sexta-feira, 30 de abril de 2010

A religiosidade de cada um


O ser humano é uma criatura religiosa por natureza. Digo, faz parte das pessoas relacionarem-se com alguém ou algo que está acima delas. Isso não se encontra apenas na narrativa bíblica, mas desde os primeiros relatos da história humana em geral. Portanto, negar a própria religiosida como alguns fazem, com a intensão de parecer despretenciosos é um grande embuste.
A questão não é se somos ou não religiosos, mas como nossa religiosidade se manifesta. Isso reflete o tipo de relação e entendimento que se têm sobre quem o está sobre nós. Jesus conta uma parábola com o claro propósito de demonstrar como a religiosidade das pessoas pode ser tão antagônica, mesmo entre aquelas tão próximas. Ele fala a respeito de dois homens que foram ao templo com o mesmo propósito: orar. Um era fariseu, membro de uma rígida seita judaica, o outro era publicano, um coletor de impostos para Roma. Estes coletores via de regra eram associados com pecadores por cobrar mais do que o devido. Era um respeitado membro da sociedade e uma odiada pessoa no templo com um mesmo propósito: elevar suas preces a Deus.

Ambos oravam, um em pé e outra afastado. Um de si para si, o outro sem sequer erguer os olhos ao céu. Um dava graças, o outro batia no peito. Um enumerava suas qualidades e desdenhava do publicano, enquanto este pedia misericórdia e confessava-se pecador. Jesus declarou que o publicano voltou para casa justificado, e o outro não, pois que os que se exaltam serão humilhados, e os que se humilham serão exaltados.

Qual a grande questão entre os dois, afinal, sendo ambos religiosos? Seria o caso de desprezar todas as práticas enumeradas pelo fariseu e adotar uma vida libertina como a do publicano? Certamente que não. A grande questão encontra-se na postura diante de Deus. Como Jesus definiu claramente, a oração do fariseu era de si para si. No caso, Deus era apenas um pretexto para que ele estivesse ali se exaltado diante de todos e sobre o publicano. Aquilo que ele deveria fazer para glória de Deus, em sua oração servia para sua própria exaltação. Sua primeira expressão de “gratidão” era por não ser como os demais pecadores. Mas a Palavra ao contrario disso, afirma que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). O segundo motivo de gratidão do fariseu era a sua agende de boas obras: Jejum e dízimos. Mais um vez repito que a parábola não está condenado o ato de jejuar e dizimar. Todavia é nítido que isso não pode ser usado para a glória pessoal. Jejuamos porque carecemos de Deus em nossas vidas. Nada é mais importante que Ele, e por isso abrimos mão por vezes do nosso alimento diário a fim de expressarmos nossa fome por Ele. Os dízimos são dedicados na “casa de Deus” para o sustento da mesma, e isso não é mais que uma prazeirosa obrigação e sinal de gratidão diante do sustento que Deus provê para os seus filhos. Não se pode querer literalmente comprar glória pessoal pelos dízimos, mas sim devolver parte do que pertence a Deus, como sinal de gratidão e confiança. Assim, na íntegra a oração do fariseu negava a glória de Deus, tomando-a para si.

A oração e a postura do publicano era mais simples e contida. Ele provavelmente não estava em um lugar de destaque, pois o texto diz que estava afastado. Ele também não devia orar em alta voz, pois nem sequer os olhos ele erguia para o céu, quanto mais a sua voz. Além disso ele batia no peito, sinalizando contrição de sua parte. Sua curta oração rogava a Deus o seu favor, ainda que ele fosse pecador. Na verdade, a expressão propício tinha todo sentido particular para aquele lugar. O propiciatório, lugar onde se fazia sacrifícios pelos pecados cometidos pelo povo estava ali no Templo, era a tampa da Arca da Aliança onde os animais eram mortos. Aquele publicano parecia tanto saber quem era, como também com quem falava e onde estava. Ele sabia que era pecador, e que estava falando com Deus dentro de Sua casa.

A justificação é um ato que pertence a Deus. Jesus declara que o publicano desceu justificado, ou seja, ele saiu do templo diferente de como entrou. Ao passo que o fariseu saiu da mesma forma. A nossa religiosidade não pode ser de nós para nós mesmos. Não pode ser pautada em nossos atributos ou práticas religiosas. Nesse sentido, todos sobre a terra são religiosos, e isso em si não lhes acrescenta nada. As orações, jejuns e dízimos não nos recomendam a Deus. Ou fazemos isso em sua dependência e para sua glória, ou estamos entregues a nós mesmos. Nossa religiosidade deve ser segundo quem Deus é, e o que Ele fez e faz por nós. Deus é Senhor e soberano sobre a terra, diante de quem devemos nos apresentar com reverência, temor e fé. Sabemos que seu Filho é o supremo sacrifício, e que a cruz é o lugar da propiciação pelos pecados. Nós pecadores não temos outra esperança a não ser confiar na obra realizada na cruz, e crer que o Pai é quem nos justifica pelo sangue do seu Filho.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Conte o sonho... como sonho.


Apesar do meu blog não ser um diário de sonhos, aqui vai mais um (acho que terceiro). Faço isso em razão do sentimento que alguns sonhos me trazem. Não creio que o sonho seja algum tipo de revelação, mas considero digno de registro alguns que de alguma forma são interessantes. Um colega de ministério e blogueiro até me criticou por isso, mas não vou dizer o seu nome por que seria algo "dantesco" e "noutético" (rsss).

Pois bem, vamos ao sonho. Nele eu cheguava na igreja onde pastoreio para o culto de domingo, porém tudo estava completamente diferente. Primeiro que o templo não era nem o novo e nem o antigo, mas uma casa de esquina com varada de fora a fora. As pessoas tiraram os bancos de dentro do salão para o culto acontecer no quintal ao redor dessa varanda. Havia muita gente, mais do que minha pequena igreja possui em número de membros. Era mais estranho ainda a proposta de liturgia, onde ao invés de um culto simples, sendo eu o pregador, haveriam "atrações" diversas. Vi uma senhora de aparência emburrada e vi muitos jovens preparando-se para o que seria a "apresentação" do culto. Até então eu me contive e deixei acontecer para ver onde ia parar.

Começou então o suposto culto, e o que se viu foi um desfile apresentações artísticas. Não me lembro dos detalhes dessa parte do sonho, mas sei que ninguém pregava a palavra, eram apenas "performances". Um presbítero da minha igreja virou para mim e disse: vou para o cinema que eu ganho mais. Disse-lhe que tínhamos que enfrentar aquilo juntos.

Quando pela primeira vez tentei impedir a continuidade do "show", uma senhora da minha igreja tomou o microfone do sujeito que mais parecia um contador de causos que um pregador, mas passou para outra pessoa. A essa altura eu já estava no "púlpito" (que na verdade era a quina da varanda), e fique ali esperando para eu mesmo tomar o microfone e falar. Fechei os olhos e orei para que Deus falasse àquele povo que eram muitos. Quando abri os olhos dois jovens estavam indo em direção ao púlpito com um saco de pancada e vestido com roupas de luta. Peguei o microfone e disse que podiam se sentar.

Passei a falar para todos ali que não tinha nada contra artes marciais, e que até treino muay thai (o que não é sonho). Falei também que o púlpito não é lugar para tudo aquilo que estava acontecendo. Parafrasendo Paulo em Atenas (Atos 17.22), disse a todos que em tudo pareciam gostar muito de histórias, e que a Bíblia é um livro com muitas histórias. Disse ainda que a Bíblia e suas histórias eram diferentes dos demais livros de história por alguns motivos. Mencionoei então um texto do Evangelho de João onde ele diz:

Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. (20. 30-31)

Nesse momento minha voz começou a falhar, e o sonho foi interrompido. Acordei pensando na diferença entre os registros históricos da Bíblia e dos demais livros. Considerei então dois pontos:

1. As narrativas históricas da Bíblia são fidedignas - podemos confiar em sua veracidade pois não se trata de "uma versão da verdade".
2. Estas narrativas foram registradas conforme a Verdade, de maneira que crendo nela, estamos crendo no Filho de Deus, para que assim tenhamos vida em seu nome. Nenhum outro registro histórico pode salvar o pecador.

Depois de pensar nessaa implicações do texto, pensei também no que poderia ter influenciado para a existência desse sonho. Pela manhã eu tinha conversado com alguns amigos pastores, e falávamos sobre a disposição dos jovens atualmente em transformar programações da igreja em festas que nem de longe apresentam um espírito cristão de comunhão, louvor e edificação para suas vidas. Basta um som alto e um ajuntamente até altas horas da madrugada para o evento ser uma benção. Um outro fator que acredito ter influenciado foi ter assistido essa semana o video de Davi Silva, integrante do ministério Casa de Davi, onde confessa que muito do que ele testemunhou e profetizou até hoje nas igrejas era mentira.

Pois bem, meu sonho foi apenas um sonho que achei interessante registrar. Não tenho nenhuma pretensão de que ele seja entendido como profecia ou que se lhe faça uma alegoria. Conforme determinou o SENHOR, conto o sonho como sonho.

Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, proclamando mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei.
Até quando sucederá isso no coração dos profetas que proclamam mentiras, que proclamam só o engano do próprio coração?
Os quais cuidam em fazer que o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu companheiro, assim como seus pais se esqueceram do meu nome, por causa de Baal.
O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? -diz o SENHOR.
Não é a minha palavra fogo, diz o SENHOR, e martelo que esmiúça a penha?
Portanto, eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu companheiro.
Eis que eu sou contra esses profetas, diz o SENHOR, que pregam a sua própria palavra e afirmam: Ele disse.
Eis que eu sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o SENHOR, e os contam, e com as suas mentiras e leviandades fazem errar o meu povo; pois eu não os enviei, nem lhes dei ordem; e também proveito nenhum trouxeram a este povo, diz o SENHOR.
(Jeremias 23. 25-32)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Silas Malafaia, o novo Tetzel


É claro que nos dias da Reforma existiram outros pregadores itinerantes que propunham a compra do céu aqui na terra. A venda das indulgências, recurso usado pela Igreja romana para angariar fundos para a edificação do seu reino do céu na terra, custou a milhares de pessoas o pão de suas mesas. Afirmava-se que os sacerdotes de então, tinham poder para conceder perdão sobre os pecados. Ainda que livres do castigo eterno pelo uso dos sacramentos, os pecadores podiam ainda sofrer alguma pena temporal no purgatório. As indulgências existiam justamente para diminuir ou remover esse sofrimento a partir de penitências praticadas. Estas começaram a ser negociadas a peso de ouro, tornando-se um mercado extremamente rentável para os papistas do século XVI.

Todavia, a figura de João Tetzel (1465- 1519) tornou-se emblemática para aqueles dias. Incubido de angariar fundos para a construção da Basílica de São Pedro pelo papa Leão X, "trombou" no território alemão com Martinho Lutero e suas Noventa e Cinco Teses. Graças a Deus pelo reformador, que não somente refreou essa imundícia, como também alavancou um processo pelo qual o mundo inteiro seria impactado pela pregação da Palavra de Deus. Como uma das partes da antítese da Reforma, Tetzel tornou-se memorável até os dias de hoje. Ele foi o agente maligno mais próximo do "epicentro" da Reforma. Como Satanás na vida de Jó, participou involuntariamente do mover de Deus naquilo que marcaria toda a humanidade a partir daquele século.

Hoje os "Tetzel's" modernos encontram-se mais dentro das igrejas descendentes da Reforma, que necessáriamente na Igreja romana. Centenas de vendedores de indulgência surgem com suas banquinhas trocando bençãos por dinheiro. Trata-se de uma verdadeira "feira da fé", tanto nas ruas como na mídia. É bem verdade que o chamariz não é mais o livramento das penas temporais sobre o pecado, mas a simples compra de bençãos terrenas emitidas do céu.

Aliás, pecado é um tema que não tem mais o mesmo peso de séculos atrás. Com uma igreja altamente secularizada, falar em punição sobre pecados não assusta quase ninguém, e nem é um bom recurso de marketing para atrair fiéis clientes. Fala-se diretamente de posses, bens e produtos adquiridos para o uso nesta vida. Vender o céu na terra tem hoje o significado de traze-lo para o "aqui e agora" nas mais variadas ambições que alguém pode ter. Para os mercadores da benção, a verdadeira pena temporal da qual os "santos" devem escapar é viver abaixo do padrão de riqueza estipulado pela sociedade consumista, ou em outras palavras, não ter menos poder aquisitivo que o "vizinho ímpio".

Destaco nesse texto, dentre os vários modernos vendedores de indulgências, a figura de Silas Malafaia. Fora outras cretinices teológicas já afirmadas (como seu namoro com a teologia relacional), sua sede por dinheiro recentemente parece não ter mais limites. Pouco antes do fim do ano passado, juntamente com o falso profeta Morris Cerullo, foi feito um desafio de R$ 900,00 para que Deus liberasse todas as benção ainda não dadas. Agora, como num recall (parece que a benção do Cerullo não funcionou como o esperado), com a ajuda de outro falso profeta, Mike Murdock, foi lançado o desafio de libertar 1 milhão de almas a partir da doação de mil reais de mil "parceiros" voluntários. Trata-se de um montante final de 1 milhão de reais, e a incrível conclusão que se pode chegar por esse calculo - R$ 1.000.000,00 divididos por 1.000.000 almas = uma alma por 1 real, o que indica que o sangue de Jesus vale menos que uma moeda. A promessa, praticamente a mesma de Cerullo, é a liberação de bençãos que o fiel cliente da banquinha de Malafaia ainda não possui. Pode ser desde um jatinho particular a uma tv LED.

Como disse em outro texto desse blog, não sei onde isso vai parar. Não sei se Deus levantará outro "Lutero" para deter tamanho mal propagado por esses homens de belial. No caso do Silas, não sei mais o que ele ainda pode pedir aos seus clientes. Entretanto, sei que o mesmo espírito que estava em Tetzel, hoje habita no televisivo vendedor de almas. Sei também que um dia, ele e todos os demais vendilhões do templo, do alto de seus milhões adquiridos do suor alheio, ouvirão: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? (Lucas 12.20)
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Seguem os links dos videos da banquinha do Silas:

www.youtube.com/watch?v=SdxIRbm3gU8&feature=related

www.youtube.com/watch?v=gajL4e3JlRI&feature=related

www.youtube.com/watch?v=QXyTDsbjsnc

sábado, 3 de abril de 2010

E o filho se torna o pai...


Não é o que parece! A frase acima não é uma afirmação modalista. Apenas compartilho nesse espaço que Deus me concedeu a graça de ser pai. Candice e eu tivemos hoje a confirmação do teste de gravidez: POSITIVO!

Filhos são herança do SENHOR (Salmo 127.3), e por isso sou muito grato a Deus por nos conceder essa benção. É Ele o doador e mantenedor de nossas vidas, e por isso somos seus. Posso aqui inverter os papéis de Lucas 15. 31 - posso dizer ao meu Pai que tudo que é meu é dele. A minha vida é do meu Pai, e o meu filho também pertence a Ele.

Deus já conhece essa criança que até ontem era desconhecida de nós. Deus conhece toda a sua história.

Pois tu formaste o meu interior tu me teceste no seio de minha mãe.
Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem;
os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra.
Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda
. (Salmo 139.13-16)


Pai, obrigado por ser seu filho. Obrigado pelo teu Filho, meu irmão Jesus de Nazaré. Obrigado pelo filho que nos deste. Sejamos todos nós um no SENHOR!