terça-feira, 22 de outubro de 2013

Entre ser livre e escravo, e ser um escravo livre


É possível que uma pessoa livre seja escrava? Ou ainda, que um escravo seja livre? Apesar da antinomia, creio que a resposta é sim para ambas as questões. Assistindo ontem ao filme Serra Pelada pensei muito sobre tudo isso. Como uma pessoa livre pode se fazer escrava, e um escravo ser encontrado livre. Como de costume, não quero ser spoiler (alguém que conta o fim de um filme ou livro, um estraga prazer), e com isso me detenho apenas a sinopse do filme.
A trama é simples, dois amigos de infância saem de São Paulo no inicio da década de 80 e seguem para Serra Pelada. Um professor sem emprego, com a esposa grávida, e um fortão sem profissão. Ambos buscam o sonho dourado de ficarem ricos. Ambos se perdem nos barrancos de terra e ouro do maior garimpo a céu aberto que o mundo já conheceu.
O que me chamou atenção é como algo que deveria trazer liberdade pode fazer de alguém um escravo. Em tese, o ouro deveria tornar suas vidas melhores, mas não é o que aconteceu. Todo sonho cultivado vai por água abaixo quando se torna um fim em si mesmo. Como prometi, não falo mais nada sobre o filme a fim de não aborrecer ninguém. Vale a pena assistir não apenas pela obra em si, mas também porque é o retrato da terrível realidade, não só daqueles dias, mas de milhares de zonas de garimpo espalhadas no Brasil e no mundo.
Partindo para a alegorização desta obra (sim, podemos alegorizar um filme, mas não a Bíblia), vejo muitos barrancos de garimpos na vida das pessoas. Vejo gente que em busca de um sonho de tornar sua vida melhor, embrenhou-se em um grande pesadelo. Tornam-se escravos daquilo que supostamente lhes traria felicidade. Não vêem diante de si outra possibilidade que senão a de satisfazerem a si mesmos, ainda que isso lhes custe a própria vida. Como bem pontuou Reverendo Augustus Nicodemus sobre o texto de Romanos 1.18-32: o que buscam como prazer, Deus lhes concede como maldição.
Certa feita, falando de Jesus para uma prostituta, perguntei porque ela estava nessa vida. Ela respondeu que tinha sonhos de consumo; uma casa, carro, móveis. Disse-lhe que estava vendendo algo muito mais precioso para comprar coisas de tão pouco valor. Ou não é a vida mais que a comida, e o corpo mais que as roupas? (Mateus 6.25)
Mesmo pastores têm feito das igrejas verdadeiros barrancos de garimpo. Num desejo desenfreado de garantir-lhes a sobrevivência, escravizam outras pessoas e a si mesmos. Não lhes ocorre uma vida independente da igreja. Essa é uma frase tirada de seu contexto pode sugerir que estou dizendo que um pastor não tem direito ao salário, ou talvez que pode viver alheio ao rebanho. Nada disso! Quero dizer que a verdadeira dedicação ao rebanho do Senhor, é quando não fazemos da Igreja nossa tábua de salvação. É quando pastoreamos não por força, sórdida ganância ou por posse, mas por sujeição e submissão ao Senhor, nosso e da Igreja, na esperança de sua manifestação (1 Pedro 5.1-4).
Somente somos livres de fato quando por amor nos reconhecemos escravos de Cristo. Os escravos hebreus não podiam ser mantidos assim em Israel por mais de sete anos, a não ser que, por amor a seu senhor, deixassem sua orelha ser perfurada por uma sovela (Deuteronômio 15. 16,17). Pelo alto preço que Jesus pagou, é que uma pessoa é livre de fato, tendo sua orelha perfurada pelos pregos da cruz do Calvário. E se o próprio Filho de Deus, o Senhor do Universo, fez-se escravo quando veio a este mundo, quem sou eu para achar que posso me fazer livre?

Um comentário:

Erika disse...

Que possamos ser escravos de Cristo a cada dia!