quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A Patologização do Pecado I


O pecado pode ser considerado uma pandemia? Seria ele uma doença alastrada em toda a humanidade desde da queda de nossos primeiros pais? Em certo sentido entendo que não, mas em outro vejo que sim. Não estou sendo contraditório, eu explico. Neste primeiro texto exponho como o pecado não pode ser entendido como enfermidade. No próximo, trato da proximidade e semelhanças que existem entre pecado e doença.

De alguns anos pra cá o pecado vem sofrendo uma certa alteração em seu sentido essencial, e vem sendo retratado como se fosse uma doença. É a patologização do pecado, ou seja, o processo pelo qual trata-se um mal moral como se fosse uma doença. Ora, uma doença deve ser entendida enquanto uma disfunção do organismo, uma anomalia que causa dano a saúde do indivíduo. Isso está primariamente relacionado ao corpo humano, sua constituição física. Apesar das mais variadas causas que as doenças podem ter, em si, a doença é um agente amoral. Sobre ela não se pode atribuir culpa, pois também é um agente impessoal.

Quando o pecado é visto como doença, e o pecador como doente, terceiriza-se a culpa do mesmo, e torna-o em uma vítima das circunstâncias. O tratamento para uma enfermindade não significa uma tranformação moral, mas a priori a aceitação orgânica de algum composto (remédio) que possa expulsar a doença do organismo e adequação à hábitos salutares. Tudo isso passa muito longe da realidade do pecado.

Existem, ao meu ver, duas formas pelas quais se têm patologizado o pecado: a espiritual e a psicológica. Esta primeria se dá quando o pecado é atribuido diretamente à demônios que têm legitimidade sobre a pessoa por algum pacto feito por ele ou por alguém relacionado a si. A solução deve ser encontrada em uma sessão de descarrego ou quebra de maldições. Os babalorixas evangélicos que se utilizam das mais variadas técnicas místicistas para "libertação". Esses miseráveis desconhecem Colossenses 2.14,15. Pode parecer extremamente cômodo ver os seus pecados atribuídos ao Diabo, mas se assim o fosse, Jesus não teria que morrer na cruz, mas simplesmente expulsar todos os demônios da terra.

A outra forma de patologização se transveste de um ar mais contido, aparentemente mais culto e menos ocultista. Mas isso a outra ponta da mesma ferradura. Atribuindo o pecado a algum tipo de trauma psicológico sofrido em algum momento da vida, troca-se apenas a suposta causa (de um espírito para um evento), mas é mantida a estratégia de tirar do indivíduo a responsabilidade pessoal. Algum trauma sofrido não dá a ninguém o direito de pisar a lei de Deus, como se a obendiência estivesse vinculada a um histórico de vida feliz e perfeito. O salario do pecado é a morte, e qualquer sofrimento menor que esse não dá ao ser humano o direito de rebelar-se contra Deus. Uma safra de psicólogos formados em cursos de fim de semana ministrados em igrejas, têm se aventurado a tratar em grupos de apoio pessoas escravas do pecado. Acreditam que perdoando a si, aos outros, ou até mesmo a Deus, o indivíduo pode ser restabelecido e se ver livre de suas mazelas.
Tanto na espiritualização, quanto na psicologização, recorre-se ao passado, a um pacto ou um trauma infligido pelos pais aos filhos, o que obviamente contraria a Palavra de Deus quando se diz:
Naqueles dias, já não dirão: Os pais comeram as uvas verdes, e os é que filhos se embotaram. Cada um, porém, será morto por sua própria iniqüidade; de todo homem que comer uvas verdes os dentes se embotarão. (Jeremias 31. 29,30)

O pecado é um mal moral e tem como causa primária e maior o próprio indivíduo. Ele não é vítima, mas réu, e deve responder por seus atos e pensamentos que desacatam a santidade de Deus. É extremamente covarde e estúpido atribuir a causas externas ou terceiros essa responsabilidade. A disfunção que existe é de ordem moral, e deve ser tratada pessoalmente contestando o pecador. Em suma, a transferência do pecado, seja com argumentos espiritualistas ou psicológicos, não coincide com a verdadeira cura que a Bíblia apresenta. Não é necessário ao pecador fé em Jesus Cristo, sua cruz e ressurreição. Não demanda a morte do velho homem e um novo nascimento, mas simplesmente um ajuste, ou uma melhora efetuada pelas terapias ou despachos praticados em igrejas evangélicas. Tudo isso nega a verdadeira enfermidade em que o homem se encontra: A Morte Espiritual.

Um comentário:

Abraão disse...

Muito bom! Obrigado Pastor Adalberto.