quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Domingo eu preguei: Trigo e Joio, juntos, parecidos, mas diferentes.


Domingo, dia 16, preguei em Mateus 13. 24-30; 36-43. É bem visível, e já tornou-se proverbial que, por mais próximos e parecidos que sejam, trigo e joio são diferentes e um dia serão separados. Essa parábola encontra-se em um contexto muito interessante, quando Jesus respondia com ensinamentos ao que estava acontecendo. Constantemente os fariseus se opunham ao Senhor pelo que havia feito, no caso aqui, uma cura (12.9-14) e uma expulsão de demônio. Jesus passar a usar figuras da agricultura (12.33-37; 13.1-9; 31-32) para demonstrar que diante dele estavam dois grupos distintos: árvore, terra e semente boa; e, árvore, terra e semente má. Nesse mesmo contexto, nem a própria família de Jesus compreendia o que ele estava fazendo (12.46; conf. Mc 3.21), sendo assim, em certa medida, oposição dentro de sua casa.


A parábola do semeador é bem parecida com a do trigo e joio, mas esta última é um tanto mais intensa que a primeira. No caso do semeador, temos apenas a visualização de quatro tipos de terrenos, sendo que três não frutificaram e o último sim. Apesar de cada terreno ter sido explicado, nada é dito sobre o seu preparo e fim. É afirmado apenas que um frutificou abundantemente, ao passo que os outros não. Na segunda parábola, não só é destinguida a origem das sementes, como também é retratado o fim de ambas. É enfática na primeira parábola as condições de cada pessoa, enquanto que na segunda é revelado a origem e o fim de cada uma delas. Existe ainda no caso das duas parábolas a imensa vantagem de que o próprio Jesus faz suas exegeses. Em termos nominais, a segunda parábola constitui uma enfase maior na origem e no fim dos dois tipos apresentados. Nesse sentido, creio que a intensidade dessa segunda parábola não pode passar desapercebida. O temor e a esperança devem ser infundidos nos corações.

Podemos listar pelo menos três dferenças entre o trigo e o joio nessa parábola. A primeira é a origem de um e de outro. O trigo, ou a boa semente, procede do Filho do homem, enquanto que o joio foi plantado pelo inimigo, ou Diabo. Os filhos do Reino e os filhos do Diabo dividem um espaço comum, mas não a mesma procedência. Em Gênesis 3.15 já havia sido anunciada essa distinção: O descendente da mulher e a descendência da serpente seriam inimigos mortais. A descendência da serpente em outros momentos foi apontada assim: Raça de víboras (Mt. 3.7; 12.34; 23.33), filhos do diabo (Jo. 8.34). Os filhos do Reino compartilham da perseguição sofrida pelo descendente da mulher, e por isso, também, partilham de seu triunfo sobre Satanás.

Há outra distinção entre as duas plantas. Apesar de estarem juntas, o cuidado dispensado sobre as duas tem propósitos diferentes. O Diabo abandonou seus filhos no campo do Senhor, e por um tempo crescerão juntos com os filhos do Reino, debaixo do mesmo cuidado. Mas o único motivo para essa tolerância é a preservação do trigo. Os trabalhadores de imediato queriam arrancar a planta estranha, mas o dono do campo manda que as deixem juntas para que o trigo não sofra nem um tipo de dano. Deus dispensa qualitativamente o mesmo cuidado para justos e injustos (Mt. 5.45), mas no fim das contas fica claro que seu amor é para com os seus. É por amor aos vasos de honra que Deus suporta com grande longaminidade os vasos de desonra (Rm. 9.22). Ele conhece os seus, mas considera que por esse tempo eles deverão crescer junto com os filhos do seu inimigo, usufruindo das mesmas benesses, mas não do mesmo amor.

A última distinção, e talvez a mais impactante, é o fim reservado para esta lavoura mista. Os dois tipos de plantas, assim como não têm a mesma origem, também não terão o mesmo fim. O joio será ceifado, atado e lançado ao fogo, enquanto o trigo será recolhido para o celeiro. No fim tudo será muito simples, uns ouvirão "vinde benditos de meu Pai", e outros ouvirão "apartai-vos de mim, malditos!" (Mt. 25. 34, 41). Por mais que durante esse tempo as plantas pareçam embaralhadas, o dono da lavoura sabe perfeitamente quem é trigo e quem é joio, e Ele não fará injustiça confundindo-os. A promessa que temos é que os filhos do Diabo conhecerão o choro e o ranger de dentes para sempre, enquanto os justos resplandecerão como o Sol no Reino de seu Pai.
Devemos portanto não nos enganar com a aparente proximidade entre os filhos do Reino e os filhos do Diabo. Eles estão juntos no mundo, e por vezes usufruem materialmente das mesmas benesses, mas não vieram e nem irão para o mesmo lugar. Os eleitos de Deus conhecerão a glória do Filho do Homem, resplandecendo como o sol em um novo céu e nova terra, enquanto os filhos do Diabo serão eternamente atormentados.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Calvinistas, Eleitos e Predestinados


Voltando a falar sobre predestinação, soberania de Deus, eleição, calvinistas, arminianos, etc...

Honey Leão, um amigo dos tempos do seminário, disse certa feita que até para crer na predestinação é preciso ser predestinado. Concordo! Só isso explica como alguém, mesmo já tendo nascido de novo, e sendo conhecedor da Palavra, desconsidera o axioma da soberania divina. Deus é o que é, e por ser assim, soberanamente determina e sustenta todas as coisas segundo a sua justa, santa e perfeita vontade. Ainda que não entendamos seus propósitos, e por vezes venhamos (inconscientemente ou não) duvidar de sua sabedoria no curso da história, somos chamados para sermos justos pela fé. Mas, como diria Herbert Viana, fé em que? Fé na justiça daquele que faz todas as coisas com retidão segundo o conselho de sua vontade (Efésio 1.11).

A soberania de Deus não é apenas a base para a predestinação, mas de toda amplitude da vida humana e da existência cósmica. Negar a soberania divina na salvação, pela lógica implica em nega-la na criação. Ou seja, como em meio a sua criação, soberanamente Ele decidiu chamar a existência um ser a sua imagem e semelhança, muitos séculos depois, Ele mesmo chamou este ser de volta a sua condição de original para a qual foi criado. E não só ao homem, mas também a toda a sua criação, uma vez criada e posteriormente por Ele amaldiçoada, chamou de volta ao estado de perfeição. Desta feita, não é por acaso que a Nova Criação e a Criação estão tão intimamente ligadas a soberania de Deus que nos concede a vida: E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas (Ap. 5). Ele fez a primeira vez, sem consulta ou auxilio externo algum, e da mesma forma o faz na segunda.

Todavia, quero ainda deixar bem claro que o fato de se crer na predestinação não significa ser necessariamente salvo. Ou seja, não podemos alicerçar a eleição sobre o conhecimento humano. O fato de se crer na predestinação é consequência da obra do Espírito conduzindo o eleito por toda a verdade, e não uma condição para que o mesmo seja guiado a mesma. Crer na predestinação deve ser uma das consequências da eleição e nunca a sua causa. A eleição é fundamentada unica e exclusivamente no amor de Deus (Efésios 1.4). Este é o limite do que podemos concluir, que Deus nos escolheu em amor. Talvez nunca chegaremos além desta verdade, mas creio que ela é suficiente para que sejamos eternamente gratos.

Muitos que se proclamam calvinista não entrarão no reino dos céus. Particularmente eu nem chamaria estes tais de calvinistas, uma vez que existe uma designação para eles: hipercalvinistas. Algumas pessoas dizem crer na soberania de Deus, mas desprezam completamente a responsabilidade humana. É imprescindível que aqueles que assimilam a graça manifesta no excelso amor de Deus que nos elegeu, igualmente reconheçam a necessidade de se submeterem a vontade soberana para suas vidas. Assim como Deus cumpre sobre a vida dos eleitos sua vontade de salvá-los, Ele também cumprirá nos mesmos a sua vontade de santificá-los, e a isso demanda de submissão. Na obra Soberania Banida, Wright deixa claro que Deus determina tanto os fins quanto os meios. Dentre esses meios, podemos incluir a obediência do homem ao que Deus determina em sua Palavra. Uma dessas determinações é que aqueles que foram alcançados pela graça salvífica preguem essa mesma dádiva amorosa a fim de que a mesma venha atingir outros eleitos.

Finalmente, é bom esclarecer que se crer na predestinação não é condição para ser um eleito, logo, nem todos os eleitos crerão na predestinação. Mesmo alguns que não aceitam a bíblica doutrina da eleição entrarão sim no reino. Apesar de crerem que em alguma medida fora dada uma "ajudinha" para graça de Deus salva-los, fato é que o amor de Deus cobre essa ideia arrogante. Se a graça se respaldasse sobre o quanto compreendemos a Palavra de Deus, ninguém seria salvo, e já a graça não seria graça e sim mérito. Por mais que um verdadeiro calvinista possa ter uma visão mais nítida da Palavra de Deus, respaldada na fé sobre a soberania divina, este nunca poderá exaurir ou responder infalivelmente a todos os questionamentos que existem ou que possam surgir. Por mais ou por menos que um calvinista possa conhecer a Bíblia, ele nunca poderia se dizer se intitular como tal se acreditasse que seu conhecimento pode exercer algum peso sobre a graça. Aos cada um dos eleitos será dada uma medida de conhecimento, mas a todos é necessário o dom da fé (Efésio 2.8).

Conta a história que George Whitefield foi duramente atacado por seu amigo Jonh Wesley por ser calvinista. Quando perguntado se no céu veria Wesley, Whitefield respondeu que não, pois o amigo arminiano estaria tão perto do trono de Deus que ele, distante como imaginava que estaria, não o poderia ver. Essa resposta não foi hipócrita e nem irônica, pois o grande pregador calvinista pediu que o amigo arminiano pregasse em seu funeral, o que de fato aconteceu. Creio que segundo a graça, tanto George quanto John estão hoje na presença de Deus, assim como estarão todos aqueles que Ele, em amor, soberanamente elegeu.