quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Ora et labora - Orar e denunciar o mal feito pelo governo


Tenho visto algumas pessoas conclamando os irmãos a orarem pela presidente da República, Dilma Rousseff  ao invés de criticarem. Fazem bem estimulando outros a orar, mas creio que a censura a crítica deve ser ponderada. Necessariamente uma coisa não anula a outra. E, ainda, dependendo das circunstâncias, uma coisa leva a outra. O lema beneditino evidencia isso, que a oração não anula o trabalho. A Igreja deve orar, mas também deve laborar.
São as Escrituras que nos conclamam a respeitar as autoridades (Romanos 13.1-6), e também orar por elas (1 Timóteo 2.1, 2). Todo cristão deve se submeter a esses mandamentos, seja qual for a autoridade constituída sobre o povo. Em outras palavras, devemos orar e  nos submetermos a governantes justos ou injustos. Isso é evidente pelo próprio contexto histórico de quando Paulo escreve essas palavras: eram os dias do Imperador Nero. Sem contar que ele não especifica que um governador bom é o único pelo qual se deve orar ou submeter-se. Sempre houve injustiça e corrupção no governo, isso antes de Paulo e depois, e ainda assim ele não faz ressalva a quem se submeter ou por quem orar. A verdade é que devemos orar pelas autoridades, e nos sujeitarmos a elas, mas não a injustiça. Enquanto esses governantes não nos ordenam nada contrário a Palavra de Deus, devemos prestar-lhes obediência.
Mas seria somente esse o nosso papel enquanto cristãos? Orar nos impede de denunciar o pecado? A Igreja deve servir também como consciência do Estado, chamando-o ao arrependimento de seus pecados.
Desde o Antigo Testamento os profetas desempenhavam esse papel. Mesmo o último dos profetas da Velha Aliança, João Batista, não se furtou de chamar ao arrependimento o rei Herodes, denunciando seus pecados. A obra de anunciar o Cristo não o impediu de denunciar pecados, tantos das autoridades como do povo.
Os evangelista Marcos e Mateus fazem uma observação indiretamente crítica às autoridades da época, dizendo que o povo era como "ovelhas que não têm pastor" (Mateus 9.36; Marcos 6.34). Esta expressão emprestada do A.T aponta para a falta de liderança, ou, ainda pior, líderes corruptos.
Os apóstolos Pedro e João, diante das autoridades do povo, não se deixaram de denunciar o pecado de assassinarem a Jesus, como o fizeram com o povo (Atos 2.23; 4.10).
Apesar de me opor politicamente ao atual governo do meu país, não me furto de orar pelos governantes, e isso inclui a presidente da república. Ensino isso a minha igreja todas as quintas feiras na reunião de oração. Mas não posso fechar os olhos para os desmandos, os crimes e toda ideologia nefasta que tem vigorado nos últimos anos. A questão é maior que um partido político, trata-se de uma agende para a desconstrução de valores. Trata-se da inversão do certo pelo errado.
Todas as oportunidades que tive de conversar com políticos, falei da necessidade de que entreguem suas vidas a Deus para fazerem um governo justo. Falei que precisavam confiar em Deus, pois não foram homens que os colocaram lá. É a Ele que no fim prestarão contas.
Sei que muitos crentes do estilo "Jesus te ama" não tem coragem de denunciar o pecado, e se escondem por trás do "vamos orar e não criticar". Sei também que muitos criticam e não oram, e isso é igualmente errado. Mas creio que orar e denunciar pecados são igualmente funções da Igreja para com o Estado. Orar sem se posicionar contra o errado é como endossar o pecado, ou até mesmo negar a responsabilidade daqueles que o têm praticado.
Orem pela presidente do país e demais autoridades, mas não fechem os olhos para o que está errado. Orem por eles não só para que governem bem, mas para que se arrependam de seus pecados. Orem pelo povo oprimido socialmente, mas igualmente corrupto, para que seja libertos de seus grilhões, principalmente os da morte, a saber, a iniquidade.