quarta-feira, 22 de maio de 2013

Voltando a falar de Jó


Depois de quase quatro anos, volto a esse post como prometi ao fim primeiro. Além da soberania de Deus atestada sobre todas as coisas, no caso em especial, sobre Satanás, quero destacar outro aspecto interessante nas primeiras linhas desse livro. Em seu papel de acusador, Satanás traz a tona sua perspectiva "teológica" sobre em que se baseia um relacionamento com Deus.
Satanás é chamado para uma conversa pelo próprio Deus. É curioso o fato de Deus estar "interessado" no itinerário de Satanás, como se não soubesse todas as coisas. É certo que sua pergunta não foi motivada por falta de conhecimento, uma vez que Ele é onisciente. "De onde vem?" e "Observas-te meu servo Jó?" são perguntas que revelam as atividades de Satanás tanto em relação a criação de Deus, como também de suas criaturas. Deus sabe todas estas coisas, mas questiona a fim de que seja registrado que Satanás se ocupada delas. Mas, ainda mais interessante é quando na segunda pergunta, Deus diz que Jó é seu servo, que é incomum, íntegro e temente a Ele. Deus não somente revela a ação do diabo, mas também seus pensamentos íntimos, sua leitura das circunstâncias.
Ao ser instigado pelo curriculum de Jó, Satanás responde a Deus com uma outra pergunta em tom de acusação: "Porventura, Jó debalde teme a Deus?". Sendo acusador (Apocalipse 12.10), não perde tempo em lançar sobre Jó a sombra de uma pessoa interesseira, de que seu temor por Deus só existe em razão das bênçãos recebidas.
É curioso, mas se observamos um pouco, essa acusação casa perfeitamente com a Teologia da Prosperidade. Satanás salientou que o temor de Jó não era sem causa, mas por motivos egoístas. Que se lhe fossem tirados os bens com quais fora cercado, seu amor se tornaria em ódio e blasfêmia. Ou seja, no entendimento do diabo, Deus por si não significada grande coisa para Jó, a não ser quando acompanhado das riquezas que lhe foram conferidas.
Sistematicamente os pregadores da teologia da prosperidade tem propagado justamente essa base relacional entre o crente e Deus. Que se Deus não abençoar o indivíduo, ele não é digno de reverência alguma. Que Deus para ser Deus tem obrigação de prover riquezas para ser crido.
Deus "aceita" o que foi proposto por Satanás, para que se soubesse o que realmente estava no coração de Jó. Ele perdeu tudo, menos a vida e a esposa. Seus filhos, bens e saúde foram como que instantaneamente tirados, e ainda assim o servo de Deus não pecou com seu lábios. Sua mulher, quando só lhe restava a vida e tumores malignos por todo o corpo, sugeriu-lhe o fim de seu sofrimento com imprecações contra Deus. Mas ainda assim Jó preservou sua integridade.
Na opinião dos profetas da prosperidade, um Deus que tira o que deu, que concede o mal além do bem, não é digno de adoração. Mas Jó afirma o contrário. Mesmo sem saber do que se tratou entre Deus e Satanás, ele reconhecia que o Senhor em sua soberania tinha direito sobre sua vida e tudo que lhe havia conferido. Ainda que Satanás tenha sido o agente das moléstias que mudaram sua sorte, adorando a Deus, Jó ressalta o direito divino de fazer o que bem entendesse com sua vida.
Certamente devemos aprender com a experiência de Jó, de que Deus é soberano, e tem autoridade e direito sobre todas as coisas. Que em toda e qualquer circunstância Ele é digno de adoração. Mas se de fato amarmos a Deus tão somente pelas bênçãos recebidas, Satanás estará certo em nos acusar como fez com Jó. E também será certo que não seremos chamados por Deus de seus servos.

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