sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sobre a bebida alcoólica e a comunhão entre os irmãos

Na escola dominical do dia 22 de setembro, por razões que me foram apresentadas de maneira ríspida e afrontosa recentemente, decidi orientar pastoralmente a igreja onde sou ministro. Me fora dito que nossa igreja encontra-se dividia, e vivendo em pecado, e que por falta de percepção minha, ou em outras palavra, por complacência, é que isto estava acontecendo. Como sei que sou falho, ainda que isso não se justificasse os termos usados pela pessoa que me acusou, resolvi falar a igreja, de maneira panorâmica, sobre 1 Coríntios.
A relevância desta epístola do apóstolo Paulo aponta para a realidade de uma comunidade que, ainda que genuinamente cristã, conforme é descrita em seus primeiros versículos (v. 1-9), apresenta uma série de desvios de conduta moral, problemas doutrinários e partidarismo. É contrastante que palavras assim possam ser ditas de um mesmo grupo de pessoas. Mas não creio que isso seja exclusividade dos crentes de Corinto. Muitas igrejas podem ser descritas assim, e desta forma, se é verdade o que me fora dito, não podia excluir aquela a qual pastoreio a dez anos. Por isso conclui que uma abordagem de todos os problemas descritos ao longo da carta, focando principalmente na questão das divisões, seria salutar para a igreja se auto-avaliar.
Comecei falando sobre o partidarismo em torno de líderes, conforme Paulo descreve a partir do versículo 10 do primeiro capítulo até o quarto. Depois falei sobre o problema moral envolvendo o adultério de um homem com sua madrasta, e a falta de disciplina no capítulo cinco. Passei pelas questões seguintes que enfocava ainda disputa judicial entre irmãos e problemas com respeito a casamento. Cheguei ao capítulo oito, quando o apóstolo passa a tratar da questão do comer carne de animais sacrificados a ídolos, e que era motivo de escândalo entre alguns irmãos. Paulo trata disso até o capítulo dez, esboçando que ao mesmo tempo que o crentes são livres para comer qualquer tipo de alimento, eles não devem causar escândalo àqueles que não aceitam essa dieta. Também ao fim desta abordagem, Paulo deixa claro que essa liberdade de comer não deveria ser acompanhada da ideia de que participar das festas pagãs, onde os animais eram sacrificados, seria algo aceitável. Nesse ponto da exposição aos irmãos, a carne sacrificada transformou-se na questão relacionada a ingestão de bebida alcoólica, e um cenário talvez muito próximo daqueles dias na igreja de Corinto se formou nesse domingo.
Argumentei que a Bíblia em nenhum momento proíbe a ingestão de bebida alcoólica, mas sim a embriagues e o escândalo aos que não compreendem essa liberdade. A igreja se dividiu entre os que concordam, e aqueles que discordavam. O argumento predominante dos abstêmicos do álcool, era de que é praticamente impossível que alguém beba sem ficar bêbado. E também que era impossível beber sem ser pedra de tropeço para outros. Deixei claro que se beber era sinônimo de embriagues, Jesus teria sido um alcoólatra, como de fato o consideravam os de sua geração (Mateus 11.19). Mais triste ainda foi ouvir que ir a um bar era a mesma coisa que ir a um prostíbulo, equiparando a ingestão de bebida a prostituição.
O estudo não seguiu bem dai por diante, pois ainda que tenha passado pelos problemas seguintes na carta (mulheres insubmissas, irreverencia na santa ceia, soberba em torno dos dons e incredulidade quanto a ressurreição de mortos), tudo emperrou na questão da bebida. Por mais que explicasse que em si, beber bebida alcoólica não era pecado uma vez que a própria Escritura atesta seu uso não de forma condenatória em alguns textos (Salmo 104.15; Provérbios 9.5; Eclesiastes 9.7). É bem verdade que alguém possa até argumentar que o vinho é uma bebida permitida, mas que outras não. Isso seria um contrassenso, uma vez que o próprio vinho tem teor alcoólico maior que de outras bebidas. Mas há os que podem dizer que o vinho da Bíblia não passava de suco de uva, sendo essa mais uma falácia. Se fosse apensa suco de uva, não havia necessidade de advertências sobre os perigos de embriagues (Provérbios 23.20; Isaías 5.22). A própria ceia em Corinto estava sendo vilipendiada por pessoas que abusavam do vinho que era usado na ocasião (1 Coríntios 11.21).
Sei que a questão relacionada a bebida esta profundamente arraigada em nossa cultura evangélica herdada dos Estados Unidos do período da lei seca, e que por isso trata-se de algo impensável entre os crentes. Ouvi dizer que certa feita Francis Schaeffer observava o debate entre seus alunos sobre essa questão, e que notou que o problema maior era que os abstêmicos queriam convencer aqueles que bebiam a ser como eles, e assim a recíproca também era verdadeira. O grande dilema em tudo isso é perceber que as pessoas não estão preocupadas com o que a Bíblia diz, mas com o que serve para elas. Em nenhum momento disse que as pessoas devem beber pelo simples fato de que lhes é lícito. Em nenhum momento encorajei as pessoas a experimentarem bebida alcoólica. Mas procurei ser fiel as Escrituras, e nada acrescentar a ela como fardo. É nítido que o pecado da embriagues é condenável (1 Coríntios 6.10), assim como o tropeço (1 Coríntios 10.32). É sobre isso que devemos nos ater a fim de admoestarmos os irmãos, e não sobre o uso moderado de bebida alcoólica.
Apesar de não me arrepender do que ensinei, pois até então não fui convencido biblicamente do contrário, me entristeço com algumas pessoas que ainda encontram satisfação em ver a igreja dividida. O mal que procurei combater por meio da pastoral, manifestou-se entre alguns irmãos, de maneira que se não havia facções, surgiram. As divisões sempre ressaltam o que as pessoas acham de si. Tanto aqueles que se alinhavam a nomes, como aqueles que usavam os dons para sua própria exaltação, formam ao seu redor partidos que promovem a si mesmos, e não a Cristo. E se alguém se julga mais santo que outros, seja porque não bebe, ou mais entendido porque ser capaz de beber sem se embriagar, já com isso fragmentou a cruz que une a igreja.
A cruz que salva nos submete uns aos outros, e desta sorte por amor a Deus devemos buscar a unidade da Igreja. Não somos um estado democrático, não podemos causar essa unidade por qualquer tipo de conveniência dos que parece melhor a maioria, mas tão somente o Espírito de Deus pela sua Palavra é que nos une em amor. Assim sendo, que o Senhor da Igreja nos ajude a amá-lo acima de todas as coisas. Que a bebida não sirva de tropeço para os que dela fazem uso, e nem para os que não fazem. Se amamos ao Senhor, amamos ao nosso próximo, seja ele alguém abstêmico ou não.