompanha a evolução social, tornando sua admissão um fruto do pós-modernismo. Hoje em dia é inaceitável que se diga "A mulher aprenda em silêncio, com toda submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio". Aceitável ou não, é o que está escrito há séculos, e para negar isso e extrair o que bem se quer do texto, é preciso uma manobra uma tanto quanto desonesta. Não tenho tempo aqui para me ater a cada texto sublinhado, mas quero apenas levantar a falta de coerência dos argumentos para com a doutrina da inspiração. Minha intenção aqui não é rechaçar biblicamente o ministério pastoral feminino, mas mostrar o quanto custa sustenta-lo com base em contradições bíblicas. Em um outro post posso fazer isso.
Paulo aqui é identificado pelos inimigos do texto como um refém dos seus dias. A cultura, tanto judaica como grega era avessa as mulheres, sempre as desqualificando e menosprezando. Isso é fato, sabemos que desde a queda o mundo é em sua maioria machista, e perverso para com as mulheres, mas não podemos admitir que um autor inspirado encontrava-se aqui reproduzindo um pensamento secular altamente maligno como esse. Paulo passa a ser contestado com outras passagens das Escrituras, como da criação em Gênesis, e também pelo trato que Jesus dispensou às mulheres. Os seus próprios textos são lançados contra si a partir de 1 Coríntios 11.5; Gálatas 3.28; Tito 2.3,4. É dito ainda, talvez para não desacreditá-lo ao extremo, que sua intenção não era contrariar o ensino de Jesus, mas apenas aconselhar de forma particular esse caso. Ou seja, não se tratava de doutrina, mas de um parecer pessoal que Paulo estaria dando sobre algo muito específico, sem qualquer valia maior para as demais igrejas.
Paulo escreve sim a luz das circunstâncias da Igreja de Éfeso, onde Timóteo pastoreava, mas tendo em mente a Criação e a Queda. "Porque, primeiro, foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão". Tanto a Criação quanto as circunstâncias da Queda nos apontam para uma ordem hierárquica na qual Deus criou e instituiu a relação macho e fêmea, sendo o primeiro o cabeça e a segunda sua auxiliadora idônea. Assim, Paulo não fala em nome do machismo vigente, e nem circunscrito a Éfeso, mas para toda  Igreja, pautado nas Escrituras.
Já vi argumento semelhante em Efésios 5.22-24, onde a submissão da mulher ao marido também é um ranço machista em Paulo. É incrível que quando em seguida o apóstolo diz aos maridos que amem suas esposas, para esses leitores seletores tudo passa a ficar bem. Ou seja, a submissão feminina é Paulo falando, o amor dos maridos é o Espírito falando. Seria como se o apóstolo se desprendesse da inspiração divina por alguns versículos, sendo logo em seguida resgatado. A visão de submissão proposta nesse tipo de leitura é conforme o mundo, e o amor dos maridos também. Para fazer esse tipo de manobra, despreza-se o padrão em Cristo e a Igreja, bem como a ideia de submissão mútua no verso 21.
Outro texto que conheço em Paulo é usado contra é em 1 Coríntios 8.4, onde se diz que "o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo, e que não há senão um só Deus". Por essa afirmação relacionada aos sacrifícios, fora dito que não existem demônios. Questionei trazendo a luz o texto seguinte de 10.20,21, onde Paulo fala sobre sacrifícios e associação com demônios, bem como seu cálice e mesa. Nessa mesma hora o apóstolo que antes havia negado "corretamente" a existência de demônios, tornou-se um refém das super tições daqueles dias. Ou seja, o apóstolo sofria de esquizofrenia, pois ao mesmo tempo que afirmava uma coisa, via outra. Paulo ali esta dizendo ao mesmo tempo que os ídolos que nada são de fato, e que nenhum direito tinham sobre a carne dos sacrifícios, eram na verdade demônios, em cuja associação os crentes em Coríntios não deviam se encontrar. Ou seja, as carnes sacrificas aos ídolos não tinham nenhum poder sobre os crentes, mas suas festas e ofertas, feitas regadas a banquetes e bebidas, não podiam fazer parte do expediente dos membros da Igreja.
Segundo essa hermenêutica do "bem me quer, mal me quer", Paulo não é um autor confiável. É preciso saber onde ele é inspirado, e onde ele é simplesmente um porta-voz de seus dias e suas tradições. Penso que se assim o fosse, certamente a passagem de Filipenses 3.1-9 também não poderia ser considerada verdadeira. Ele diz que não conservou seu currículo como hebreu, mas o considerou como refugo, algo a ser perdido, para ganhar Cristo. Paulo tinha diante de si a perfeição, cujo alvo é Jesus, na direção da qual ele corria. Seus escritos tinham essa proposta, não de confiar na sua própria carne, em sua experiência, mas na obra mediante da ressurreição em Cristo.
Assim, um problema maior se instaura quando um autor bíblico pode ser lido seletivamente. O liberalismo trata as Escrituras não como Palavra de Deus, mas como contendo a Palavra de Deus, e cabe ao leitor selecionar aquilo que lhe serve como tal. Como já disse anteriormente, ou a Bíblia é Palavra de Deus para nós, ou somos deuses para ela, e podemos assim dizer o que procede e o que não procede. Ou nos submetemos pronta e sinceramente a ela, com nossos corações dispostos a nos sujeitarmos a sua sabedoria, ou abraçamos o conhecimento deste século, e julgamos as Escrituras por seus critérios. Parafraseando Jesus: Não podemos ouvir dois senhores, ou nos submetemos a um e menosprezamos o outro, ou relativizamos tudo conforme o outro, desacreditando em um. Não se pode ouvir a Bíblia e ao mundo ao mesmo tempo. 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A sedução enganosa do medo


Recentemente assisti o filme "Invocação do Mal". Não consigo assistir um filme sem me ater às questões teológicas implícitas. Apesar de bastante aterrorizante, e baseado em fatos, este filme não esta entre os mais assustadores que assisti. O que me fez refletir sobre o filme, especialmente nas cenas de manifestações sobrenaturais, é como Satanás usa o medo como uma poderosa arma de sedução.
Neste filme, como em praticamente todos do gênero, manifestações sobrenaturais amedrontam as pessoas dentro e fora da tela. Em frente ao projetor, os espectadores tem a sensação de participar da história, mas apenas virtualmente. No mundo real, um caso de possessão demoníaca não seria acompanhado tão de perto por pessoas sentadas em uma poltrona confortável. O medo que sentem em segurança acaba convertido em diversão. Esse prazer quase masoquista corresponde a satisfação da curiosidade pelo sobrenatural, ainda que acompanhado de incredulidade por muitos.
O sobrenatural tem o poder de seduzir por fugir do é cotidiano. Desde os assombros mais suaves, aos mais violentos, a ideia que se tem é de que os demônios são poderosos, e podem desestruturar da vida de qualquer um. A questão é: Satanás tem todo esse poder de fato? Não sou cético quanto ao que Satanás pode fazer, quanto à manifestações sobrenaturais, e inclusive possessão demoníaca de pessoas não nascidas de novo. Mas a questão a que me refiro é se por trás de tudo que é demonstrado sobrenaturalmente se encontra um ser tão poderoso quanto aparenta.
Satanás mente até quando diz a verdade, e isso é visível em filmes de terror como esse. Muitas pessoas rejeitam a possibilidade de existência de seres espirituais como Satanás e seus demônios. Mas filmes como "Invocação do Mal", ou "O Exorcismo de Emily Rose", são baseados em relatos verídicos de acontecimentos que podem não ter explicação para céticos, mas que ainda assim não são fictícios. Assim, filmes como esses reafirmam a existência de seres sobrenaturais os quais denominamos Satanás e demônios. Mas ao mesmo tempo, conferem a essas entidades um poder quase invencível. As manifestações extraordinárias, ainda que aconteçam, fazem com que as pessoas pensem que se tratam de seres mais poderosos até mesmo que Deus, o qual, quando muito, não passa de mais um espectador nessas histórias. Assim, Satanás é apresentado acertadamente como um ser real e poderoso, mas falsamente como mais poderoso que o próprio Deus.
Esse primeiro engodo é seguido do segundo. Como Deus é completamente passivo nessas histórias, cabe ao homem combater com suas forças os poderes do mal. Satanás sempre é vencido pelo bem que supostamente existe nas pessoas, tal como o amor pela família, ou o de algum sacrifício próprio. Mesmo um ritual de exorcismo nada mais é que uma queda de braço entre o exorcista e o demônio. A ideia deísta de que Deus se ausentou do cenário do mundo permeia o pensamento destas obras cinematográficas. Tudo se resume a luta entre as forças sobrenaturais demoníacas e os sentimentos puros dos homens. No fim, os homens de bem vencem as forças do mal. Certamente essa mensagem também é agradável à platéia.
Mas a "verdadeira verdade" é muito diferente do que se apresenta em cena como essas. Deus realizou na história relatada nas Escrituras sinais muito mais extraordinários do que qualquer demônio de filme poderia encenar. Mas ainda assim, a manifestação mais poderosa já realizada se deu em uma circunstância considerada pelo mundo como sinal de fraqueza: A morte de Jesus na cruz. A Palavra diz que na cruz Jesus rasgou nosso escrito de dívida, e despojou principados e potestades expondo-os a vergonha (Colossenses 2.14,15). O que se quer dizer é que na cruz o Senhor triunfou não somente sobre Satanás e suas hostes, mas sobre o maior terror que pode abalar todo homem, a condenação na morte. Jesus venceu na cruz o terror do juízo eterna que o próprio Deus traria sobre os pecadores. Assim, o verdadeiro poder se encontra não em manifestações sobrenaturais, que ainda que possíveis, não devem nos causar temor. O verdadeiro poder se encontra em Jesus Cristo, que morreu, mas ressuscitou, e que tem as chaves da morte e do inferno em suas mãos (Apocalipse 1.18). É em seu trinfo que devemos crer e confiar, para que nenhuma manifestação satânica tire de nós a paz e seduza pelo medo.  

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Entre ser livre e escravo, e ser um escravo livre


É possível que uma pessoa livre seja escrava? Ou ainda, que um escravo seja livre? Apesar da antinomia, creio que a resposta é sim para ambas as questões. Assistindo ontem ao filme Serra Pelada pensei muito sobre tudo isso. Como uma pessoa livre pode se fazer escrava, e um escravo ser encontrado livre. Como de costume, não quero ser spoiler (alguém que conta o fim de um filme ou livro, um estraga prazer), e com isso me detenho apenas a sinopse do filme.
A trama é simples, dois amigos de infância saem de São Paulo no inicio da década de 80 e seguem para Serra Pelada. Um professor sem emprego, com a esposa grávida, e um fortão sem profissão. Ambos buscam o sonho dourado de ficarem ricos. Ambos se perdem nos barrancos de terra e ouro do maior garimpo a céu aberto que o mundo já conheceu.
O que me chamou atenção é como algo que deveria trazer liberdade pode fazer de alguém um escravo. Em tese, o ouro deveria tornar suas vidas melhores, mas não é o que aconteceu. Todo sonho cultivado vai por água abaixo quando se torna um fim em si mesmo. Como prometi, não falo mais nada sobre o filme a fim de não aborrecer ninguém. Vale a pena assistir não apenas pela obra em si, mas também porque é o retrato da terrível realidade, não só daqueles dias, mas de milhares de zonas de garimpo espalhadas no Brasil e no mundo.
Partindo para a alegorização desta obra (sim, podemos alegorizar um filme, mas não a Bíblia), vejo muitos barrancos de garimpos na vida das pessoas. Vejo gente que em busca de um sonho de tornar sua vida melhor, embrenhou-se em um grande pesadelo. Tornam-se escravos daquilo que supostamente lhes traria felicidade. Não vêem diante de si outra possibilidade que senão a de satisfazerem a si mesmos, ainda que isso lhes custe a própria vida. Como bem pontuou Reverendo Augustus Nicodemus sobre o texto de Romanos 1.18-32: o que buscam como prazer, Deus lhes concede como maldição.
Certa feita, falando de Jesus para uma prostituta, perguntei porque ela estava nessa vida. Ela respondeu que tinha sonhos de consumo; uma casa, carro, móveis. Disse-lhe que estava vendendo algo muito mais precioso para comprar coisas de tão pouco valor. Ou não é a vida mais que a comida, e o corpo mais que as roupas? (Mateus 6.25)
Mesmo pastores têm feito das igrejas verdadeiros barrancos de garimpo. Num desejo desenfreado de garantir-lhes a sobrevivência, escravizam outras pessoas e a si mesmos. Não lhes ocorre uma vida independente da igreja. Essa é uma frase tirada de seu contexto pode sugerir que estou dizendo que um pastor não tem direito ao salário, ou talvez que pode viver alheio ao rebanho. Nada disso! Quero dizer que a verdadeira dedicação ao rebanho do Senhor, é quando não fazemos da Igreja nossa tábua de salvação. É quando pastoreamos não por força, sórdida ganância ou por posse, mas por sujeição e submissão ao Senhor, nosso e da Igreja, na esperança de sua manifestação (1 Pedro 5.1-4).
Somente somos livres de fato quando por amor nos reconhecemos escravos de Cristo. Os escravos hebreus não podiam ser mantidos assim em Israel por mais de sete anos, a não ser que, por amor a seu senhor, deixassem sua orelha ser perfurada por uma sovela (Deuteronômio 15. 16,17). Pelo alto preço que Jesus pagou, é que uma pessoa é livre de fato, tendo sua orelha perfurada pelos pregos da cruz do Calvário. E se o próprio Filho de Deus, o Senhor do Universo, fez-se escravo quando veio a este mundo, quem sou eu para achar que posso me fazer livre?

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sobre a bebida alcoólica e a comunhão entre os irmãos

Na escola dominical do dia 22 de setembro, por razões que me foram apresentadas de maneira ríspida e afrontosa recentemente, decidi orientar pastoralmente a igreja onde sou ministro. Me fora dito que nossa igreja encontra-se dividia, e vivendo em pecado, e que por falta de percepção minha, ou em outras palavra, por complacência, é que isto estava acontecendo. Como sei que sou falho, ainda que isso não se justificasse os termos usados pela pessoa que me acusou, resolvi falar a igreja, de maneira panorâmica, sobre 1 Coríntios.
A relevância desta epístola do apóstolo Paulo aponta para a realidade de uma comunidade que, ainda que genuinamente cristã, conforme é descrita em seus primeiros versículos (v. 1-9), apresenta uma série de desvios de conduta moral, problemas doutrinários e partidarismo. É contrastante que palavras assim possam ser ditas de um mesmo grupo de pessoas. Mas não creio que isso seja exclusividade dos crentes de Corinto. Muitas igrejas podem ser descritas assim, e desta forma, se é verdade o que me fora dito, não podia excluir aquela a qual pastoreio a dez anos. Por isso conclui que uma abordagem de todos os problemas descritos ao longo da carta, focando principalmente na questão das divisões, seria salutar para a igreja se auto-avaliar.
Comecei falando sobre o partidarismo em torno de líderes, conforme Paulo descreve a partir do versículo 10 do primeiro capítulo até o quarto. Depois falei sobre o problema moral envolvendo o adultério de um homem com sua madrasta, e a falta de disciplina no capítulo cinco. Passei pelas questões seguintes que enfocava ainda disputa judicial entre irmãos e problemas com respeito a casamento. Cheguei ao capítulo oito, quando o apóstolo passa a tratar da questão do comer carne de animais sacrificados a ídolos, e que era motivo de escândalo entre alguns irmãos. Paulo trata disso até o capítulo dez, esboçando que ao mesmo tempo que o crentes são livres para comer qualquer tipo de alimento, eles não devem causar escândalo àqueles que não aceitam essa dieta. Também ao fim desta abordagem, Paulo deixa claro que essa liberdade de comer não deveria ser acompanhada da ideia de que participar das festas pagãs, onde os animais eram sacrificados, seria algo aceitável. Nesse ponto da exposição aos irmãos, a carne sacrificada transformou-se na questão relacionada a ingestão de bebida alcoólica, e um cenário talvez muito próximo daqueles dias na igreja de Corinto se formou nesse domingo.
Argumentei que a Bíblia em nenhum momento proíbe a ingestão de bebida alcoólica, mas sim a embriagues e o escândalo aos que não compreendem essa liberdade. A igreja se dividiu entre os que concordam, e aqueles que discordavam. O argumento predominante dos abstêmicos do álcool, era de que é praticamente impossível que alguém beba sem ficar bêbado. E também que era impossível beber sem ser pedra de tropeço para outros. Deixei claro que se beber era sinônimo de embriagues, Jesus teria sido um alcoólatra, como de fato o consideravam os de sua geração (Mateus 11.19). Mais triste ainda foi ouvir que ir a um bar era a mesma coisa que ir a um prostíbulo, equiparando a ingestão de bebida a prostituição.
O estudo não seguiu bem dai por diante, pois ainda que tenha passado pelos problemas seguintes na carta (mulheres insubmissas, irreverencia na santa ceia, soberba em torno dos dons e incredulidade quanto a ressurreição de mortos), tudo emperrou na questão da bebida. Por mais que explicasse que em si, beber bebida alcoólica não era pecado uma vez que a própria Escritura atesta seu uso não de forma condenatória em alguns textos (Salmo 104.15; Provérbios 9.5; Eclesiastes 9.7). É bem verdade que alguém possa até argumentar que o vinho é uma bebida permitida, mas que outras não. Isso seria um contrassenso, uma vez que o próprio vinho tem teor alcoólico maior que de outras bebidas. Mas há os que podem dizer que o vinho da Bíblia não passava de suco de uva, sendo essa mais uma falácia. Se fosse apensa suco de uva, não havia necessidade de advertências sobre os perigos de embriagues (Provérbios 23.20; Isaías 5.22). A própria ceia em Corinto estava sendo vilipendiada por pessoas que abusavam do vinho que era usado na ocasião (1 Coríntios 11.21).
Sei que a questão relacionada a bebida esta profundamente arraigada em nossa cultura evangélica herdada dos Estados Unidos do período da lei seca, e que por isso trata-se de algo impensável entre os crentes. Ouvi dizer que certa feita Francis Schaeffer observava o debate entre seus alunos sobre essa questão, e que notou que o problema maior era que os abstêmicos queriam convencer aqueles que bebiam a ser como eles, e assim a recíproca também era verdadeira. O grande dilema em tudo isso é perceber que as pessoas não estão preocupadas com o que a Bíblia diz, mas com o que serve para elas. Em nenhum momento disse que as pessoas devem beber pelo simples fato de que lhes é lícito. Em nenhum momento encorajei as pessoas a experimentarem bebida alcoólica. Mas procurei ser fiel as Escrituras, e nada acrescentar a ela como fardo. É nítido que o pecado da embriagues é condenável (1 Coríntios 6.10), assim como o tropeço (1 Coríntios 10.32). É sobre isso que devemos nos ater a fim de admoestarmos os irmãos, e não sobre o uso moderado de bebida alcoólica.
Apesar de não me arrepender do que ensinei, pois até então não fui convencido biblicamente do contrário, me entristeço com algumas pessoas que ainda encontram satisfação em ver a igreja dividida. O mal que procurei combater por meio da pastoral, manifestou-se entre alguns irmãos, de maneira que se não havia facções, surgiram. As divisões sempre ressaltam o que as pessoas acham de si. Tanto aqueles que se alinhavam a nomes, como aqueles que usavam os dons para sua própria exaltação, formam ao seu redor partidos que promovem a si mesmos, e não a Cristo. E se alguém se julga mais santo que outros, seja porque não bebe, ou mais entendido porque ser capaz de beber sem se embriagar, já com isso fragmentou a cruz que une a igreja.
A cruz que salva nos submete uns aos outros, e desta sorte por amor a Deus devemos buscar a unidade da Igreja. Não somos um estado democrático, não podemos causar essa unidade por qualquer tipo de conveniência dos que parece melhor a maioria, mas tão somente o Espírito de Deus pela sua Palavra é que nos une em amor. Assim sendo, que o Senhor da Igreja nos ajude a amá-lo acima de todas as coisas. Que a bebida não sirva de tropeço para os que dela fazem uso, e nem para os que não fazem. Se amamos ao Senhor, amamos ao nosso próximo, seja ele alguém abstêmico ou não.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Sobre a maldição das pirâmides do mundo moderno


Chega a ser irônico que os esquemas financeiros de ganho rápido e fácil sejam chamados de pirâmides. A designação para esse tipo de ascensão fraudulenta nos últimos tempos se dá por causa do recrutamento de pessoas, proporcionando uma progressão geométrica do tipo 1, 2, 4, 8, 16... e assim até a sua quebra. Ao meu ver, a ironia se dá pelo fato de que não apenas em seu aspecto matemático, mas também pelo aspecto histórico, estas pirâmides podem ser comparadas as do antigo Egito.
Nos dias dos faraós, pirâmides eram construídas por estes monarcas sob a pretensão de que seu reinado na terra se estendesse pela eternidade. Dentro destes majestosos sepulcros, não apenas o corpo do faraó morto era depositado, bem como todos os seus tesouros e ainda os ministros de seu governo, ainda vivos. Desta sorte, as pirâmides de hoje, tão suntuosas em suas promessas, nada mais são do que túmulos que cedo ou tarde engolirão tanto aos seus criadores, como seus associados.
Em uma matéria sobre a história de algumas pirâmides do século passado que li hoje, percebi o quão evidente é o desfecho sempre terrível reservado para todos os que se envolvem nelas. As histórias de faraós modernos como de Charles Ponzi, Maria Branca dos Santos e Bernad Madoff, revelam finais trágicos após anos de glória. Chega a ser um contraste praticamente certo, acrescendo as ironias do termo, pois poderíamos então falar também em uma maldição das pirâmides modernas.
Neste ponto, quando me refiro a maldição, não tenho em mente de forma alguma ao uso feito desta palavra pelo partido da Batalha Espiritual, que atribui a tudo uma ação demoníaca. Entendo por maldição aqui o fato de que Deus não deixar que essas pirâmides permaneçam por tanto tempo, para nos ensinar algo sobre o pecado que impulsiona esse comércio.
É obvio que o propulsor desse tipo de negócio é a ganância e ambição dos homens, como bem observou Álvaro Modernel no artigo que mencionei acima. O que está embutido nestes pecados é a insatisfação que o homem tem com o ganho do suor de seu rosto, e ao mesmo tempo o sentimento de que se achar merecedor de algo maior. Isto equivale a ingratidão e soberba, o que afronta ao Criador, uma vez que Ele graciosamente nos dá o pão (Salmo 127.2), apesar de nossa rebelião (Gênesis 3.17-19). Todo ganho fácil se dá pelo esforço de outra pessoa, e assim, no sistema de pirâmide, sempre alguém lucra de maneira ilícita sobre o suor do próximo (Provérbios 22.16).
Assim, os pecados se acumulam pela ganância, ambição, ingratidão, soberba e a opressão ao próximo. Um cristão que verdadeiramente espelha Cristo deve manter-se longe de tudo isso. O que Jesus ensinou e viveu nos dá uma diretriz completamente diferente do que os faraós e suas pirâmide proclama.
"pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos." 2 Coríntios 8.9
Deus Filho, Senhor do Universo, se fez homem na condição de servo, nos falando de um outro reino, muito diferente dos deste mundo. Ele nos mostrou que existe um outro tesouro, verdadeiro e eterno, diferente dos tesouros deste século. E saldando a nossa dívida, contraída por causa do pecado, satisfez a justiça de Deus Pai, restabelecendo a comunhão outrora perdida.
Em um certo sentido, e para não perder a viagem até aqui, podemos comparar todo esquema de pirâmide financeira as promessas de igrejas neopentecostais. Estes faraós dos púlpitos fabricam suntuosos palácios na terra, mas que são na verdade apenas sepulcros caiados. Pregando um outro cristo e um outro evangelho, agregam malditos que preferem atender aos sonhos de seus corações ao chamado de arrependimento e graça da Palavra de Deus. O fim dos construtores destas pirâmides eclesiásticas será ainda pior do que daquelas financeiras (Lucas 10.10-15).
Devemos nos satisfazer em Deus, que nos amou por intermédio de seu Filho, e nos deu o seu Espírito. Devemos ter como nosso tesouro o próprio Jesus, nele somos feitos os mais ricos sobre a terra, mas não deste mundo. E inconciliável nos agarramos as riquezas deste século e ao mesmo tempo as da eternidade. Isso não quer dizer que devemos cruzar nossos braços e não trabalharmos. Devemos em nosso labor encontrar a verdadeira satisfação não em um gordo salário que podemos receber, mas no fato de que nossa dívida foi paga pelo sangue do nosso Senhor na cruz e que por isso somos verdadeiramente prósperos. Somente assim somos salvos da maldição do pecado, evidenciado em pirâmides deste mundo, muito antes do Egito antigo e seus faraós.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A Manifestação do Reino dos Céus e o Justo Procedimento


Em Israel havia uma expectativa muito grande quanto a manifestação do reino de Deus. Os judeus viviam sob o domínio romano, pagavam pesados impostos, e viam sua terra santa pisada por gentios. Tudo isso era causa de profunda indignação e ódio. No Evangelho de Lucas, encontramos uma passagem onde os discípulos, como bons judeus, também encontravam-se ansiosos pela manifestação do reino, que pensavam ser imediata, tão logo Jesus chegasse a Jerusalém. Jesus responde a essa excitação com a Parábola da Dez Minas (19.11-27).
Assim, esta parábola objetivamente se aplica ao anseio pela manifestação do reino de Deus, sem a reflexão de seu tempo e custo. Nela um homem nobre distribui dez minas para seus dez servos, e depois se ausenta para tomar posse de um reino. Sua ordem para estes servos é de negociar as minas distribuídas até seu retorno. O texto nos fala daqueles que obedeceram suas ordens e destacada um outro que não. Os obedientes foram contemplados, o desobediente deixado sem nada. Este homem também sofreu oposição de alguns concidadãos, e sobre estes trouxe o rigor da pena capital.
A vinda de Cristo certamente deve causar nos cristãos grande anseio (Apocalipse 22.17,20). Mas por vezes esse anseio parece encontrar-se misturado com outras expectativas mais terrenas. Esse era a ideia que os judeus tinham da manifestação do reino de Deus, numa restauração monárquica de Israel, e sua libertação do domínio gentílico. A visão de um messias que lhes fartasse de pão (João 6.14,15), que se voltasse ao hic et nunc - o aqui e agora. Mesmo antes de Jesus subir ao céu, depois de sua morte e ressurreição, em Atos, alguns discípulos seus ainda estavam preocupados com a restauração de Israel (Atos 1.6). Jesus deixou claro que isso não era da conta deles, mas a proclamação de seu testemunho pelo poder do Espírito Santo (v. 7-8).
O reino de Cristo "já é, e ainda não". Seu reino já é presente desde sua primeira vinda a este mundo, sendo ele mesmo o próprio Reino (autobasiléia). A questão é que seu reino não é deste mundo (João 18.36), e não tem aparência visível (Lucas 17.20,21). Porém, chegará o dia em esse reino se manifestará plenamente, aos olhos de todos na vinda do seu Rei (Marcos 14.62). Todas as coisas serão refeitas, e sua justiça reinará para sempre.
Desta forma, nesse interregno, é nosso dever acima de todas as coisa "negociar" até que nosso Senhor volte (Lucas 19.13), e assim "apressarmos" sua vinda. O sinal de que realmente ansiamos o reino de Jesus é justamente a sujeição a sua ordem de testemunharmos dele. Não sabemos exatamente quando ele virá, mas sabemos que quando vier, pedirá conta da missão que foi confiada aos seus. Tudo o que sublima este anseio, numa euforia por coisas terrenas, pode significar que nosso coração não se encontra realmente nas coisas do alto, e que seu reino não é prioridade em nossas vidas. Se realmente queremos ver a manifestação gloriosa do Reino de Cristo, devemos atender a ele como se já tivesse sido instaurado. É assim que somos cidadão do reino, é assim que devemos nos portar. Ao guardar a mina do Senhor, e atender a outros compromissos, atesta-se contra si, quando se é chamado para servir ao Rei dos reis.
Israel foi restaurado como país quase dois mil anos depois destas palavras, mas ainda luta contra seus inimigos em seu próprio território. Ao longo de séculos, pessoas depositam seus corações em seus próprios reinos, imaginando um dia serem realmente livres. Devemos ter fome e sede de justiça, mas sabendo que seremos realmente fartos no reino que ainda virá. Sejam todas as coisa dele, por meio dele e para ele, eternamente, amém!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sobre as recentes manifestações


Tenho visto um certo entusiamos da parte de alguns Cristãos Protestantes com os recentes protestos feitos no Brasil, e até mesmo no mundo afora. É irônico, e posso ser acusado de incoerência por isso, mas não penso que os cristãos protestantes devem ser conhecidos assim por causa de protestos. Não é porque somos Protestantes que devemos nos prestamos a todo e qualquer protesto. Sei que é muito protesto e protestante para um parágrafo só, então vamos ao que quero dizer.
Primeiro, a razão histórica para sermos chamados Protestantes está relacionada a segunda Dieta Imperial Alemã de Speyer (1529), quando os nobres dissidiram do imperador Carlos V, quanto a revogação da primeira dieta (1526), retornando ao edito de Worms. Estes nobres, formalmente, por meio do que seria ao mesmo tempo uma objeção, um apelo e uma afirmação, buscaram acima de tudo a liberdade religiosa. A raiz histórica deste protesto, em Lutero, nasceu no ensino da Palavra, e posteriormente na afixação das 95 teses nas portas de Wittenberg. Isto foi necessário em razão do governo maligno da Igreja Católica naqueles dias, que não somente impossibilitava o conhecimento do Deus verdadeiro por meio de sua Palavra, como também iludia o povo com a possibilidade de se adquirir um terreno no céu por meio das indulgências. Assim, a essência da Reforma Protestante foi hermenêutica, ainda que os fatores políticos e sociais tenham se alinhado naqueles dias (leia-se "alinhados" como providência divina). Nas palavra de Lutero, a melhor descrição do que aconteceu naqueles dias:
Simplesmente ensinei, preguei, escrevi a Palavra de Deus; não fiz mais nada. E então, enquanto eu dormia, ou bebia cerveja em Wittenberg junto de meus amigos Philipe e Amsdorf, a Palavra enfraqueceu tão intensamente o papado que nenhum príncipe ou imperador jamais fez estrago assim. Não fiz nada, a Palavra fez tudo.
Mesmo naqueles dias, alguns movimentos extremos foram severamente repudiados pelos reformadores. Tanto a Guerra dos Camponeses, como a Reforma Radical, não representavam a natureza da proposta dos reformadores. O desejo desses grupos ultrapassava o que as Escriturar determinam a Igreja em sua relação com o Estado. Estes extremistas valiam-se da força e da violência para a instauração de um suposto reino na terra, o qual certamente não era o Reino dos Céus.
A Igreja tem o seu papel de profeta junto ao Estado. Tem o dever de proclamar a Palavra de Deus, denunciando os pecados, ou encorajando os governantes naquilo que é correto. Creio que cristão verdadeira deveriam envolver-se na política, pela vocação de servir ao Estado, de maneira justa e digna. É imprescindível destacar a condutas política de homens como de William Wilberforce e Abraham Kuyper. É esse o tipo de militância que deveria nos orientar, que têm uma eficácia maior que a empunhadura de cartazes e marchas de protesto.
Quanto aos dias atuais, devemos ter o zelo de atentarmos para o nascedouro destes protestos recentes. Eles não são espontâneos como alguns inocentemente acreditam. Eles são orquestrados por algum grupo, cujas identidade e intenção permanece nebulosa ainda. Estes anônimos, se dizem interessados no bem estar da população, posicionando-se contra a corrupção e outras mazelas sociais, mas que ainda não revelaram seus reais interesses. Pregam contra a impunidade de políticos corruptos, mas legislam em favor da impunidade quando exigem a soltura dos vândalos, saqueadores e depredadores do patrimônio público e privado presos pela polícia. Essa incoerência me faz questionar se realmente têm intenções justas., ou se querem usar a justiça em causas próprias.
Um último fator que destaco é a injusta acusação de alguns que entendem que aqueles que não protestam estão inertes e conformados com a situação. Imaginam marchar pelas ruas, com gritos de ordem, e que esta pressão popular sobre o governo, seja a solução dos problemas. Não me oponho a esse direito de protestar, de maneira pacífica obviamente. Mas penso que é de um reducionismo muito grande pensar que isso resolva alguma coisa, ou que seja indispensável algo dessa natureza. Como salientei anteriormente através de alguns nomes de alguns cristãos, penso que pessoas melhor organizadas e dispostas politicamente, têm, em uma conduta direita, melhores condições de prover melhorias para a sociedade. Protestar é um direito de todos, dentro dos protocolos exigidos para o bem estar geral. Contudo, protestar não chega a ser sempre um dever. É dever de todos agir de maneira justa e correta, e agindo assim, pelo menos os cristãos, vivendo e proclamando o Reino dos Céus, grandes transformações podem acontecer no reino da terra.  

sábado, 8 de junho de 2013

Prego Hoje em Apocalipse 13 - A disposição dos santos diante das Bestas


Introdução: 
Acho interessante os filmes que retratam temas apocalípticos, sejam de ordem sobrenatural (Advogado do Diabo), ou natural (O Dia depois de Amanhã), trazem sempre a perspectiva escapista e triunfante dos homens. Vende-se a ideia de que no fim o homem pode prevalecer sem Deus.
Sabemos que Apocalipse é um livro incomum em toda a Bíblia. Sua linguagem simbólica e seu deslocamento temporal podem causar grandes dificuldades em sua interpretação. Mas quando nos atemos à essência de sua mensagem, o entendimento de seu conteúdo torna-se mais simples. O livro fala sobre “A vitória de Cristo e seus santos, sobre Satanás e seus seguidores”. Todo o livro explora o cenário de Cristo triunfante na história, e os seus eleitos, que mesmo em meio a peleja, perseguição, sofrimento e morte, já venceram junto ao seu Senhor. Apesar de todas investidas do Dragão contra Cristo e sua Igreja, e da aparente segurança que suas hostes desfrutam, seu fim é sempre derrota e condenação.
Resumidamente podemos perceber duas grandes divisões do livro, e outras sete menores. A primeira divisão maior (1-11) esboça a luta externa entre Igreja e Mundo, a segunda (12-22) retrata essa realidade internamente, ou seja, Cristo versus Satanás. Esta é a quarta sessão menor (12-14), onde observamos a investida de Satanás contra Cristo, e posteriormente de seus auxiliares (as bestas e a prostituta) contra a igreja. Podemos até mesmo descrever cada capítulo sucintamente assim:
12 – Satanás avança contra Cristo, desde a Antiga Aliança. Não obtendo êxito, pois o Filho nasceu e reina ao lado do Pai, se lança contra a Igreja na Nova Aliança.13 – Os auxiliares do Dragão, a Besta do mar e a Besta da Terra, oprimem a Igreja.14 – O Filho traz redenção aos seus eleitos, e juízo sobre a terra e seus habitantes.
A temática escatológica foi deixada de lado de alguns anos pra cá. Até as últimas décadas do século XX (60-90), esse foi um assunto retratado intensamente nas igrejas. Muitos, apesar de uma perspectiva errônea de interpretação, demonstravam por outro lado grande zelo para com a volta de Jesus. É verdade que as circunstancias tais como guerras e a virada do milênio incitavam as pessoas a pensarem em uma eminente volta de Jesus, e por isso falarem mais a esse respeito. Mas hoje, pouco se fala a respeito da Parousia. O “avanço tecnológico” das estruturas eclesiásticas faz com que se pense muito mais no estabelecimento nessa terra, que na grande tribulação ou no arrebatamento final. Fala-se em visão para alcançar o mundo, fala-se em crescimento da igreja, e como estabelecer a supremacia evangélica sobre a sociedade, mas muito pouco sobre os céus e a terra entesourados para o fogo (2 Pedro 3.7). Sem sombra de dúvidas devemos trabalhar incessantemente na proclamação do evangelho, até porque esse é um dos sinais da volta de Jesus. Mas não podemos nos enganar pensando que estabeleceremos o seu Reino por conta própria.
É partindo dessa perspectiva sobre o avanço de Satanás contra igreja, que quero falar a respeito de nossa perseverança e fidelidade (v.10). Como disse, isso não anula todo emprenho que a Bíblia como um todo nos conclama a termos, mas nos faz entender que nada do que fazemos é por nós ou para nós mesmos. Que uma vez que Cristo milita por nós, ele também nos conclama em meio ao fogo provador e perseverarmos nele, quando não há muito que fazer.

Argumentação: 

I.                   Quem são os inimigos aqui descritos.
1.      O Dragão. Satanás é o Dragão, e não tendo êxito contra Cristo e sua Igreja (cap. 12), pôs-se sobre a areia do mar para conclamar seus auxiliares, que o representam neste mundo.

2.      A besta do mar.
A)    Este primeiro auxiliar do Dragão representa o poder político sobre o mundo. Sua descrição é horrível, de um monstro que incorpora vários reinos da terra (Daniel 7). É rápida, forte e mortal, como um leopardo, urso e leão. Tem diademas em seus chifres, ou seja, autoridade do Dragão, como o texto explicita mais a frente.
B)    O golpe mortal sofrido, e depois recuperado, possivelmente sinaliza a morte de Nero, o primeiro grande perseguidor romano, e depois o retorna da perseguição naqueles dias da parte de Domiciano. Mas podemos inferir também, nos dias finais, a grande perseguição que haverá da parte do Homem da Iniquidade (2 Tessalonicenses 2.4) trará de volta a ira de Satanás como antes de sua prisão (20.2,3,7-9).   
C)    Todo governo que se levanta sobre a terra, apregoando para si a condição de “Salvador da pátria”, fazendo pairar sobre si a áurea de benfeitor maior (como os imperadores de Roma), encarna a figura da besta do mar.
D)    Sua atuação durante 42 meses nos remete ao período em que não choveu em Israel, nos dias do profeta Elias (3 anos e meio). Esse período é o mesmo descrito agora no capítulo 12.14 (1 tempo, 2 tempos e metade de um tempo). Mesmo perseguida por Acabe, a igreja ali foi sustentada por Deus (1 Reis 17.4,9).
E)    Haverá um homem nos dias do fim, o anticristo como chama João (1 João 2.18), e Homem da Iniquidade, como declara Paulo. Este ainda não veio, mas certamente o seu espírito já paira sobre os governos da terra desde os dias do apóstolo. Seu propósito maior é imitar o Cristo, exigindo para si a adoração dos povos. Aqueles que o adoram, de todas as nações, não se encontram inscritos no Livro da Vida do Cordeiro, e portanto não fazem parte do numero dos eleitos. 

3.      A besta da terra.
a)      A besta da terra é subalterna a do mar, e serve como seu profeta e sacerdote. Sua função é religiosa e propagandista. A aparência desta besta não é tão amedrontadora como da primeira, mas sua missão é tão maligna quanto. Sua aparência mansa como cordeiro, contrasta com sua fala mortífera do dragão. Assim como a besta do mar recebe autoridade do Dragão, esta recebe dela a sua autoridade, e por isso estão todas associadas.
b)     Sua atuação, relacionada à fala (de dragão), é para engano e sedução dos povos (Apocalipse 20.3). Seus sinais extraordinários compelem os cidadãos da terra a adorarem a besta do mar, e consequentemente a morte dos santos. 
c)      Ela marca na testa e na mão direita os seus a fim de possam comprar e venderEm outras palavras, o sistema proposto por esse falso profeta restringe a vida comum (compra e venda) aos que dispõe sua mente e ações a favor da besta (Deuteronômio 6.8).
d)     Assim como o Espírito sela os eleitos em sua fronte, os réprobos são marcados (como gado) pela besta da terra. Esta marca 666 é número de homem, pois não chega a perfeição de Deus. O homem foi criado ao sexto dia, mas a obra completa de Deus finaliza-se no sétimo, com o seu descanso. Assim, essa marca indica que os seus portadores nunca chegarão a plenitude de seu propósito.
II.                Qual é o procedimento dos santos em meio a suas investidas.
Como já disse anteriormente, a perspectiva expressa em Apocalipse não significa passividade e inércia na vida cristã. O que é explorado no texto é como em Cristo, mesmo em perseguição e danos sofridos, os santos são preservados. Isso nos leva a algumas condutas de perseverança e fidelidade.
1.      Consciência das circunstancias.
a)      Diversas vezes o Senhor Jesus adverte seus discípulos em seu sermão escatológico de que não deviam deixar-se enganar. Satanás como pai da mentira, emprega em suas bestas toda arte de ilusão a respeitos dos fatos, pintando um cenário onde aparentemente são vitoriosos.
b)      Não podemos esquecer duas coisas: 1) Satanás e suas hostes, bem como os seus, foram sentenciados a derrota desde Gênesis 3.15, o que culminou em seu despojamento na cruz (Colossenses 2.15). 2) Todo ação maligna está sob o controle e propósito de Deus, em sua agenda escatológica, evidente na expressão “é necessário” (Mateus 24.6; Apocalipse 20.3). Nada acontece por domínio de Satanás, ainda que ele confira poder e autoridade as suas bestas, mas ele mesmo não tem poder de si mesmo.
2.      Fidelidade.
a)      Uma vez enganados os povos, são compelidos a adorarem a Besta. Aqueles que pela fé enxergam os sinais por trás de tudo isso, não se dobrará a sua imagem.
b)     Devemos vigiar e orar a fim de não sermos seduzidos pelos “benefícios” trazidos pela besta do mar, propagados pela da terra. Uma vez que nos sintamos em casa com respeito a este mundo, mirando apenas o que se refere a essa vida, mesmo pelejando por interesses que são legítimos, mas transitórios (Mateus 24.38), corremos o risco de nos encontrarmos adorando a sua imagem, desprezando os tesouros que se encontram no alto (Mateus 6.19).
3.      Perseverança.
a)      Nossa fidelidade pode custar nossas vidas. Mesmo hoje, e desde sempre, e menor grau, cristão são provados em sua perseverança. Proibidos de pregar o evangelho, muitos são perseguidos até a morte.
b)     Devemos estar prontos para sofrer o dano, seja da restrição de nossos direitos, como no caso da marca para comprar e vender, como de nossa própria morte. Quando o texto falar em ser levado a cativeiro, ou morto a espada (v.10), é porque essas coisas serão inevitáveis. Mas é justamente em suportá-las, e não em subjugá-las, que seremos encontrados fiéis e perseverantes.   
c)  Fato é que se não estamos dispostos a sofrer nenhum dano, é porque já nos deixamos seduzir e somos encontrados infiéis.

Conclusão.
Sabemos que a mensagem pode ser devastadora, e trazer terror para alguns, mas para os crentes verdadeiros não. Esta é a mensagem de que “em todas essas coisas somos mais que vencedores” (Romanos 8.37).
Se crermos verdadeiramente que Jesus venceu a morte na cruz, que ressuscitou e reina, devemos crer também que mesmo passando por tudo isso, e até a morte, triunfaremos. Devemos nos regozijar, pois ele está às portas para nos redimir.
O poder para reverter às coisas não está em nossas mãos, mas naqueles que foram cravadas de pregos, e que agora traz a foice para ceifar os seus, e guardá-los em seus celeiros, e ceifar os demais, pisando-os no largar de sua ira (14.14-20). 


sábado, 1 de junho de 2013

Graças sejam dadas a Deus. Graças procedem de Deus.

Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu?, isto é, para trazer do alto a Cristo; ou: Quem descerá ao abismo?, isto é, para levantar Cristo dentre os mortos. Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. [Romanos 10. 6-8]
A graça de Deus, sucintamente compreendida como favor recebido sem mérito algum do pecador, deve nos levar a outros dois pontos. Sendo uma dádiva recebida sem merecimento, somos lembrados de que devemos ser gratos por ela. Nossa gratidão não nos garante a graça (pois assim deixaria de ser graça), mas evidencia que ela chegou ao ponto que lhe foi proposto. A graça não visa simplesmente o pecador em suas necessidades triviais. A graça se presta a nos levar a Cristo, nos mostrando que somos indignos, e ao mesmo tempo, que só Ele é digno. Esta foi a gratidão demonstrada pelo leproso samaritano que voltou para adorar Jesus após ser curado (Lucas 17.16).
Somos humilhados por essa graça, pois nossa incapacidade é exposta. Mas essa mesma graça nos exalta, uma vez que somos também capacitados naquilo que antes nos era impossível, a obediência à Palavra. Era impossível agradar a Deus por causa do nosso pecado, mas graciosamente em Cristo, nos encontramos revestidos para tanto. A gratidão é expressa nessa obediência, para a glória tão somente de Deus. Assim somos exaltados não em nós mesmos, mas na condição de filhos de Deus, que andam segundo o seu conselho (Mateus 5.48).
Assim, mais dos que favores imerecidos, a graça nos propicia uma nova vida de gratidão e obediência àquele que é digno de toda honra e glória.

sábado, 25 de maio de 2013

Um cânon dentro do Cânon

Se as Escrituras não são Palavra de Deus para nós, somos deuses sobre elas.

Quando criança gostava de brincar com espelhos que sobrepostos refletiam minha imagem ad infinitum. É possível que um olhar assim possa ser lançado sobre as Escrituras, quando estas não são reconhecidas como regra de fé e prática sobre nossas vidas, ou, em outras palavras, não são a Palavra de Deus para nós.
O entendimento de que a Bíblia é palavra de Deus se dá pela fé. Podemos observar o seguinte:
Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações. (Confissão de Fé de Westminster 1.V).
Não se pode confundir o apreço que alguém pode ter com as Escrituras por suas qualidades, com a fé necessária para seu entendimento. Assim como alguns consideram Jesus um ser extraordinário, mas ainda assim um mero homem, consideram a Bíblia como um livro incomum, acima de todos os demais, todavia nada mais que um livro. Podem ressaltar qualidades estupendas, mas ainda assim desconhecem a natureza de sua autoridade. De fato a Bíblia é muito mais que um livro extraordinário, é a Palavra de Deus.
Para o Liberalismo clássico, ela esta repleta de erros, e não pode ser confiável em matéria do que fala acerca do sobrenatural. Ela tem seu valor moral em algumas partes, mas de acordo tão somente com o que representa a razão humana. É justamente ai que o Cânon bíblico é subtraído. Já não se reconhece mais a autoridade de muitos textos que compõe a lista de livros canônicos, em função de algo que se julga mais creditável que as Escrituras como um todo: o pensamento moderno. Todavia tal posicionamento lançou um olhar muito áspero sobre as Escrituras, e fez-se necessário uma palavra branda.
Os eventos do século XX, que culminaram na decepção sobre a razão humana, trouxeram o pensamento pós-moderno e a esperança de uma visão mais complacente da realidade. Logo, evocou-se em detrimento da razão o sentimento relativista de que a verdade pode ser mais que uma. O âmago da leitura bíblica deixa de ser o que Deus fala conosco, mas o que eu entendo daquela passagem. Os pentecostais em nome de superstições e misticismo, fogem muitas vezes do sentido verdadeiro do texto para justificarem suas experiências, isso quando não se afastam completamente em nome de alguma revelação extemporânea. Os neo-ortodoxos, seus irmãos mais intelectualizados, fogem em nome de uma experiência religiosa de cunho existencial, onde fala mais alto o que agrada o coração do ser caído, cheio de si e de suas questões últimas sobre a vida. Em ambos os casos, estes filhos do liberalismo não têm a coragem de negar diretamente a Bíblia, mas a substituem confiando em si mesmos, elegendo suas próprias verdades.
A leitura bíblica seletiva, onde alguns textos são de origem divina e outros profana, faz com que as pessoas se sintam verdadeiros editores do Espírito Santo. Chega a ser ridículo alguém afirmar que em Efésios 5.22 "mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos", Paulo escreve segundo o machismo de seus dias (como se até hoje o machismo não existisse), para logo em seguida, no verso 25 "vós, maridos, amai vossas mulheres", já se encontre em alinhamento com o Espírito. Ou seja, pensa-se que o Espírito inspirou parcialmente os autores bíblicos, pois ao mesmo tempo permitiu a inserção de muito material humano junto de sua Palavra. É necessário então mentes como a de Caio Fábio, integrada de maneira cósmica com Deus e a história, para se fazer uma edição do que é lei, e do que é graça (como se estes dois estivessem em contradição). O que acontece na verdade é que se as Escrituras não são a Palavra de Deus para nós, somos deuses sobre elas.
O que sei é que desde de que Deus criou o mundo, Ele tem se revelado ao homem pela sua Palavra. Que desde que chamou Moisés Ele tem feito com que homens santos registrassem infalivelmente sua Palavra (2 Pedro 1.21). Que apesar das traduções, o material que temos disposto para o conhecimento da Palavra de Deus, e isso já nos dias de Jesus e os apóstolos, são as Escrituras. Que em matéria de conteúdo, existência e influência, a Bíblia é maior que qualquer homem que já tenha vivido. E que aquele que não é um homem qualquer, mas o Filho do homem, Jesus Cristo, afirmou que são justamente as Escrituras que atestam a seu respeito (João 5.39). Portanto, quem são aqueles que se fazem juízes sobre a Bíblia quando o Supremo Juiz já deu o seu veredito sobre este mesmo livro? Refletindo sempre sobre suas almas, como em um espelho infinito, descobrem apenas o vazio, e querem igualmente esvaziar a Palavra de Deus das Escrituras. Ai deles, pois pesa sobre isso uma dura sentença  (Apocalipse 22.18,19).     


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Voltando a falar de Jó


Depois de quase quatro anos, volto a esse post como prometi ao fim primeiro. Além da soberania de Deus atestada sobre todas as coisas, no caso em especial, sobre Satanás, quero destacar outro aspecto interessante nas primeiras linhas desse livro. Em seu papel de acusador, Satanás traz a tona sua perspectiva "teológica" sobre em que se baseia um relacionamento com Deus.
Satanás é chamado para uma conversa pelo próprio Deus. É curioso o fato de Deus estar "interessado" no itinerário de Satanás, como se não soubesse todas as coisas. É certo que sua pergunta não foi motivada por falta de conhecimento, uma vez que Ele é onisciente. "De onde vem?" e "Observas-te meu servo Jó?" são perguntas que revelam as atividades de Satanás tanto em relação a criação de Deus, como também de suas criaturas. Deus sabe todas estas coisas, mas questiona a fim de que seja registrado que Satanás se ocupada delas. Mas, ainda mais interessante é quando na segunda pergunta, Deus diz que Jó é seu servo, que é incomum, íntegro e temente a Ele. Deus não somente revela a ação do diabo, mas também seus pensamentos íntimos, sua leitura das circunstâncias.
Ao ser instigado pelo curriculum de Jó, Satanás responde a Deus com uma outra pergunta em tom de acusação: "Porventura, Jó debalde teme a Deus?". Sendo acusador (Apocalipse 12.10), não perde tempo em lançar sobre Jó a sombra de uma pessoa interesseira, de que seu temor por Deus só existe em razão das bênçãos recebidas.
É curioso, mas se observamos um pouco, essa acusação casa perfeitamente com a Teologia da Prosperidade. Satanás salientou que o temor de Jó não era sem causa, mas por motivos egoístas. Que se lhe fossem tirados os bens com quais fora cercado, seu amor se tornaria em ódio e blasfêmia. Ou seja, no entendimento do diabo, Deus por si não significada grande coisa para Jó, a não ser quando acompanhado das riquezas que lhe foram conferidas.
Sistematicamente os pregadores da teologia da prosperidade tem propagado justamente essa base relacional entre o crente e Deus. Que se Deus não abençoar o indivíduo, ele não é digno de reverência alguma. Que Deus para ser Deus tem obrigação de prover riquezas para ser crido.
Deus "aceita" o que foi proposto por Satanás, para que se soubesse o que realmente estava no coração de Jó. Ele perdeu tudo, menos a vida e a esposa. Seus filhos, bens e saúde foram como que instantaneamente tirados, e ainda assim o servo de Deus não pecou com seu lábios. Sua mulher, quando só lhe restava a vida e tumores malignos por todo o corpo, sugeriu-lhe o fim de seu sofrimento com imprecações contra Deus. Mas ainda assim Jó preservou sua integridade.
Na opinião dos profetas da prosperidade, um Deus que tira o que deu, que concede o mal além do bem, não é digno de adoração. Mas Jó afirma o contrário. Mesmo sem saber do que se tratou entre Deus e Satanás, ele reconhecia que o Senhor em sua soberania tinha direito sobre sua vida e tudo que lhe havia conferido. Ainda que Satanás tenha sido o agente das moléstias que mudaram sua sorte, adorando a Deus, Jó ressalta o direito divino de fazer o que bem entendesse com sua vida.
Certamente devemos aprender com a experiência de Jó, de que Deus é soberano, e tem autoridade e direito sobre todas as coisas. Que em toda e qualquer circunstância Ele é digno de adoração. Mas se de fato amarmos a Deus tão somente pelas bênçãos recebidas, Satanás estará certo em nos acusar como fez com Jó. E também será certo que não seremos chamados por Deus de seus servos.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O Otimismo sobre o Pessimismo

Hardy Har Har - hiena pessimista

Dizem que um pessimista é um otimista experiente. Sei que parece um pensamento duro, intragável, mas pode-se ponderar sobre isso. Para dizer a verdade, nunca me vi como um ser otimista, na maioria das vezes sempre olhei para as coisas por uma perspectiva mais negativa. Mas, paradoxalmente, era mais otimista assim, por perceber depois que os fatos não eram tão ruins quanto aparentavam. Logo, minha questão não chega nem a querer ser otimista ou pessimista, mas admitir que as circunstancias ainda não são tão ruins quanto pode vir a ser. E, sendo assim, é bom salientar que a Palavra de Deus é quem diz que elas vão piorar. Contudo, não digo com isso que a Bíblia é pessimista.
A perspectiva escatológica até a volta de Jesus é de que o mundo caminha literalmente para a Grande Tribulação. Os sinais que antecedem a vinda do Senhor não são nem de longe animadores - falsos Cristos e profetas, guerras, terremotos, fomes, perseguição aos cristãos, escândalos, traições, ódio e iniquidade. Esses sinais, como ressalta Jesus, ainda não são o fim, mas apenas o princípio das dores (Mateus 24.3-13). Em outras palavras, estes dias não são tão ruins quanto ainda serão. O que virá após esses sinais é um tempo tão terrível como nunca antes e nem depois haverá (Mateus 24.21).
Isso pode parecer desesperador, imaginar que por pior que as circunstâncias já se encontram, elas se tornarão mais terríveis ainda. Mas, há um dado neste último versículo que já é alentador. Quando se diz "e nem haverá jamais" entendemos que esse tempo de tribulação ímpar não se estenderá perpetuamente. Encontra-se ai uma promessa de que por pior que seja a Grande Tribulação para a qual a humanidade caminha, ela será final para os crentes em Cristo, pois antecede a nossa redenção derradeira. Lucas 21.28 nos diz nesse mesmo contexto que devemos "exultar e erguer nossas cabeças, pois nossa redenção se aproxima." De fato, por piores que sejam as circunstâncias, hoje ou depois, temos uma Palavra de vitória de que o Cristo que ressuscitou voltará para buscar o seu povo, aqueles que nele esperam. Ele já venceu a morte, e disse que nos prepararia lugar junto ao Pai. Assim, apesar de sua aparente demora, devemos ter em mente o seu propósito para com os eleitos se cumprindo até sua vinda (2 Pedro 3.9).
Assim, ao invés de pessimistas, devemos estar certos e confiantes diante de tudo que se encontra em nosso derredor. O mal que tem se avolumado sobre o mundo não está solto, entregue a si. Sabendo que estas coisas já eram previstas pelo Senhor Jesus, de maneira que ninguém pode dizer-se pego de surpresa. E ainda, que todas estão sob o controle e o propósito de Deus, para anteceder a sua vinda.
Que Deus nos ajude!

sábado, 13 de abril de 2013

Um Caso de Simples Coerência - Homossexualismo e Pedofilia

"Um abismo chama outro abismo..." Salmo 42.7

Vivemos no cenário mundial uma profunda crise de valores morais, acentuadamente em relação a sexualidade. Práticas outrora segregadas ao mundo pagão, dos dias da Roma antiga, são cada vez mais reafirmadas como legítimas e dignas de aceitação popular. O homossexualismo, tão enaltecido por filósofos gregos, hoje conta com os mesmos argumentos de sustentação e os louros da aclamação do povo.
Já foi dito recentemente que os héteros tem esse "comportamento conservador" por uma simples convenção social, ou seja, por uma estabilidade familiar, ao passo que os homossexuais se lançam à paixão, em um tipo de verdeiro amor, por se relacionar com quem não se espera nenhum tipo de estabilidade social, mas tão somente o sentimento que se nutre um pelo outro. Ironica e incoerentemente, com essa fala, eles buscam junto ao Congresso, benefícios de uma relação amparada pela Constituição, a saber, o casamento, ou a recente união estável.
No passado, o pensamento de alguns filósofos era de que a relação entre um homem e uma mulher tinha apenas a função fisiológica de procriação, e que o verdadeiro amor se dava entre homens, posto que estes eram mais evoluídos e confiáveis entre si. A mulheres, segregadas nessa relação, buscavam consolo em relações igualmente homossexuais. Tudo muito parecido com os nossos dias.
Mas há um outro dado tenebroso daqueles tempos, que por enquanto ainda é passível de resistência de uma parte maior da população: a pedofilia. A iniciação de meninos na prática homossexual era algo igualmente aceitável na cultura da Roma antiga. Hoje, ainda existe uma certa resitência da sociedade quanto a pedofilia, uma vez que ultraja os valores tradicionais quanto a integridade das crianças. Mas a caminhada para se chegar a sua aceitação já começou à décadas, e vem se firmando às sombras dos movimentos homossexuais por intermédio de seus argumentos e alguns militantes. Uma simples leituras das descrições de associações como a NAMBLA - North American Man/Boy Love Association (Associação Americana pelo Amor entre Homens e Meninos), e a Martijn, já evidencia essa parceria entre homossexualismo e pedofilia, tanto quanto a seus representates e argumentos, como em seus alvos.
O código de ética proposto pela Martijn nega qualquer intenção de abuso, enumerando quatro regras que devem norter a relação entre adultos e menores. Tais regras e a proposta de não haver abuso é um grande embuste filosófico. Ao considerar que o abuso seria apenas de natureza física, perde-se de idéia que o ser humano é constituido com algo mais que o seu corpo. Mas antes, me proponho a analisar as regras para depois voltar a esse ponto.
  1. O consentimento da criança é uma falácia, uma vez que ela não tem discernimento suficiente para julgar seus próprios atos e respectivas consequências.
  2. A abertura para os pais pressupões pessoas igualmente sucetíveis a esse tipo de prática descabida. Nesse caso, nada mais natural entre estes, uma vez que o incesto está altamente relacionado a pedofilia.
  3. A suposta liberdade de uma criança para sair da relação é tão faláciosa quanto a idéia de consensualidade da primeira regra, ou seja, uma vez aliciada, dificilmente a criança se retira da relação.
  4. Não tenho certeza quanto a última regra, "harmonia com o desenvolvimento da criança", mas tenho a impressão que diz respeito as limitações físicas, e de supostamente respeitá-las. Quanto a este último, volto a minha premissa maior, não se trata de mero abuso físico, mas igual e necessariamente psicológico.
O ser humano como um todo, precisa tanto da proteção de seu corpo, como também de sua alma. Ainda que de maneira consensual, uma criança não tem discernimento das consequências físicas e psicológicas que envolvem uma relação sexual. Seu corpo não está pronto para isso, ainda que dê sinais de aptidão sexual. Ela não têm estrutura social para arcar com suas escolhas, e por isso também deve ser tolhida de qualquer envolvimento nesse sentido.
Os argumentos com respeito a liberdade que uma pessoa tem, de fazer com seu corpo o quem bem entender, junto de outra pessoa, ainda que do mesmo sexo, atende em pariedade ao apelo para que adultos e crianças tenham liberdade consensual de relacionarem-se. Não se trata exatamente da mesma coisa, uma vez que adultos tem, em tese, condições de julgar entre o certo e o errado, e ao mesmo tempo responsabilidade sobre suas escolhas. Mas, ainda assim, partindo do parâmetro do Criador, nenhum deles têm liberdade para fazer o que bem quiserem de si, e que agindo assim, contrarios a criação, escolhendo pelo que é errado, sofrerão o devido dano por isso. Nem homossexuais e nem pedófilos estão livres para fazer o que bem entendem. Ninguém está livre para isso. Pelo contrário, são escravos do pecado nessas condições. Suas escolhas são e estão pautadas em seu estado de depravação moral, rebelados contra Deus, e que portanto deverão prestar contas a Eles.
Já disse anteriormente que nem todo homossexual é pedófilo, e que nem toda pedofilia é homossexual. Casos de pedófilos, homens ou mulheres, que abusam de crianças de outro sexo não pode ser posto na conta do homossexualismo. Mas homossexualismo e pedofilia estão intimamente associados em seus representantes e ideias, bem na maioria de suas práticas. Seus argumentos servem as suas causas diante da sociedade, a saber, a liberdade a e a consensualidade de se fazer com o próprio corpo o que bem entender. É só uma questão de tempo para que a pedofilia saia do armario.