sábado, 26 de março de 2011

Quando a morte é lucro.


Fomos acordados às cinco da manha, por uma ligação de uma amiga. Ela comunicava que a mãe de uns amigos falecera. Eu não consegui dormir desde então. Não consegui deixar de pensar em minha mãe. Lembrei-me de algo semelhante, quando estudava em Brasília. Ao voltar de uma programação da igreja, chegando à casa do Dr. Pickering onde morávamos, vi um colega chorando ao lado do telefone. Ele me disse: meu pai morreu. Isso soou em minha cabeça o fim de semana inteiro na exata senteça que ele pronunciou: meu pai morreu! Era como se meu pai tivesse morrido.


Quem pode dizer está pronto para a morte? A sua própria ou a de alguém próximo? Em São Paulo, há alguns anos, eu a presenciei. A mãe do meu cunhado infartou diante dos meus olhos. Nunca havia presenciado alguém morrer. Seu olhar era de alguém que estava sendo tomada a força. Ela nos olhava como quem pedia para ficar. Estávamos eu, seu outro filho e uma neta. Nada podíamos fazer.


A morte não é uma agente pessoal. Não se trata de um ser, uma entidade. Ela também não age deliberadamente, escolhedo suas "vítimas" como em um filme. Ela é simplesmente a paga dos nossos pecados (Romanos 6.23), uma sentença judicial sobre o pecado. E, pecadores como todos somos, receberemos esse salário no fim da vida. Na morte, diz o poema de Suassuna em o Auto da Compadecida, tudo se iguala:


Cumpriu sua sentença, encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.


Mas como falar da morte de outra maneira? Como não enxergá-la enquanto condenação? Dizer que a morte é lucro parece absurdo. Que ganho alguém pode ter na morte? As agências funerárias talvez. Mas em sua própria morte, o que alguém poderia lucrar? Nem quando se pensa em seguro de vida, pois ele existe em prol dos beneficiarios, e não do segurado.


Esse ganho do qual Paulo fala, que contrasta com o salário de todos, é na verdade toda sua expectativa e esperança sobre essa vida. Para o apóstolo a vida e a morte se resumia em seu ganho maior: Jesus Cristo. Ele sabia que em seu corpo Jesus era engradecido - ou em outras palavras - glorificado. Ele era prisioneiro de Cristo em Roma (Efésios 3.1; Filipenses 1.13), e se continuasse vivo, experimentaria mais e mais da graça de seu Senhor. Mas quando morto, iria para junto de Jesus, o que é incomparavelmente melhor (Filipenses 1.23). Se viver com Cristo é ganho, estar com Cristo é o ganho a mais. Esta certeza sobre a morte, só pode existir em uma vida com Cristo. Se Cristo não é o meu ganho aqui, não o pode ser lá. Se não considero todas as coisas para glória de Cristo, não poderei ser glorificado com Ele na morte.


Aos olhos do SENHOR, a morte dos seus santos é preciosa. Paulo devia ter em mente o Salmo 116.15 quando falou em lucro. Mas porque mesmo os que estão em Cristo ainda sentem tanto desconforto na morte? A morte física, não obstante ter sido mudada de salário para lucro (no caso dos santos), ainda é nossa inimiga, uma vez que Jesus não a subjulgou finalmente (1 Coríntios 15.26). Ainda somos pecadores, ainda somos humilhados em nosso corpo pela corruptibilidade. Nesse sentido, na morte bebemos o último gole amargo dos nossos feitos dessa vida. Podemos vislumbrar o que sentiu o Senhor em sua aflição no Getsemani. Ele, é claro, numa intensidade que nunca sequer imaginaremos, pois sendo santo, experimentou o peso de todos os nossos pecados. Na cruz Ele morreu a morte de todos os eleitos. Pagou a dívida eterna que constava contra nós.


É tão somente por causa dessa certeza na qual fomos salvos, que podemos olhar para morte como lucro. Somente porque Jesus venceu a morte, ressuscitando ao terceiro dia, é que podemos encará-la com tal expectativa. É por sabermos que nada mais consta contra nós que desejamos estar finalmente junto do Pai. Deus não tem prazer na morte do ímpio, mas em sua conversão (Ezequiel 33.11). Quanto a nós, não sei se podemos dizer que temos prazer na morte, mesmo na dos convertidos. Contudo, o que sei é que através dela estaremos finalmente próximos de Cristo, pois na sua morte fomos unidos eternamente ao Pai em amor.

sábado, 19 de março de 2011

II Congresso Internacional de Teologia no Mackenzie - Esboço 1


Nos dias 14, 15 e 16 desse mês participei na Universidade Presbiteriana Mackenzie do II Congresso Internacional de Religião, Teologia e Igreja, cujo preletor principal foi o Dr. Wayne Grudem. O tema foi "A atuação do cristão na esfera pública. As palestras do Dr. Grudem eram sinteses dos capítulos do seu livro Politics Acording to the Bible - obra ainda não publicada em português.
Esta e as próximas postagens deste blog são esboços que fiz a partir de duas palestras do Dr. Grudem e uma do Dr. Nicodemus.



  • 5 Visões Errôneas da relação entre Cristianismo e Política.

  • Apartir de Jó 12.23 Dr. Grudem afirma que a nação brasileira foi levantada por Deus. É Ele que conduz soberanamente a história das nações conforme o seu propósito. As nações devem engajar-se nesse propósito para a glória de Deus.


  • Em meio a esse engajamento, uma vez que Deus reina sobre todas as nações, como não deve ser a relação entre cristãos e o Estado (toma-se Estado aqui como sinônimo de Governo).


  1. O Estado não deve forçar uma religião sobre uma nação.


  • Com base em Mateus 22.21 fica claro que existem duas esferas distintas de autoriada - a religiosa e a do Estado. Jesus não diz exatamente o que se deveria dar a Deus e a César, mas fica claro que uma não deve sobrepor a outra.

  • Em Lucas 9.52-56 observa-se que o "método de evangelismo" proposto por Tiago e João não foi aceito por Jesus. Dr. Grudem brincou que sendo os samaritanos da vila exterminados, a próxima vila teria 100% de aceitação para a pessoa de Jesus. Mas o caso é que os discípulos não tinham o direito de tirar a vida dos samaritanos porque não receberam Jesus.

  • Dr. Grudem comenta que quando passa em frente a um templo busdista, ou a uma mesquista, sente ao mesmo tempo tristeza e alegria. Tristeza por saber que ali as pessoas estão sendo enganadas, distanciadas da Verdade. Mas alegria por saber que em seu país há liberdade religiosa.

2. O Governo não pode excluir a religião da esfera pública.



  • Muda-se de "liberdade de religião" (liberdade religiosa) para "liberdade da religião" (livre de religião).

  • Na prática, isso vem acontecendo sempre que algum tipo de manifestação religiosa (oração, dez mandamentos) é proibida em algum local público, ou algum tipo de cerimônia.

  • Também tem-se aplicado tais sanções religiosas no que diz respeito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Quando contexta-se a legitimidade de tal união, cortes norte-americanas afirmam que a religião não pode interferir a decisão pessoal do cidadão. Dr. Grudem argumenta que religião diz respeito a escolha que as pessoas fazem quanto a igreja que frequentarão, e não no que diz respeito a união civil. Pode até existir razões religiosas por trás de muitas leis, mas isso não estabelece religião.

  • A liberdade de expressão naturalmente é tolhida nesse processo.

  • Como servos de Deus para o bem da sociedade (Rm 13.4), o Estado não pode ignorar absolutos morais, os quais são muitas vezes esboçados na religião.

  • Na Bíblia temos vários exemplos de servos de Deus que aconselharam governantes: José do Egito, Daniel, Isaías, João Batista, etc.

3. Todo Governo é demoníaco e mal.



  • Greg Boyed afirma com base em Lucas 4.6 que Satanás preside todas as nações. Quando ele as oferece a Jesus, este não lhe contradiz afirmando que elas não lhe perteciam. É preciso lembrar que Satanás é mentiroso, e a prova inconteste disso é a exata resposta de Cristo: Somente Deus deve ser adorado.

  • Ao contrário do que Satanás diz, a Bíblia afirma em vários momentos que o governo das nações pertence a Deus (Daniel 4.17; Romanos 13.1-6; 1 Pedro 2.13-14).

  • É falacioso dizer que Jesus nunca se pronuncio quanto a autoridade do Estado, uma vez que a Bíblia como um todo trata a esse respeito. É preciso lembrar que toda a Bíblia é carregada da autoridade de Jesus, e não somente os Evangelhos.

  • Dr. Grudem lança a questão: o pacifismo poderia ter parado Hitler?

  • Falta-lhe a percepção de que tanto o evangelho, quanto o governo, são estabelecidos por Deus para restringir o mal na sociedade.

  • Boyed em suma [minhas palavras] defende uma perspectiva hippie de sociedade, uma visão anarquista.

4. Evangelize, não faça política.



  • Eis a idéia de abstenção.

  • John MacArthur em Why Government Can't Save You afirma que o envolvimento em questões de ordem governamental não são vitais para nossas vidas espirituais, para o testemunho de justiça ou no avanço do Reino de Cristo.

  • Dr. Grudem disse que poderia escrever também algo como que Por que a Igreja não pode salvar sua casa de um incêndio.

  • Fomos chamados para boas obras.

  • Se oramos por bons governos, não deveríamos igualmente trabalhar por bons governos. Ensinar nas igrejas a esse respeito é uma boa obra.

  • MacArthur fala que um governo nada pode fazer em prol do avanço do evangelho. Dr.Grudem responde com uma simples observação nas duas Coreas. Basta pensar que se tratava de um mesmo país, um mesmo povo, uma mesma língua, mas com diferenças absurdas.

  • O evangelho integral inclui transformação da sociedade. Se o propósito da Igreja sobre terra é apenas evangelizar, onde fica o amor ao próximo, na medida de atos práticos em benefício ao outro?

  • Na história é visível quantas leis em benefício da humanidade foram criadas em contextos cristãos.

5. Faça política e não evangelismo.



  • Boas leis são o bastante.

  • Esse "evangelho social" tem seguidores nos flancos liberais.

  • Em certa escala, são necessárias pessoas com o coração transformado para proporem ou cumprirem boas leis.


A Visão Bíblica significativa de influência no Governo.



  • Dr. Grudem faz menção de grandes homens na Bíblia que marcaram seu tempo e sua sociedade pela influência política em obediência a Deus.

  • José no Egito. Moisés da mesma sorte.

  • Daniel na Babilônia.

  • Jeremias junto aos cativos.

  • Neemias enviado da Pérsia para Jerusalém.

  • Ester na Pérsia pelos judeus.

  • No N.T, João Batista e Paulo falaram a governantes, e exerceram influência.

O primeiro capítulo do livro do Dr Grudem, onde se encontra a íntegra dessa preleção está disponibilizado aqui em pdf.

Posso dizer particularmente que estas palavras sem dúvida constituem um embasamento poderosamente bíblico para que cristãos se envolvam na política, tendo em mente o governo de Deus sobre os povos, e nossa responsabilidade de exercermos segundo sua Palavra a justa e boa influência sobre a sociedade onde vivemos.