sábado, 29 de abril de 2017

Rebelde sem causa (justa)

Desta maneira fazia Absalão a todo Israel que vinha ao rei para juízo e,
assim, ele furtava o coração dos homens de Israel.
2 Samuel 15. 6

Absalão, filho de Davi, depois que voltou do "exílio" da presença de seu pai (2 Samuel 14.28), passou a apresentar-se na porta de Jerusalém com a pompa de um rei (2 Samuel 15.1, conf. 1 Samuel 8.11). Ali, de maneira prática, deu-se início ao seu projeto de usurpar o trono de seu pai. Ele roubava o coração dos homens fazendo parecer que seria um juiz mais justo que seu pai, o rei (2 Samuel 15.6).
É fato que Davi pecou tanto como pai quanto como rei. Seu pecado registrado em "caixa alta" nas Escrituras não se restringiria apenas ao seu adultério com Bate-Seba e, consequentemente, ao assassinato de Urias. Sua falta de trato com seus filhos em meio as sucessivas tragédias ocorridas em sua casa, apresentam um homem duplamente omisso. Tamar, filha de Davi, foi estuprada por Amnom, seu meio-irmão, e Davi nada fez a esse respeito (2 Samuel 13.21). Absalão, irmão de Tamar matou Amnom em vingança por sua irmã, e Davi nada fez eficazmente a respeito (2 Samuel 13.39; 14.21-24, 33). É preciso lembrar que estas tragédias na casa de Davi eram juízo de Deus sobre ele por causa dos pecados descritos: A espada jamais se apartará da tua casa (2 Samuel 12.10).
Por esses motivos Absalão achava-se no direito de tirar o trono de seu pai. Talvez, num misto de vingança pessoal, e de uma pretensa justiça social, o filho do rei achava-se a pessoa mais indicada naquele momento para o trono de Israel. Mas, apesar dos pesares, Davi era o ungido de Deus e não Absalão.
Não quero dizer com isso que Davi tinha licença para matar ou adulterar. O juízo que sucedeu ao seus pecados nos prova que não. O que digo nesse caso, conforme as palavras do próprio Davi quanto a Saul, seu antecessor, é que o juízo que deveria cair sobre o rei cabia a Deus aplicar (1 Samuel 26.9-11). Saul havia pecado contra o Senhor, e procurava tirar a vida de Davi, por saber que Deus o havia escolhido para reinar. Apesar de poder argumentar legítima defesa, e de que também era ungido do Senhor, Davi sabia que a vingança pertencia ao Deus, e por isso não pretendia ser mais justo que Ele.
Absalão não havia sido ungido por Deus para reinar. Ele tinha uma crise doméstica como motivo para procurar tomar o lugar de seu pai. E ainda que essa crise entre pai e filhos fosse seríssima, não justificava um golpe de estado. O que ele não entendia a essa altura do campeonato, é que era tão pecador quanto Davi e Amnom. Em seu curriculum vitae poderemos encontrar o assassinato de seu irmão, e o estupro das concubinas de seu pai, que também configurava adúltero. Essa "maldição familiar" Absalão trouxe sobre si, a violência e o adultério. Mas em sua "justiça" (Isaías 64.6), Absalão não se reconhecia pecador, ao passo que Davi, tão pecador quanto seu filho, reconhecia seu próprio pecado (2 Samuel 12.13).
Vejo na história familiar do rei Davi, algo maior do que uma crise entre pai e filho, ou de Estado. Há uma rebeldia da parte de Absalão contra o próprio Deus. Primeiro quando tenta tomar a justiça em suas mãos. Segundo quando não se reconhece pecador, mas, mais justo que o próprio Deus. Davi era rei em Israel, o ungido do SENHOR naquele dias. A rebelião de Absalão era então contra o próprio Deus. Desta mesma sorte, sempre que nos nos achamos suficientemente justos em nós mesmos, necessariamente desprezamos a justiça de Deus em seu Ungido Filho Jesus. Ele, o Rei do reis, a quem Davi tipificava, é muitas vez objeto da ira dos ímpios, que não reconhecem nele autoridade para governar suas vidas. Davi era pecador, mas a razão maior da revolta de Absalão era se achar mais digno que seu pai. Jesus nunca pecou, e seu trono é maior do que o de Davi. Sua justiça nos humilha, e nos conclama a confiar em Deus, nos submetendo a Ele. Não sejamos pois loucos como Absalão, acreditando que podemos tomar o trono do Senhor do Universo, e governarmos nossa própria vida, ou até mesmo o mundo ao nosso redor. A despeito de toda injustiça que nos cerca, não somos melhores que ninguém. Creiamos na justiça de Deus, e nos submetamos ao Justo Juiz, que reina nos céus e na terra, e é quem pode nos redimir de todo pecado, e nos dá a viva esperança em seu reino de paz.