domingo, 29 de março de 2020

Deus Santo e Amoroso

Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos
(Efésios 2.4,5)
“Tudo que você precisa é amor” já dizia exaustivamente a música dos Beatles. Aparentemente é mais fácil falar de amor. Amor é um tema quase sempre agradável de se tratar. É algo que todos desejam, estimam. É automático para muitos dizer que a solução para o mundo é mais amor, ou simplesmente amor ao próximo.
Mas amor, meramente amor, não é a resposta. C. S. Lewis já disse que “Deus é amor, mas o amor não é Deus”. Amor não é um ser, uma entidade ou uma substância que pode ser absorvida pelos homens como um tipo de vacina contra todo o mal. À parte de Deus, o amor é um dos maiores males que existe na face da terra. Somente em Cristo é que temos o verdadeiro amor poderoso para resgatar os homens da sua condição de miséria espiritual.
      1. Qualquer maneira de amor vale a pena?
a)     Paula e Bebeto é uma música muito bonita de Milton Nascimento, escrita sobre a separação de um casal de amigos nos anos 70. Mas estética musical à parte, a questão é que podemos colocar é: qualquer maneira de amar é amor de fato? É valido e aceitável por simplesmente ser chamado de amor?
b)      João nos diz que existe um amor que não vale a pena, que é inaceitável e proibido por Deus: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2.15). Esse amor pelo mundo e suas coisas (concupiscência da carne e dos olhos, e a soberba da vida – v. 16) é o tipo de amor que não vale a pena nem o canto.
c)      O que não falta é amor na humanidade. Mas esse amor é tão deteriorado do seu valor essencial – entregar-se – que sequer é reconhecido assim. As pessoas se amam antes de tudo, e, consequentemente, amam tudo o que pode lhes trazer benefícios. Esse amor, quando tem alguma “entrega”, não o faz sem algum “retorno”.
d)      É por conta desse tipo de amor que o mundo se encontra tão minado do que é verdadeiramente amor. Esse tipo de amor mundano é um amor pobre, miserável, em todos os sentidos. Mesquinho que volta tudo para si. Somente o amor de Deus é rico e benevolente de verdade.
       2. O amor que valeu a Pena.
a)      Essa expressão “valer a pena” tão usada, mas pouco refletida, encaixa-se perfeitamente no amor de Deus. Valer a pena significa compensar o dano, a perda, a condenação se sofre em razão de um ato. Por isso o amor de Deus é santo, pois somente ele compensou verdadeiramente o dano que sofreu. Mas vamos começar a falar sobre esse amor por sua entrega.
b)      O versículo mais conhecido da Bíblia nos diz exatamente isso “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). O amor de Deus constitui-se basicamente de uma entrega. Ele entregou seu Filho, seu Unigênito a quem Ele ama. Essa entrega não tinha para si mesmo nenhum ganho pessoal, nenhum retorno de algo que lhe faltava. Ele entregou seu Filho para nosso ganho, para ganharmos a Vida Eterna, evitando a perdição eterna.
c)      Em Efésios 2.4, Paulo também diz a mesma coisa quando nos fala que Deus “sendo rico em misericórdia, por causa do seu grande amor com que nos amou... nos deu vida”. Mais uma vez o amor é uma entrega. Primeiro a entrega do Filho, segundo, e com Ele (nele) a entrega da Vida. O amor de Deus nos deu vida eterna, mas a que custo? Ao custo da própria vida de seu Filho.
d)      Ainda em João, o próprio Jesus disse “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (João 15.13). Mais uma vez o amor é associado a dar, entregar, sem retorno previsto. E afinal, o que podemos receber em troca de uma vida? Por outro lado: o que compensa a morte?
      3. Deus é amor.
a)      João (quase sempre ele) nos diz que quem “ama é nascido de Deus e conhece a Deus, pois o amor procede de Deus” (1 João 4.7). Só conhecemos o amor verdadeiro quando somos achados por esse amor. Só amamos de verdade, quando descobrimos o grande amor com que Deus nos amou.
b)      Esse é o amor que transcende sentimentos, ou ações egoístas. Esse é o amor que não se encontra no mundo. Esse é o amor que vale a pena.
c)      O amor do Pai e do Filho valeu a pena, não foi em vão. Jesus ressuscitou. Esse é o amor santo, incomparável e maravilhoso. Esse é o amor que nos dá mais do que o sentido para a vida, nos dá a própria Vida.
Conclusão:
            Creio que devo concordar em parte com a música dos Beatles que diz “tudo que nós precisamos é amor”. Mas a pergunta é: de que amor estamos falando?
            Qualquer outro amor nesse mundo, não é somente passageiro, é mal. No fim trará mais do que desilusão, traz destruição.
Precisamos do amor de Deus, em Cristo, que por nós se entregou, e com Ele, nos deu Vida. Esse é o amor que também nos faz amar. É aquele que se entrega, e que nos capacita a fazer o mesmo.
     



domingo, 22 de março de 2020

Deus Santo e Irado

A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça" Romanos 1.18


II.   
Ao longo da História, em tempos mais remotos, Deus era mais comumente retratado como um Deus irado. A visão que Lutero tinha de Deus, de um Deus punitivo, com o pavor que lhe causava, fazia com que se penitenciasse a fim de aplacar sua ira. Jonathan Edwards pregou seu famoso sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado” nos tempos de avivamento do século 18. Contudo, a partir do século 19, essa perspectiva mudou radicalmente. Os homens já não eram mais “tão pecadores”, e Deus, por sua vez, já não estaria “tão irado”. Por que, e o que mudou?
Primeiro faz-se necessários considerar a visão Teológica Liberal sobre Deus e o homemO liberalismo teológico propagado a partir do século 19, buscou esvaziar as Escrituras de tudo que pudesse ser considerado sobrenatural. Toda e qualquer ação divina na história, seja pela Providência, ou mesmo através de milagres, passaram a ser creditados como mitos criados a fim de causar nos leitores uma certa apreensão. O trabalho dos teólogos naqueles dias era desmistificar o texto bíblico “recheado de lendas” escritas para uma sociedade “primitiva” (perspectiva que já refletia uma cosmovisão evolucionista).
Segundo essa perspectiva, a humanidade havia evoluído, e o pensamento iluminista insistia que o homem, cheio da razão, não tinha mais necessidade de “contos da carochinha”. E como toda evolução, em tese, é para o bem, homens bons não precisavam se preocupar com a ira de Deus. A Bíblia passou a ser apenas um gigante manual da boa conduta.
O pensamento liberal permeia a mente de todos os que acham que não são tão maus, e que por isso, Deus, não tem o direito de se irar conosco, ou com a humanidade. A “fé na humanidade” é uma afirmação bastante difundida diante de grandes ou pequenos gestos de solidariedade. Mas, o que na verdade afirma-se nessa fé é a suficiência do homem em detrimento da Santidade de Deus.
Em suma: O homem não é tão mau, ele pode sempre melhorar. E Deus, que não é o único ser bom, não tem razão para se irar, apenas precisa ser mais paciente.
Mas qual é a visão bíblica de Deus e do homem?
Romanos 1.18 nos diz que Deus revela sua ira. Mas nos versículos 16 e 17, Paulo já havia dito que o “evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” e que “a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé”. Antes de entrar na ira de Deus, por assim dizer, Paulo anunciou o evangelho do poder da salvação dos homens, mediante a justiça revelada e recebida pela fé.
O que está implícito aqui, e explícito em outras passagens bíblicas, é que o homem é pecador, está perdido, condenado, morto em seus delitos e pecados. Nessas condições o homem não pode salvar-se a si mesmo. O único que pode salvá-lo é justamente aquele contra quem ele pecou: Deus. E é aí que podemos observar a grandeza de Deus em sua graça, pois justamente Ele quem sofreu a ofensa é quem oferece redenção para o ofensor.
Tamanha bondade imerecida é chamada de graça. E por ser assim tão “incrível”, é que só pode ser recebida pela fé, ou seja, a pura e simples confiança exclusiva em Deus e em seu caráter bondoso. 
Mas se Deus é assim tão bom, ainda há espaço para a ira? É justamente por isso que a visão bíblica da ira de Deus contra os homens se sustenta.
Tome como ponto de partida o que diz Isaías. Na mesma profecia que diz “vinde como estais”, também diz “deixe o perverso o perverso o seu caminho, e o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor” (Isaías 55.1,7). O Evangelho é o poder de Deus para a salvação daqueles que “não têm dinheiro para comprar o que comer”. O homem “espiritualmente negativado”, falido no pecado, é convidado para a mesa do Senhor a quem ele deve literalmente até a alma. O mesmo chamado que admite que o homem não pode se salvar, diz que seus caminhos devem ser endireitados. Isso só é possível pela fé na obra do Salvador.
Esse evangelho que é poder para a salvação, é um convite gracioso do Santo Deus criador dos céus e da terra. Rejeitar esse convite implica não meramente em uma falta de etiqueta, mas em pecado. O pecador é pior do que um cão que morde a mão do seu dono que o alimenta. A ingratidão nesse caso é dobrada em função do fato de que o homem já era devedor. O homem, uma vez convidado ao arrependimento para que sua dívida fosse cancelada, que procede com soberba, não pode esperar nada além da ira de Deus.
Essa ira de Deus é, portanto, santa e justa. (1) Santa não apenas porque procede daquele que é moralmente perfeito, mas também porque procede daquele que não é como ninguém mais. Não podemos comparar a ira de Deus com a nossa, pois Ele está acima de tudo e de todos, e não está sujeito às contingências do tempo e do espaço. (2) Ela é também justa porque não procede de um capricho, ou é desproporcional a sua causa. A ira de Deus não é uma irritação ou um incômodo, mas a manifestação de um julgamento perfeito, e, portanto, proporcional sobre o pecado dos homens.
O que concluímos disso tudo?
Não podemos negar a manifestação da ira de Deus sobre a humanidade ao longo da história. Assim como nas Escrituras constatamos que guerras, fomes, pestes e outras tragédias naturais são creditadas à Deus, também devemos entender que esse mesmo Deus continua sendo o mesmo.
Mas antes de observamos a ira de Deus, devemos atentar para o fato de que Deus, mesmo sendo ofendido pelo nosso pecado, enviou seu Filho para pagar o preço dessa ofensa, com seu sangue na cruz. Esse é o evangelho que salva, que só pode ser recebido pela fé, porque nada em nós pode nos creditar diante de Deus. 
Deus ao longo da história manifesta sua ira, pois ele não pode deixar o pecado impune. Um Deus bom e santo certamente tomará vingança contra seus ofensores, especialmente aqueles que desprezaram o sacrifício do seu Filho na cruz. 
Mas a ira final ainda está para ser derramada. Antes que isso aconteça, o evangelho nos chama a fé e ao arrependimento, ou seja, a confiança na bondade de Deus, e ao abandono das nossas obras más que tanto ofendem aquele que é Santo.
Que Deus nos ajude!