quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Toalha ungida ou poder no nome de Jesus


O texto de Atos 19. 11,12 poderia ser considerado uma pérola para a equipe de marketing da Igreja Mundial do Poder de Deus. Como leitura da Bíblia não é o forte dessa turma, penso que não descobriram esse texto, pois nunca vi Valdemiro Santiago mencionar essa passagem para justificar a "toalhinha sê tu uma benção". Nessa passagem somos informados que lenços e aventais do uso pessoal de Paulo eram usados como amuletos para curas e exorcismos. Como todo texto fora do contexto, seria muito fácil sustentar o fetiche praticado na IMPD e outras tantas  "igrejas concorrentes" que atribuem a qualquer objeto ungido poderes mágicos. Contudo, a Escritura interpreta-se a si mesma (CFW* 1.9), e por isso podemos ter o entedimento claro desta passagem.
Em Atos 19 encontramos Paulo chegando em Éfeso. Trata-se de um dos textos nevrálgicos a partir de Atos 1.8, quando Jesus disse que seus discípulos receberiam poder ao descer sobre eles o Espírito Santo, e que seriam suas testemunhas em Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra. Observamos a ordem da concretização dessas palavras de Jesus em Jerusalém, no capítulo 2, em Samaria, no capítulo 8, e na Judéia, capítulo 10. Agora (19.1-7), Paulo chega a um grupo de discípulos que ainda não haviam ouvido sobre o Espírito, que simplesmente tinham sido batizados no batismo de João. Eles ouvem a respeito do verdadeiro intento do batismo de João, e consequentemente são batizados em nome de Jesus. Paulo impõe-lhes as mãos, e o Espírito vem sobre eles, falando em línguas e profetizando. Assim, em Atos 19 cumpri-se o último e definitivo "itinerário" do Espírito, a partir do qual os confins da terra seriam alcançados pelo testemunho de Cristo. Abrindo um parentese sobre esta passagem, é por isso que não necessitamos que o Espírito "venha como em Pentecostes", pois ao longo destes textos Ele já veio. Seu derramamento em Atos foi suficiente para o testemunho de Cristo até os confins da terra, e portanto, até hoje.
Mas voltando ao nosso ponto, Paulo continua ensinando em Éfeso, primeiro na sinagoga, por três meses, e depois em um lugar pertencente a um homem chamado Tirano (ou cognominado assim) por cerca de dois anos. O versículo 10 nos diz que isso "deu ensejo para que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus quanto gregos". O que segue daí no texto aconteceu dentro deste período de ensino, pelo qual o poder de Deus vinha sendo propagado mediante a pregação do evangelho. É dentro desse contexto que podemos entender tanto o episódio das toalhas, como também a surrada que os exorcistas levaram do demônio.
Primeiro somos informador que "Deus fazia, pelas mãos de Paulo, milagres extraordinários". Isso, como claramente diz o texto, é o que Deus fazia, por intermédio de Paulo. Agora, o fato de [outros] levarem lenço e toalhas de Paulo, para curar enfermos (e possessos), não quer dizer necessariamente que se tratava de algo promovido pelo apóstolo. Mas, ainda assim, não devemos admitir que as enfermidades e os espíritos malignos eram banidos em tais práticas? E agora José?
Devemos ter em mente que apesar destes sinais paralelos, não era ainda assim que Deus estava sendo glorificado. O pragmatismo correspondia a expectativa dos pagãos, acostumados a feitiçaria (v.19), não de Deus. O evento promovido por judeus exorcistas nos fazem enxergar melhor a coisa toda. É dito que os sete filhos de Ceva, um sumo sacerdote, praticavam exorcismo, e que resolveram usar o nome do "Jesus a quem Paulo pregava", para expelir um demônio. É interessante notar o fato de que Jesus era um nome comum na época, e que por isso aqueles exorcistas fizeram questão de "informar" o espírito maligno que não se tratava de qualquer Jesus, mas o de Paulo. É nítido que estes judeus não eram convertidos ao Senhorio de Jesus, mas que por supertição achavam que podiam usar aquele nome anunciado pelo apóstolo como se fosse um "Abracadabra". Apesar de não serem gentios, eram tão pagãos quantos eles. Achavam que podiam manipular uma palavra para o efeito sobrenatual desejado - o nome disso é feitiçaria. O demônio, que sabe muito bem quem é Jesus (Marcos 5.7), explica que também conhece Paulo, mas, que, eles não. E estes sete exorcistas são surrados e desmoralizados publicamente.
Este evento trouxe a tona naquela região, tanto para judeus como para gentios, que o entendimento deles a respeito do evangelho estava equivocado. O nome de Jesus foi engrandecido entre todos de forma pública. É dito que "muitos dos que creram vieram e confessando publicamente as suas próprias obras". Disto podemos deduzir que apesar de terem crido anteriormente, não haviam compreendido a fundo a santidade do nome de Jesus, de que não se tratava de um amoleto, ou mais uma divindade, e sim o SENHOR. O impacto se deu também sobre os feiticeiros, pois abandonaram completamente suas práticas místicas. As obras literárias de ocultismo foram queimadas expontaneamente, sem se importarem com o valor material que aquilo tinha. Ainda mais a frente, apartir do versículo 23, esse abandono das práticas pagãs traz prejuízo aos ouríves que produziam nichos para a deusa Diana. Em outras palavras, o nome de Jesus de fato desestabilizou o reino das trevas em Éfeso, reconfigurando até a economia local.
Pois bem, voltando ao entendimento sobre os lenços e toalhas de Paulo. Creio que tais práticas não correspondem ao que agrada a Deus, pois os sinais devem sempre servir para glória de Deus e não de homens. Ainda que tais objetos tenham de fato servido para curas e expelir demônios, isso não quer dizer que fosse essa a intensão de Deus para aquele povo. Apesar da iniciativa deles em usar tais objetos, na verdade era Deus quem os estava provando ali. Os sinais que Deus realizara através de Paulo apontava para si. Mas a reciclagem dos objetos de Paulo, dizia respeito a ele mesmo. Já não era mais Deus quem estava sendo glorificado entre aquela gente, mas o próprio Paulo, e sabemos que não por vontade própria (Atos 14.14-18).
Consequentemente, o nome de Jesus deve ser reverenciado. Certamente os sete judeus tinham ouvido falar de Jesus por meio de Paulo, mas achavam que se tratava de nome mágico, que podia ser usado para os seus próprios fins. Assim como Simão quis comprar o poder do Espírito (Atos 8.18,19), este exorcistas achavam que podiam tomar o nome de Jesus como um instrumento de trabalho. Aprenderam de forma vexatória que não se pode manipular esse Nome. O demônio, instrumentalizado por Deus nessa passagem, deixa claro que não se trata meramente da verbalização da palavra "Jesus", mas da autoridade que se encontra em sua pessoa, sendo que isso era o que Paulo pregava. Assim como os pagãos que usavam as tolhas de Paulo, eles pensavam que podiam usar o discurso de Paulo. Mas fico claro que o nome de Jesus diz respeito a sua pessoa e obra, cridos para a salvação, e não para qualquer uso pragmático.
O efeito final destes acontecimentos, ao contrário do que se podia esperar após o fracassado exorcismo, foi justamente a conversão verdadeira daquele povo, tanto judeus quanto gregos. O nome de Jesus foi compreendido no sentido exato do que representa, ou seja, seu Senhorio sobre todas as coisas. Eles publicaram seus pecados como reconhecimento de sua miserabilidade e santidade em Jesus. E também os feiticeiros abandonaram suas práticas abrindo mão de seus livros. Uma paráfrase quase perfeita seria como marinheios que aportados em uma terra estrangeira, e que queimam seus navios para nunca mais voltarem. Em suma, o nome de Jesus mudou suas vidas, pois é o único que tem poder para não somente curar ou libertar, mas dar vida, salvando-os da morte do pecado.
Em nossos dias o paganismo dentro das igrejas do evangelho fácil, na pregação dos pastores feiticeiros, tem-se feito o mesmo uso de toalhas e outros objetos ungidos, e do nome de Jesus. Curas e libertações têm sido publicadas em sessões de espiritismo "gospel". A glória tem sido atribuida a homens e não a Deus. O arrependimento não existe nos lábios daqueles que se dizem crentes. Certamente eles desconhecem o propósito dos sinais descritos na Bíblia, a glória de Deus e o verdadeiro poder no nome de Jesus. Não adoram a Deus verdadeiramente, e não se converteram de seus caminhos maus. Caso não se arrependam, chegará o dia em que não boca do demônio, mas do próprio Deus ouvirão: "Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade!" (Mateus 7.21-23)
(*) Confissão de Fé de Westminster.

sábado, 12 de janeiro de 2013

A Simplicidade do Poder de Deus


Creio que a maioria das pessoas conhecem a história do general assírio Naamã, descrita em 2 Reis 5. A cura de Naamã talvez seja um dos milagres mais famosos realizados por Eliseu. O próprio Senhor Jesus o menciona no Evangelho de Lucas. Sem dúvida, muitos pontos podem ser observados neste texto, mas gostaria de específicamente me focar nos versículos 9-14, e falar sobre a simplicidade que se pode encontrar na Palavra de Deus.

Naamã, que obviamente creu no que disse a sua jovem escrava, de que em Israel havia um homem de Deus que podia curá-lo, e agora estava na porta da casa do profeta para ser ali restaurado de sua lepra. O que se sucede antes de sua cura, é algo curioso, visto que demonstra que a fé de Naamã, ainda que convicta de que seria curado, não é ainda uma fé verdadeira, depositada na Palavra de Deus.

De fato, Eliseu não foi de todo receptivo para com o estrangeiro, tão somente enviou seu mensageiro para dizer-lhe que simplesmente se lavasse sete vezes no rio Jordão. Isso trouxe ira ao coração do assírio, pois não correspondia ao modus operandi que tinha em mente sobre o seu restabelecimento.
O general, certamente em seu paganismo, descreve sua espectativa como algo extravagante, teatral, estraordinário. Mas foi frustrado por uma ordem simples. Até mesmo seu patriotismo surgem quando compara os rios da Assíria com o Jordão, que diga-se de passagem, não era tão limpo. O texto nos faz pensar que ele já estava disposto a voltar para sua terra, remoendo sua indignação, quando foi convencido por seus subordinados que algo tão simples de se fazer não podia ser descartado, uma vez que algo mais difícil ele o faria.

O relato nos diz que ele fez consoante a palavra do homem de Deus e foi curidado de maneira estraordinária. Pois bem, dois pontos desejo ressaltar sobre essa cura. Creio que Naamã, como afirmei acima, não era um homem crente verdadeiro. Que apesar de ter sido instrumento de Deus para juízo sobre Israel, e ter acreditado nas palavras de sua escrava israelita sobre a cura pelo profeta, isso não fazia dele uma pessoa salva. Penso que conforme o texto descreve posteriormente, ele se converte ao Deus verdadeiro (v.15-19). Mas os pontos nessa passagem dentro do texto que desejo acentuar, podem dizer respeito tanto a crentes, como certamente refletem os incrédulos.

Aquele homem era simplesmente um pagão superticioso, que pela descrição que faz do processo que esperava em sua cura, imaginava que o Deus de Israel era simplesmente mais um dentro muitos, e que o profeta não passava de mais um curandeiro. Ele não duvidava do que esse Deus israelita podia fazer, ele apenas não sabia que Ele é o único. Sua mentalidade animista concebia um ritual voltado para si, ondo um deus invocado (domesticado) atenderia ao profeta e o curaria. Nada mais antropocêntrico do que esse domínio sobre uma divindade.

Mas ele foi frustrado a começar pelo fato de que o profeta não necessariamente o recebe, mas apenas dá ordens sobre o que deve fazer. Sendo estrangeiro em Israel, ele é colocado em seu devido lugar, apesar de politicamente estar em vantagem sobre Israel. Podiam ser mais ricos, e possuir rios mais limpos e aprazíveis aos olhos, mas em Israel havia profeta (v.8). Talvez além de sua jactância patriótica sobre os rios, também imaginava que neles haviam propriedade mágicas - talvez.

De qualquer forma, essa soberba é visível nos ímpios por vezes quando “buscam a Deus”. Quando rogam seu poder, mas que se acham e posição de domínio, e em condições vantajosas como o assírio pensava. Isso não é fé, mas apenas supertição. E ainda que Deus responda misericordiosamente alguma petição feita nessas condições, isso não significa salvação. Em João encontramos Jesus fazendo sinais a homens, o que necessariamente não eram acompanhados de fé verdadeira da parte destes (2.23-25; 6.24-27).

É triste é perceber que alguns que são (ou se dizem) crentes, imaginam que podem realmente determinar como Deus deve fazer algo. Começando pelo fato de achar que Deus sempre precisa curar, o que o próprio Senhor Jesus desemente quando menciona essa passagem em Lucas 4.27. A questão não está na fé de Naamã, mas na graça demonstrada para com ele, homem ímpio e egocêntrico. Jesus está justamente afirmando que a graça de Deus alcançoou até mesmo um estrangeiro pagão, o que deveria despir qualquer judeu de sua soberba nacionalista.

O que observo em seguida nessa passagem, obviamente relacionado a tudo isso, é que o sinal foi consoante a Palavra de Deus dada pelo profeta. Havia profeta em Israel, e isso não exalta a pessoa de Eliseu em si, mas ao fato de que Deus escolheu se revelar por intermédio daquele povo. Um povo naquele momento dominado pelos assírios, quebrado em suas forças humanas, mas ainda assim eleitos de Deus. Devemos nos ater a nossa humilde condição como "povo eleito" (1 Coríntios 1.26-29), e nunca sucumbir a soberba. É curioso ainda como Deus usa subalternos de Naamã para o convencerem pela lógica. Em outras palavras, já chegamos até aqui, o que custa submeter-se a algo tão simples. Se fosse algo extravagante ainda assim seria acatado, quanto mais alguns simples mergulhos. Devemos assim também ouvir o que é sensato, ainda que venha de alguém possa ser considerado mais simples.

Não se tratava de uma simpatia, nem de água milagrosa do Jordão como os saltimbancos da fé prometem na TV hoje em dia. Tratava-se do que Deus revelava ali a respeito de si, e que Naamã compreendeu claramente quando foi curado (v.15). Era a Palavra que o estava reestabelecendo, regenerando sua carne. É Deus quem pode remover a lepra não só da carne, mas também do coração, como nenhum outro deus o pode fazer. O instrumento para tanto é sua Palavra, que dada aos profetas, têm o poder de salvar. A importância do sinal está naquilo para onde aponta, e que sempre nas Escrituras é revelar o verdadeiro Deus. Nisto consiste nossa salvação, não meramente nas benecesses que podemos receber, como cura, ou a vitória em uma guerra, mas no fato de crermos no Deus criador e salvador.

Uma pessoa crente não pode perder de vista isso, que a Palavra é o instrumento de Deus para nossa salvação. E que esta palavra é simples (2 Coríntios 11.3). O evangelho é estremamente simples, pois nos fala de Deus que se fez homem, que em tudo foi obediente ao Pai, e que morreu na cruz em nosso lugar. Que Ele ainda ressuscitou e nos chama a crer nEle. É simples assim. Em nossa vida cristã, somos chamados a simplicidade pela leitura bíblica, a oração e a comunhão com os irmãos. O que há de tão difícil nisso? Apenas a dureza do nosso coração, como a de Naamã, que desejava sua cura por seus próprios métodos antropocêntricos. Somos chamados ao que é simples, que não depende de nós mesmos. Se fosse algo difícil, como muitos acreditam e o fazem, de nada adiantaria, pois fora da Palavra somos estrangeiros, estranhos a Promessa (Efésios 212).

Assim, a simplicidade do evangelho nos é apresentada pelo Filho do Homem, aquele que não somente era profeta, mas também a própria Palavra de Deus encarnada. Desta sorte, somos chamados a nos humilhar em obediência a Ele, para o que é simples, mas ao mesmo tempo, poderoso para nos salvar e restaurar-nos para sempre.