quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O PRESENTE DO NATAL

 


            Todos os anos o Natal é embalado como um presente, com caixa, papéis e laços bem típicos. As trocas de presentes, a ceia e a própria reunião da família caracterizam bem essa data. Mas seria tudo isso apenas mais um costume festivo? Não existiria uma razão maior para essa celebração? Creio que essa “embalagem” do Natal pode nos ajudar a descobrir o que há de mais precioso nesse presente que nos foi dado há tanto tempo.   

Sim, a celebração do nascimento de Jesus é uma ocasião para presentes. O Evangelho de Mateus registrou que os reis magos que visitaram Jesus levaram consigo presentes muito valiosos. E mesmo hoje, continua sendo costume quando visitamos um recém-nascido, ou vamos a uma festa de aniversário, dar presentes: demonstramos desta maneira nossa consideração e carinho pelas pessoas. Mas no caso do Natal, o mais curioso é que o presente mais precioso não foi nenhum daqueles dados pelos magos, nem esses que trocamos hoje. O presente mais valioso é o próprio Senhor Jesus: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu” (Isaías 9.6).  

            Mesmo a ceia por sua vez, que não tem registro na ocasião do nascimento de Jesus, é um tema muito presente em toda sua vida ao longo dos Evangelhos. Ele esteva na ceia do casamento em Caná da Galiléia, foi convidado para jantares por fariseus e publicanos, e quando necessário multiplicou pães e peixes para alimentar milhares de pessoas. Ainda assim, Jesus disse que ele mesmo é o Pão da Vida, que sua carne é a verdadeira comida e seu sangue a verdadeira bebida (João 6. 51,55). Quando Jesus comeu a ceia da Páscoa com seus discípulos, era para o seu sacrifício que aquela refeição apontava. E na promessa de sua volta, nos foi dito que haverá uma ceia do seu casamento com sua Noiva.

            Jesus não nasceu nas melhores condições, mas nasceu sob o cuidado e carinho de seus pais. Maria o recebeu com a missão de ser a mãe do Salvador. José, como seu pai adotivo, recebeu a ordem do anjo de não abandonar Maria grávida, e de dar o nome da criança de Jesus (Mateus 1.20,21). Pela genealogia de Jesus tomamos conhecimento que sua família ao longo da história era marcada por muitos problemas, como qualquer outra sobre a terra. Mesmo com seus irmãos, Jesus enfrentou conflitos. Mas nem por isso ele deixou de ser o Salvador do seu povo. É em Cristo que somos feitos verdadeira família, sob um só Pai (Marcos 3.35).

            Sempre que no Natal nos reunimos como família para ceia e para trocar presentes, devemos nos perguntar: isso é Natal ou só uma festa de fim de ano? O costume pode ser bom, saudável, as vezes cansativo e marcado por contrariedades, mas no final válido. Mas seria só isso? Não haveria um propósito maior? Se não no Natal não celebramos o dom de Deus, o Pão da vida, aquele que nos faz família de Deus, apenas repetimos todos os anos um costume vazio, como um embrulho sem presente. Temos a aparência, mas não temos a essência. Crer no Filho que se nos deu como quem nos salva dos nossos pecados, que ao oferecer-se como sacrifício em nosso lugar, nos faz família de Deus, é a verdadeira razão de ser do Natal. Para isso Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou. Creia nisso e receba o presente da vida eterna.     

sábado, 25 de abril de 2020

O Rei Davi e a Justiça do Rei Celeste


Quando em 2 Samuel 12 o rei Davi foi procurado pelo profeta Natã com um "caso" para ser julgado (essa era uma das funções do rei, julgar os casos em Israel), com aquela historinha da cordeirinha do pobre que foi comida pelo vizinho rico que recebeu um hóspede; Davi, mais que depressa, sentenciou o culpado muito além do que era prescrito. Disse o rei: “Tão certo como vive o Senhor, esse homem nasceu para morrer”! Essa sentença não era justa conforme a Lei. Um ladrão que roubava não por causa da fome, mas por usura, a sentença era aquela que foi proferida em seguida: “Restitua quatro vezes mais”. Me parece que Davi, num arroubo de justiça, achou-se se achou acima do que era prescrito na lei.
Sabemos que na sequência, Natã revela que esse homem na verdade era o próprio Davi, cujo crime era muito pior. O rei não roubou um animal de estimação de um pobre para fazer churrasco, mas adulterou com Bate-Seba, e assassinou seu marido Urias de maneira fria. Dois crimes qualificados em Israel, sobre os quais a punição era a morte sem chance de apelação. Davi havia julgado um crime menor com ira, sentenciando de maneira excessiva o criminoso, não de acordo com a lei, enquanto ele mesmo, que havia cometido crimes de sangue, era de fato, segundo a Lei, réu de morte.
Até entendo que ao ouvir a história, o rei que tinha sido pastor quando jovem, e sendo o último filho de uma linhagem se sete, se viu no lugar do pobre roubado, e por isso julgou com ira, e não de conformidade com a lei. Nós, da mesma sorte, muitas vezes, não julgamos conforme a Palavra de Deus, mas julgamos conforme nossas conveniências, conforme a nossa história.
Todavia, Deus surpreende Davi ao sentencia-lo com vida. Ao ouvir sua confissão: "Pequei contra o SENHOR", Natã emenda: "Também o SENHOR te perdoou; não morrerás". É evidente a misericórdia de Deus sobre Davi. O Rei que julga não somente Israel, mas toda terra, que escreveu a Lei com os próprios dedos, e que ali disse que o adúltero, e o assassino deviam morrer, aparentemente contradiz sua própria Palavra. É assim mesmo? Certamente que não!
Esse mesmo Rei celeste viria a terra, fazendo-se homem, sendo chamado de Filho de Davi. Esse mesmo Filho de Davi, mesmo cumprindo perfeitamente a Lei, viria morrer na cruz em lugar dos pecadores, o que incluía o próprio Davi. Deus não anulou ou contradisse sua própria Lei, antes a cumpriu, como quando disse: não vim revogar a lei, mas a cumpri-la (Mateus 5.17, 18).
Essa é a diferença entre nós e Deus quando se trata da Lei. Queremos usá-la para nossos arroubos de justiça, segundo nossas conveniências, que não correspondem ao que Deus quer. Queremos ser mais justos que Deus, quando na verdade a ira do homem não produz a justiça de Deus (Tiago 1.20). Mas a realidade é que sempre quebramos a Lei, e somos por isso culpados de morte. Enquanto isso, Deus, o Rei justo e misericordioso, que se fez homem, que cumpriu perfeitamente a Lei, foi, em nosso lugar, sentenciado à morte. Eis a ironia dos fatos, o escândalo do evangelho: Nós que transgredimos sua lei, e que por isso éramos merecedores da morte, fomos contemplados não só com perdão, mas com a Vida Eterna, por meio daquele que cumpriu a lei perfeitamente.
Apesar de muitas vezes nos identificarmos com Davi quando este venceu Golias, somos na verdade como ele quando se deitou com Bete-Seba, e quando matou Urias. Somos como ele quando repreendido por Natã, ouvirmos o evangelho desmascarado nosso pecado. Espero que sejamos também como ele, quando cremos nesse mesmo evangelho que nos promete o perdão de Deus sobre nossos pecados, afirmando que ao invés de morrermos, o Filho de Davi morreu em nosso lugar.

domingo, 12 de abril de 2020

Extra! Extra! Jesus de Nazaré não foi achado no sepulcro!

ELE NÃO ESTÁ AQUI!


Domingo, ao romper da aurora, as mulheres que foram ao encontro do corpo de Jesus para embalsamá-lo, foram tomadas de grande surpresa ao constatarem que Ele não se achava mais em seu túmulo. Estas mulheres seguiram Jesus em seu ministério, e o serviram com seus bens (Lucas 8.2-3). E mesmo em suas últimas horas, correram risco de morte, mas não o abandonaram como a maioria de seus discípulos. José de Arimatéia e Nicodemos já haviam provido lençóis com óleos aromatizados para que o corpo fosse enfaixado (João 19.38-40). Mas foram justamente as mulheres que acompanharam a tudo, até o sepultamento na sexta-feira à tarde, e que por causa do sábado, não podendo embalsamar apropriadamente o corpo do Mestre, deixaram para o fazê-lo no domingo (Lucas 23.49,55- 24.1). Elas foram sozinhas ao sepulcro.
Com uma disposição notável, uma vez que sabiam que a pedra era impossível de ser removida, a não ser por homens (Marcos 16.3), seguiram assim mesmo para sua missão em favor daquele que jazia no túmulo. Mas ao chegarem lá, não só a pedra havia sido removida, mas também dois anjos assentados sobre ela, disseram-lhe que Jesus já não estava mais ali. Lucas registra a fala dos anjos em um tom mais áspero, ainda que não conflitante com os demais relatos. Questionaram a ida das mulheres ao túmulo justamente por pressuporem que elas deveriam saber que Jesus não poderia ser encontrado entre os mortos: Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou.
Apesar da nobre intenção daquelas mulheres, o que se revelou ao mesmo tempo foi a sua incredulidade para com as palavras de Jesus sobre sua morte e ressurreição (Lucas 24.5-7). Apesar de procederem melhor que os discípulos, que sequer foram ao túmulo auxiliar na remoção da pedra, tal cuidado com o corpo de Jesus desconsiderava suas palavras. Elas buscavam servir o seu Senhor como a um morto, quando na verdade ele já se achava vivo.
É perceptível como muitas pessoas procedem da mesma maneira como essas mulheres. Ainda que com gestos e atitudes nobres, retratam Jesus meramente como um vulto histórico, ou um espírito de luz, com grandes lições e exemplo de vida para dar. Nessa perspectiva, a ressurreição não faz diferença, posto que o Nazareno entrou para história meramente como um símbolo, como uma inspiração para os homens encontrarem em si o melhor.
Mas a contundente mensagem dos anjos, como no dia do seu nascimento (Lucas 2.10-14), é que algo sobrenatural havia acontecido: “Ele não está aqui, mas ressuscitou”. Essa é a Palavra que faz toda diferença: Ele vive! Ninguém mais precisa temer a morte, pois a morte foi vencida. Ariano Suassuna, no Auto da Compadecida, pela boca de Chicó, descreve assim a morte:
Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivomorre.
            Pois bem, esse mal outrora irremediável encontrou seu antídoto: O Cristo vivo. E como diz o cântico: “porque Ele vive, posso encarar o amanhã/ porque Ele vive, temor não há”. Nos depararmos com a ressurreição de Jesus muda nossa vida, e, consequentemente, toda nossa agenda. Não vivemos mais em função da morte, mas da viva que é digna de ser vivida. Antes, como as mulheres com seus bálsamos, devíamos apenas nos preparar para a morte, fosse a de outros ou a nossa. Mas com a ressurreição de Jesus, anunciamos e nos preparamos para a vida eterna, pois tragada foi a morte pela vitória (1 Coríntios 15.54). Já não mais vivemos para morrer, pois se com Ele morremos, também com Ele viveremos (Romanos 6.8).
            Assim, anunciamos nesse domingo que a morte de sexta-feira foi, na verdade, a morte da morte. A ressurreição de Jesus é, hoje, o renascimento da vida; da vida em inextinguível que Ele prometeu a todos os que nele creem (João 11.25).  


sexta-feira, 10 de abril de 2020

Extra! Extra! Morreu em Jerusalém Jesus de Nazaré!



Apesar de ser a esperança de redenção de Israel para alguns, Jesus, também conhecido como o Nazareno, morreu crucificado no Gólgota, nessa sexta-feira de Páscoa por volta das 3 horas da tarde. Tendo sofrido sua sentença de morte entre malfeitores, chama atenção o processo que o levou até a cruz. Ao que tudo indica, seu julgamento não foi comum como o dos demais condenados à cruz.
Jesus de Nazaré começou seu ministério há cerca de três anos, acompanhado de doze discípulos que ele mesmo escolheu. Sua mensagem era sobre o arrependimento necessário, e a fé nas boas novas, em vista do Reino que se aproximava. Peregrinando com mais frequência entre as cidades galileias, realizou, segundo relatam, muitos milagres, sinais e curas. Mesmo pessoas possessas por demônios eram exorcizadas, e, segundo o próprio Jesus, libertas “pelo [poder do] Espírito de Deus”, como indicação da chegado do Reino de Deus. Pães e peixes foram multiplicados, ao menos duas vezes, alimentando multidões que o acompanharam em lugares desertos.
A respeito de seus ensinos, era evidente, desde o começo, que sua autoridade não era incomparável. Sua pregação chamava atenção para o coração do homem, visível por Deus, não para as aparências e palavras lisonjeiras que podiam impressionar apenas aos homens. Esse foi, inicialmente, um dos grandes desconfortos causados entre os fariseus. Por serem, juntamente com os escribas, tão apegados aos holocaustos, sem necessariamente levar em consideração a misericórdia, tais afirmações expõem sua hipocrisia.
Ao que tudo indica, o incomodo maior viria ainda pela proporção que seu ministério tomou com um milagre em específico. Segundo relatos, após a ressurreição de um amigo por nome Lázaro, de Betânia, irmão de Marta e Maria, o Sinédrio se viu na obrigação de eliminar o Nazareno, uma vez que “o mundo todo ia após Ele”, e que também, por isso, os Romanos poderiam vir sobre eles e o povo, tomando-lhes a nação. Nas palavras do Sumo Sacerdote deste ano: “Vós nada sabeis, nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação”.
A partir de então, na semana antes da festa de Páscoa, os ânimos começaram a se acirrar cada vez mais. No domingo, Jesus adentrou Jerusalém montado em um jumentinho, sendo recebido pelos populares com ramos postos no chão e exclamações de “Hosana ao Filho de Davi”! Depois disso, expulsou os vendedores e cambistas que se instalaram no Templo, mais precisamente no Átrio dos Gentios. Não havendo mais como esperar, os principais sacerdotes fizeram um acordo financeiro com Judas Isacariotes, um dos discípulos, para que Jesus fosse entregue a prisão em uma ocasião que evitasse tumulto. Há relatos de que o preço acordado foi o de trinta moedas de prata.
Ao se reunir na ceia da Páscoa, com seus doze discípulos em um aposento superior da casa de um dos seus seguidores, Jesus lhes disse que seria traído por um deles que se achavam naquela mesa. Mesmo que cada um tenha se acusado em tom de dúvida, nenhum deles achou que poderia ser Judas, por ter ele o cargo de confiança de tesoureiro. Mas havendo chegada a hora, Jesus segui dali de madrugada para o Jardim Getsêmani afim de orar. Lá ele foi preso por uma escolta guiada por Judas, e seus discípulos fugiram com medo.
Ainda de madrugada, Jesus de Nazaré foi levado para a casa do sumo sacerdote. Em um julgamento às pressas, com testemunhas incoerentes, a acusação que prevaleceu foi de que o Nazareno havia dito que destruiria o templo, e o reedificaria em três dias. Não respondendo ao sumo sacerdote Caifás, Jesus foi por ele conjurado a responder pelo Deus vivo ser era ele o Cristo, o Filho de Deus. A resposta do réu foi: “Sim, de fato. Porém, digo a vocês que breve verão o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”. A sentença que já havia sido decidida há dias, não precisava mais de interrogatórios: Jesus era culpado de ser o Filho de Deus.
O réu foi então encaminhado à autoridade civil maior, o governador Pilatos. Sendo-lhe dito que Jesus era galileu, por ser da jurisdição de Herodes, que estava em Jerusalém naqueles dias, enviou-lhe para que se reportasse a ele. Nada respondendo a Herodes, servindo-lhe apenas de objeto de escárnio, devolve-o para Pilatos com uma túnica estilosa. O governador não estava convencido de que Jesus era um criminoso de fato, até porque não dava a mínima para a religião judaica, e percebia que havia ciúmes da parte das autoridades religiosas. Para não desagradar os membros do Sinédrio, disse que castigaria Jesus e depois o soltaria. Mas isso não era suficiente para aqueles homens.
Pilatos tenta em vão soltar Jesus pela escolha popular, colocando seu nome ao lado de um malfeitor chamado Barrabás. Mas mesmo questionando o povo quanto ao crime que teria sido cometido pelo Nazareno, nada ouvia além de “crucifica-o”! A pressão aumenta sob o governador, pois o crime de Jesus segundo seus acusadores não era apenas de blasfêmia, mas político, uma vez que seria o Rei dos judeus. Com medo de ser acusado perante o Imperador de sedição, Pilatos não viu outra saída a não ser soltar Barrabás, e autorizar a crucificação de Jesus. Num ato simbólico, o governador lava as mãos do sangue de Jesus, que para ele era inocente.
Como em um espetáculo de horror, Jesus carregou sua própria cruz pelas ruas de Jerusalém até o Gólgota, como dito inicialmente. Foi acompanhado pela multidão dividida, que de um lado zombava dele, e de outro chorava por ele. A túnica sem costura que ganhou de Herodes, foi sorteada entre os soldados que o colocaram na cruz. E uma vez entre seus companheiros de sentença, continuou ouvindo as ofensas vindas das autoridades junto a multidão: Salvou os outros, salve-se também, se de fato é o Cristo de Deus. Consta também que algumas mulheres que o seguiam, um de seus discípulos, e mesmo sua mãe, estavam ao pé da cruz. Ele sofreu escárnio até de um dos malfeitores crucificados, mas foi defendido pelo outro, que dele ouviu uma promessa sobre o paraíso naquele mesmo dia.
Jesus morreu estranhamente antes dos outros dois condenados. O céu escureceu ao meio dia, e exclamando em alta voz, disse: “está pago”, expirando em seguida. Terremoto e rochas fenderam. Fora dito que até a cortina do santuário rasgou-se em duas partes. E há relatos inclusive de mortos que voltaram a viver. Normalmente não se morre crucificado com um forte brado, mas agonizando em sufoco. Até o centurião acostumado a execuções deste tipo, com muito medo disse que “verdadeiramente este era o Filho de Deus”. Por isso suas pernas não foram quebradas para acelerar a morte, como se fez com os outros condenados. Mas para constatar sua morte, uma lança foi atravessada ao seu lado.
O corpo do Nazareno foi tirado da cruz, e levado por um homem de posição da região de Arimatéia, chamado José, que o pediu a Pilatos. Os judeus que organizaram o julgamento de Jesus, pretendem requerer uma escolta sobre o túmulo, e um selo, para que, segundo eles, o corpo não seja roubado. Havia sido dito por Jesus aos seus discípulos, que ele ressuscitaria ao terceiro dia.
Jesus de Nazaré não morreu como morrem todos os homens. Ele também não viveu como os demais. Ele estava certo desde o começo sobre o caminho que trilhava, até mesmo em direção à cruz. Foi como se ao invés de ser levado, ele mesmo tivesse se entregado. Como se tivesse nascido para isso.
Alguns de seus discípulos estão desolados, com medo, e desacreditados. Mas se domingo acontecer conforme suas Palavras, não mais terão razão para não crer. Tudo o que disse em sua vida, mesmo sobre sua morte, foi verdade. Não poderia ser diferente a respeito de sua ressurreição. Nesses próximos três dias, cabe-nos esperar pela remissão de Israel.

domingo, 29 de março de 2020

Deus Santo e Amoroso

Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos
(Efésios 2.4,5)
“Tudo que você precisa é amor” já dizia exaustivamente a música dos Beatles. Aparentemente é mais fácil falar de amor. Amor é um tema quase sempre agradável de se tratar. É algo que todos desejam, estimam. É automático para muitos dizer que a solução para o mundo é mais amor, ou simplesmente amor ao próximo.
Mas amor, meramente amor, não é a resposta. C. S. Lewis já disse que “Deus é amor, mas o amor não é Deus”. Amor não é um ser, uma entidade ou uma substância que pode ser absorvida pelos homens como um tipo de vacina contra todo o mal. À parte de Deus, o amor é um dos maiores males que existe na face da terra. Somente em Cristo é que temos o verdadeiro amor poderoso para resgatar os homens da sua condição de miséria espiritual.
      1. Qualquer maneira de amor vale a pena?
a)     Paula e Bebeto é uma música muito bonita de Milton Nascimento, escrita sobre a separação de um casal de amigos nos anos 70. Mas estética musical à parte, a questão é que podemos colocar é: qualquer maneira de amar é amor de fato? É valido e aceitável por simplesmente ser chamado de amor?
b)      João nos diz que existe um amor que não vale a pena, que é inaceitável e proibido por Deus: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 João 2.15). Esse amor pelo mundo e suas coisas (concupiscência da carne e dos olhos, e a soberba da vida – v. 16) é o tipo de amor que não vale a pena nem o canto.
c)      O que não falta é amor na humanidade. Mas esse amor é tão deteriorado do seu valor essencial – entregar-se – que sequer é reconhecido assim. As pessoas se amam antes de tudo, e, consequentemente, amam tudo o que pode lhes trazer benefícios. Esse amor, quando tem alguma “entrega”, não o faz sem algum “retorno”.
d)      É por conta desse tipo de amor que o mundo se encontra tão minado do que é verdadeiramente amor. Esse tipo de amor mundano é um amor pobre, miserável, em todos os sentidos. Mesquinho que volta tudo para si. Somente o amor de Deus é rico e benevolente de verdade.
       2. O amor que valeu a Pena.
a)      Essa expressão “valer a pena” tão usada, mas pouco refletida, encaixa-se perfeitamente no amor de Deus. Valer a pena significa compensar o dano, a perda, a condenação se sofre em razão de um ato. Por isso o amor de Deus é santo, pois somente ele compensou verdadeiramente o dano que sofreu. Mas vamos começar a falar sobre esse amor por sua entrega.
b)      O versículo mais conhecido da Bíblia nos diz exatamente isso “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). O amor de Deus constitui-se basicamente de uma entrega. Ele entregou seu Filho, seu Unigênito a quem Ele ama. Essa entrega não tinha para si mesmo nenhum ganho pessoal, nenhum retorno de algo que lhe faltava. Ele entregou seu Filho para nosso ganho, para ganharmos a Vida Eterna, evitando a perdição eterna.
c)      Em Efésios 2.4, Paulo também diz a mesma coisa quando nos fala que Deus “sendo rico em misericórdia, por causa do seu grande amor com que nos amou... nos deu vida”. Mais uma vez o amor é uma entrega. Primeiro a entrega do Filho, segundo, e com Ele (nele) a entrega da Vida. O amor de Deus nos deu vida eterna, mas a que custo? Ao custo da própria vida de seu Filho.
d)      Ainda em João, o próprio Jesus disse “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos” (João 15.13). Mais uma vez o amor é associado a dar, entregar, sem retorno previsto. E afinal, o que podemos receber em troca de uma vida? Por outro lado: o que compensa a morte?
      3. Deus é amor.
a)      João (quase sempre ele) nos diz que quem “ama é nascido de Deus e conhece a Deus, pois o amor procede de Deus” (1 João 4.7). Só conhecemos o amor verdadeiro quando somos achados por esse amor. Só amamos de verdade, quando descobrimos o grande amor com que Deus nos amou.
b)      Esse é o amor que transcende sentimentos, ou ações egoístas. Esse é o amor que não se encontra no mundo. Esse é o amor que vale a pena.
c)      O amor do Pai e do Filho valeu a pena, não foi em vão. Jesus ressuscitou. Esse é o amor santo, incomparável e maravilhoso. Esse é o amor que nos dá mais do que o sentido para a vida, nos dá a própria Vida.
Conclusão:
            Creio que devo concordar em parte com a música dos Beatles que diz “tudo que nós precisamos é amor”. Mas a pergunta é: de que amor estamos falando?
            Qualquer outro amor nesse mundo, não é somente passageiro, é mal. No fim trará mais do que desilusão, traz destruição.
Precisamos do amor de Deus, em Cristo, que por nós se entregou, e com Ele, nos deu Vida. Esse é o amor que também nos faz amar. É aquele que se entrega, e que nos capacita a fazer o mesmo.
     



domingo, 22 de março de 2020

Deus Santo e Irado

A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça" Romanos 1.18


II.   
Ao longo da História, em tempos mais remotos, Deus era mais comumente retratado como um Deus irado. A visão que Lutero tinha de Deus, de um Deus punitivo, com o pavor que lhe causava, fazia com que se penitenciasse a fim de aplacar sua ira. Jonathan Edwards pregou seu famoso sermão “Pecadores nas mãos de um Deus irado” nos tempos de avivamento do século 18. Contudo, a partir do século 19, essa perspectiva mudou radicalmente. Os homens já não eram mais “tão pecadores”, e Deus, por sua vez, já não estaria “tão irado”. Por que, e o que mudou?
Primeiro faz-se necessários considerar a visão Teológica Liberal sobre Deus e o homemO liberalismo teológico propagado a partir do século 19, buscou esvaziar as Escrituras de tudo que pudesse ser considerado sobrenatural. Toda e qualquer ação divina na história, seja pela Providência, ou mesmo através de milagres, passaram a ser creditados como mitos criados a fim de causar nos leitores uma certa apreensão. O trabalho dos teólogos naqueles dias era desmistificar o texto bíblico “recheado de lendas” escritas para uma sociedade “primitiva” (perspectiva que já refletia uma cosmovisão evolucionista).
Segundo essa perspectiva, a humanidade havia evoluído, e o pensamento iluminista insistia que o homem, cheio da razão, não tinha mais necessidade de “contos da carochinha”. E como toda evolução, em tese, é para o bem, homens bons não precisavam se preocupar com a ira de Deus. A Bíblia passou a ser apenas um gigante manual da boa conduta.
O pensamento liberal permeia a mente de todos os que acham que não são tão maus, e que por isso, Deus, não tem o direito de se irar conosco, ou com a humanidade. A “fé na humanidade” é uma afirmação bastante difundida diante de grandes ou pequenos gestos de solidariedade. Mas, o que na verdade afirma-se nessa fé é a suficiência do homem em detrimento da Santidade de Deus.
Em suma: O homem não é tão mau, ele pode sempre melhorar. E Deus, que não é o único ser bom, não tem razão para se irar, apenas precisa ser mais paciente.
Mas qual é a visão bíblica de Deus e do homem?
Romanos 1.18 nos diz que Deus revela sua ira. Mas nos versículos 16 e 17, Paulo já havia dito que o “evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” e que “a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé”. Antes de entrar na ira de Deus, por assim dizer, Paulo anunciou o evangelho do poder da salvação dos homens, mediante a justiça revelada e recebida pela fé.
O que está implícito aqui, e explícito em outras passagens bíblicas, é que o homem é pecador, está perdido, condenado, morto em seus delitos e pecados. Nessas condições o homem não pode salvar-se a si mesmo. O único que pode salvá-lo é justamente aquele contra quem ele pecou: Deus. E é aí que podemos observar a grandeza de Deus em sua graça, pois justamente Ele quem sofreu a ofensa é quem oferece redenção para o ofensor.
Tamanha bondade imerecida é chamada de graça. E por ser assim tão “incrível”, é que só pode ser recebida pela fé, ou seja, a pura e simples confiança exclusiva em Deus e em seu caráter bondoso. 
Mas se Deus é assim tão bom, ainda há espaço para a ira? É justamente por isso que a visão bíblica da ira de Deus contra os homens se sustenta.
Tome como ponto de partida o que diz Isaías. Na mesma profecia que diz “vinde como estais”, também diz “deixe o perverso o perverso o seu caminho, e o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor” (Isaías 55.1,7). O Evangelho é o poder de Deus para a salvação daqueles que “não têm dinheiro para comprar o que comer”. O homem “espiritualmente negativado”, falido no pecado, é convidado para a mesa do Senhor a quem ele deve literalmente até a alma. O mesmo chamado que admite que o homem não pode se salvar, diz que seus caminhos devem ser endireitados. Isso só é possível pela fé na obra do Salvador.
Esse evangelho que é poder para a salvação, é um convite gracioso do Santo Deus criador dos céus e da terra. Rejeitar esse convite implica não meramente em uma falta de etiqueta, mas em pecado. O pecador é pior do que um cão que morde a mão do seu dono que o alimenta. A ingratidão nesse caso é dobrada em função do fato de que o homem já era devedor. O homem, uma vez convidado ao arrependimento para que sua dívida fosse cancelada, que procede com soberba, não pode esperar nada além da ira de Deus.
Essa ira de Deus é, portanto, santa e justa. (1) Santa não apenas porque procede daquele que é moralmente perfeito, mas também porque procede daquele que não é como ninguém mais. Não podemos comparar a ira de Deus com a nossa, pois Ele está acima de tudo e de todos, e não está sujeito às contingências do tempo e do espaço. (2) Ela é também justa porque não procede de um capricho, ou é desproporcional a sua causa. A ira de Deus não é uma irritação ou um incômodo, mas a manifestação de um julgamento perfeito, e, portanto, proporcional sobre o pecado dos homens.
O que concluímos disso tudo?
Não podemos negar a manifestação da ira de Deus sobre a humanidade ao longo da história. Assim como nas Escrituras constatamos que guerras, fomes, pestes e outras tragédias naturais são creditadas à Deus, também devemos entender que esse mesmo Deus continua sendo o mesmo.
Mas antes de observamos a ira de Deus, devemos atentar para o fato de que Deus, mesmo sendo ofendido pelo nosso pecado, enviou seu Filho para pagar o preço dessa ofensa, com seu sangue na cruz. Esse é o evangelho que salva, que só pode ser recebido pela fé, porque nada em nós pode nos creditar diante de Deus. 
Deus ao longo da história manifesta sua ira, pois ele não pode deixar o pecado impune. Um Deus bom e santo certamente tomará vingança contra seus ofensores, especialmente aqueles que desprezaram o sacrifício do seu Filho na cruz. 
Mas a ira final ainda está para ser derramada. Antes que isso aconteça, o evangelho nos chama a fé e ao arrependimento, ou seja, a confiança na bondade de Deus, e ao abandono das nossas obras más que tanto ofendem aquele que é Santo.
Que Deus nos ajude!