Introdução:
Acho interessante os filmes que retratam temas apocalípticos, sejam de
ordem sobrenatural (Advogado do Diabo), ou natural (O Dia depois de Amanhã),
trazem sempre a perspectiva escapista e triunfante dos homens. Vende-se a ideia
de que no fim o homem pode prevalecer sem Deus.
Sabemos que Apocalipse é um livro incomum em toda a Bíblia. Sua
linguagem simbólica e seu deslocamento temporal podem causar grandes
dificuldades em sua interpretação. Mas quando nos atemos à essência de sua
mensagem, o entendimento de seu conteúdo torna-se mais simples. O livro fala
sobre “A vitória de Cristo e seus santos, sobre Satanás e seus seguidores”.
Todo o livro explora o cenário de Cristo triunfante na história, e os seus
eleitos, que mesmo em meio a peleja, perseguição, sofrimento e morte, já
venceram junto ao seu Senhor. Apesar de todas investidas do Dragão contra
Cristo e sua Igreja, e da aparente segurança que suas hostes desfrutam, seu fim
é sempre derrota e condenação.
Resumidamente
podemos perceber duas grandes divisões do livro, e outras sete menores. A primeira divisão maior (1-11) esboça a luta externa entre Igreja e Mundo, a segunda (12-22) retrata
essa realidade internamente, ou seja, Cristo versus Satanás. Esta é a quarta
sessão menor (12-14), onde observamos a investida de Satanás contra Cristo, e
posteriormente de seus auxiliares (as bestas e a prostituta) contra a igreja.
Podemos até mesmo descrever cada capítulo sucintamente assim:
12 – Satanás avança contra Cristo, desde a Antiga Aliança. Não obtendo êxito, pois o Filho nasceu e reina ao lado do Pai, se lança contra a Igreja na Nova Aliança.13 – Os auxiliares do Dragão, a Besta do mar e a Besta da Terra, oprimem a Igreja.14 – O Filho traz redenção aos seus eleitos, e juízo sobre a terra e seus habitantes.
A temática escatológica foi deixada de lado de
alguns anos pra cá. Até as últimas décadas do século XX (60-90), esse foi um
assunto retratado intensamente nas igrejas. Muitos, apesar de uma perspectiva
errônea de interpretação, demonstravam por outro lado grande zelo para com a
volta de Jesus. É verdade que as circunstancias tais como guerras e a virada do
milênio incitavam as pessoas a pensarem em uma eminente volta de Jesus, e por
isso falarem mais a esse respeito. Mas hoje, pouco se fala a respeito da
Parousia. O “avanço tecnológico” das estruturas eclesiásticas faz com que se
pense muito mais no estabelecimento nessa terra, que na grande tribulação ou no
arrebatamento final. Fala-se em visão para alcançar o mundo, fala-se em crescimento
da igreja, e como estabelecer a supremacia evangélica sobre a sociedade, mas
muito pouco sobre os céus e a terra entesourados para o fogo (2 Pedro 3.7). Sem
sombra de dúvidas devemos trabalhar incessantemente na proclamação do
evangelho, até porque esse é um dos sinais da volta de Jesus. Mas não podemos
nos enganar pensando que estabeleceremos o seu Reino por conta própria.
É
partindo dessa perspectiva sobre o avanço de Satanás contra igreja, que quero
falar a respeito de nossa perseverança e fidelidade (v.10). Como disse, isso
não anula todo emprenho que a Bíblia como um todo nos conclama a termos, mas nos
faz entender que nada do que fazemos é por nós ou para nós mesmos. Que uma vez
que Cristo milita por nós, ele também nos conclama em meio ao fogo provador e
perseverarmos nele, quando não há muito que fazer.
Argumentação:
I.
Quem são os inimigos aqui descritos.
1.
O Dragão. Satanás
é o Dragão, e não tendo êxito contra Cristo e sua Igreja (cap. 12), pôs-se
sobre a areia do mar para conclamar seus auxiliares, que o representam neste
mundo.
2.
A besta do mar.
A)
Este primeiro
auxiliar do Dragão representa o poder político sobre o mundo. Sua descrição é
horrível, de um monstro que incorpora vários reinos da terra (Daniel 7). É rápida,
forte e mortal, como um leopardo, urso e leão. Tem diademas em seus chifres, ou
seja, autoridade do Dragão, como o texto explicita mais a frente.
B)
O golpe mortal
sofrido, e depois recuperado, possivelmente sinaliza a morte de Nero, o
primeiro grande perseguidor romano, e depois o retorna da perseguição naqueles
dias da parte de Domiciano. Mas podemos inferir também, nos dias finais, a
grande perseguição que haverá da parte do Homem da Iniquidade (2 Tessalonicenses 2.4) trará
de volta a ira de Satanás como antes de sua prisão (20.2,3,7-9).
C)
Todo governo que
se levanta sobre a terra, apregoando para si a condição de “Salvador da
pátria”, fazendo pairar sobre si a áurea de benfeitor maior (como os
imperadores de Roma), encarna a figura da besta do mar.
D)
Sua atuação
durante 42 meses nos remete ao período em que não choveu em Israel, nos dias do
profeta Elias (3 anos e meio). Esse período é o mesmo descrito agora no
capítulo 12.14 (1 tempo, 2 tempos e metade de um tempo). Mesmo perseguida por
Acabe, a igreja ali foi sustentada por Deus (1 Reis 17.4,9).
E)
Haverá um homem
nos dias do fim, o anticristo como chama João (1 João 2.18), e Homem da
Iniquidade, como declara Paulo. Este ainda não veio, mas certamente o seu
espírito já paira sobre os governos da terra desde os dias do apóstolo. Seu
propósito maior é imitar o Cristo, exigindo para si a adoração dos povos.
Aqueles que o adoram, de todas as nações, não se encontram inscritos no Livro
da Vida do Cordeiro, e portanto não fazem parte do numero dos eleitos.
3.
A besta da terra.
a)
A besta da terra
é subalterna a do mar, e serve como seu profeta e sacerdote. Sua função é
religiosa e propagandista. A aparência desta besta não é tão amedrontadora como
da primeira, mas sua missão é tão maligna quanto. Sua
aparência mansa como cordeiro, contrasta com sua fala mortífera do dragão.
Assim como a besta do mar recebe autoridade do Dragão, esta recebe dela a sua
autoridade, e por isso estão todas associadas.
b)
Sua atuação,
relacionada à fala (de dragão), é para engano e sedução dos povos (Apocalipse 20.3).
Seus sinais extraordinários compelem os cidadãos da terra a adorarem a besta do
mar, e consequentemente a morte dos santos.
c)
Ela marca na
testa e na mão direita os seus a fim de possam comprar e vender. Em outras
palavras, o sistema proposto por esse falso profeta restringe a vida comum
(compra e venda) aos que dispõe sua mente e ações a favor da besta (Deuteronômio 6.8).
d)
Assim como o
Espírito sela os eleitos em sua fronte, os réprobos são marcados (como gado)
pela besta da terra. Esta marca 666 é número de homem, pois não chega a
perfeição de Deus. O homem foi criado ao sexto dia, mas a obra completa de Deus
finaliza-se no sétimo, com o seu descanso. Assim, essa marca indica que os seus
portadores nunca chegarão a plenitude de seu propósito.
II.
Qual é o procedimento dos santos em meio a suas
investidas.
Como já disse anteriormente, a perspectiva expressa
em Apocalipse não significa passividade e inércia na vida cristã. O que é
explorado no texto é como em Cristo, mesmo em perseguição e danos sofridos, os
santos são preservados. Isso nos leva a algumas condutas de perseverança e
fidelidade.
1.
Consciência das circunstancias.
a)
Diversas vezes o
Senhor Jesus adverte seus discípulos em seu sermão escatológico de que não
deviam deixar-se enganar. Satanás como pai da mentira, emprega em suas bestas
toda arte de ilusão a respeitos dos fatos, pintando um cenário onde
aparentemente são vitoriosos.
b)
Não podemos
esquecer duas coisas: 1) Satanás e suas hostes, bem como os seus, foram
sentenciados a derrota desde Gênesis 3.15, o que culminou em seu despojamento
na cruz (Colossenses 2.15). 2) Todo ação maligna está sob o controle e propósito de
Deus, em sua agenda escatológica, evidente na expressão “é necessário” (Mateus 24.6; Apocalipse 20.3). Nada acontece por domínio de Satanás, ainda que ele confira
poder e autoridade as suas bestas, mas ele mesmo não tem poder de si mesmo.
2.
Fidelidade.
a)
Uma vez
enganados os povos, são compelidos a adorarem a Besta. Aqueles que pela fé
enxergam os sinais por trás de tudo isso, não se dobrará a sua imagem.
b)
Devemos vigiar e
orar a fim de não sermos seduzidos pelos “benefícios” trazidos pela besta do
mar, propagados pela da terra. Uma vez que nos sintamos em casa com respeito a
este mundo, mirando apenas o que se refere a essa vida, mesmo pelejando por
interesses que são legítimos, mas transitórios (Mateus 24.38), corremos o risco de
nos encontrarmos adorando a sua imagem, desprezando os tesouros que se
encontram no alto (Mateus 6.19).
3.
Perseverança.
a)
Nossa fidelidade
pode custar nossas vidas. Mesmo hoje, e desde sempre, e menor grau, cristão são
provados em sua perseverança. Proibidos de pregar o evangelho, muitos são
perseguidos até a morte.
b)
Devemos estar
prontos para sofrer o dano, seja da restrição de nossos direitos, como no caso
da marca para comprar e vender, como de nossa própria morte. Quando o texto falar em ser levado a cativeiro, ou morto a espada (v.10), é porque essas coisas serão inevitáveis. Mas é justamente em suportá-las, e não em subjugá-las, que seremos encontrados fiéis e perseverantes.
c) Fato é que se não
estamos dispostos a sofrer nenhum dano, é porque já nos deixamos seduzir e
somos encontrados infiéis.
Conclusão.
Sabemos
que a mensagem pode ser devastadora, e trazer terror para alguns, mas para os
crentes verdadeiros não. Esta é a mensagem de que “em todas essas coisas somos
mais que vencedores” (Romanos 8.37).
Se
crermos verdadeiramente que Jesus venceu a morte na cruz, que ressuscitou e
reina, devemos crer também que mesmo passando por tudo isso, e até a morte,
triunfaremos. Devemos nos regozijar, pois ele está às portas para nos redimir.
O
poder para reverter às coisas não está em nossas mãos, mas naqueles que foram cravadas
de pregos, e que agora traz a foice para ceifar os seus, e guardá-los em seus
celeiros, e ceifar os demais, pisando-os no largar de sua ira (14.14-20).
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