Ontem, durante a entrevista do candidato a presidente Jair Bolsonaro no
programa Roda Viva, um jornalista afirmou que Jesus foi um refugiado. Ele
questionava incoerência do candidato por suas supostas críticas aos refugiados
que entram em massa no país. Uma vez que Jair se diz cristão, e sendo Jesus um
refugiado, como poderia o candidato menosprezar essas pessoas? Creio que o
jornalista se referia ao fato de que Jesus com sua família, por ordem divina,
foi ao Egito para escapar da perseguição do rei Herodes contra ele (Mateus 2.13).
A despeito da intenção política promovida na entrevista, creio que existem algumas relações dignas de ponderação na identificação proposta pelo jornalista sobre Jesus e os refugiados.
É evidente, nesse sentido, que existe uma co-relação entre os refugiados hoje com fuga de Jesus
ainda criança para o Egito. De fato, existem paralelos que devem nos fazer
pensar na crise humanitária enfrentada hoje em diversos países, tanto do
Oriente como do Ocidente, e as ameaças que levaram Jesus e seus pais a se
retirarem para o Egito. Porém, mais do que um debate sobre política
internacional, a busca por refúgio é um tema que deve ser considerado sobre todos, seja em sua forma mais evidente ou concreta no cenário mundial, ou em circunstâncias relativas e existenciais de cada um.
O que se deve levar em conta primeiro em tudo isso, é que os paralelos não são exatamente iguais. Quando observamos o cenário internacional nos dias de
Jesus em comparação aos nossos dias, nos deparamos com contextos consideravelmente diferentes. A atual conjuntura
consiste de nações politicamente organizadas sob governos autônomos. A despeito
da paridade entre muitas nações, cada país tem seus limites, leis e reservas
quanto a imigração. Nos dias de Jesus, no mundo civilizado, as nações subsistiam sob a autoridade de
Roma, no contexto da Pax Romana, e o deslocamento entre os países dentro
do Império era livre. A diáspora dos judeus era uma realidade já há muitos
séculos, por inúmeros fatores. Portanto, sair da Palestina para outros lugares
do Império não consistia necessariamente em um tipo de imigração ilegal, ou uma
marcha desesperada como hoje se vê entre as nações. Contudo, apesar deste aspecto histórico, outras circunstâncias observáveis em nosso tema são
convergentes em suas similitudes.
Por um lado, se a configuração política internacional de outrora não era a mesma de
hoje, podemos observar que por outro prisma que a causa da fuga de Jesus para o Egito é, sob alguns aspectos, semelhante aos motivos que levam milhões de pessoas procurarem refúgio
em outras nações nestes últimos tempos. Foi a violência do rei Herodes, o seu
desejo de morte ao Messias, que fez com que Jesus precisasse mudar da Palestina para o
Egito. A loucura do tirano déspota exterminou milhares de meninos abaixo de até
dois anos de idade pelo simples fato de não ter descoberto o domicílio do recém-nascido Rei. Assim também hoje, muitas vidas são ceifadas em países
dominados por governantes homicidas. Em países de religião islâmica, conflitos
entre etnias que compartilham a mesma fé, e ao mesmo tempo compartilham o ódio
uns pelos outros, deixam incontáveis famílias destroçadas. Mais próximos de
nós, em nosso continente, países vizinhos regidos por governos regidos por políticas de
Esquerda, promovem igualmente a violência e a fome, levando inúmeras famílias a evasão de sua própria pátria. O que está por trás de tudo isso é
o pecado da violência, do ódio ao próximo, da força usada contra o mais fraco
por amor ao poder. Nesse aspecto, a fuga de Jesus é realmente similar a busca dos refugiados por um lugar seguro em outros países. Todavia, apesar dessa semelhança, há
ainda uma notável diferença.
Esses governos que hoje promovem o horror e a necessidade de fuga de seu
próprio povo, não têm como alvo uma pessoa específica. É a sandice dos que
acreditam que a morte das pessoas que se opõe ao seu poder seja o preço a ser
pago para sua perpetuação. O disparate de Herodes também visava sua perpetuação
no poder, mas não porque se sentia segura para fazer o que bem lhe parecesse. O
rei edomita sabia que um menino nascido naqueles dias seria o Rei de Israel, e que
o seu Governo não teria fim. Ele temeu sobremaneira aquela criança. Seu ódio, por
causa do destrato dos reis magos, não encontrou nome nem endereço do recém-nascido
rei, e por isso muitos pequeninos foram mortos. Por perceber que seu reino tinha seus dias contados, apegou-se
ao engodo de que poderia perpetuar-se para sempre com a morte do pequeno Rei.
Ledo engano.
A ira de hoje é aleatória, tem causas diversas, e por vezes
aparentemente antagônicas. Ao mesmo tempo que regimes políticos erigidos sob a
afirmação de que a religião é o ópio do povo, religiosos monoteístas valem-se igualmente
de métodos que promovem a morte dentro de sua própria pátria. “Todos iguais, mas uns
mais iguais que os outros”. Política e religião se entrelaçam na intenção de
fazerem seus nomes célebres ao custo de sangue derramado. Isto é o que está no âmago do
êxodo de milhões de pessoas, e que parece que o “mundo civilizado” simplesmente
ignora. Discute-se muito a recepção ou não dos refugiados, mas
pouco se fala sobre a razão de seu exílio. De maneira hipócrita, alguns
defendem que se escancarem as portas das nações para estas em fuga, mas sequer
são capazes de condenar os monstros que as expulsaram de seu
próprio domicílio. É um cenário catastrófico, onde não se achará lugar seguro para sempre, sem se enfrentar todo o mal responsável por tudo isso. Como desfazer esse caos?
Jesus nos mostra o único caminho seguro para o refúgio dos povos. Sua
fuga quando criança para o Egito não foi para evitar a morte, mas para encontrá-la
muitos anos depois, em Jerusalém. O rei Herodes não poderia matar o Rei dos
reis, pois “sua hora não era chegada”. Era necessário que o Cristo padecesse
antes de entrar em sua glória. E esta era sua glória: que ninguém poderia tirar
a sua vida, mas ele mesmo voluntariamente a daria. Quando Jesus morreu na cruz,
ele matou a Morte. Ao fazer isso, seus agentes, humanos ou demoníacos, foram
despojados. Ele, pois, está assentado em seu alto e sublime trono, acima de todo principado e potestade. A Ele foi
dada toda autoridade no céu e na terra. Jesus é hoje o refúgio seguro para os
refugiados, sejam daqueles que fogem sua pátria para outras, ou daqueles que buscam refúgio em qualquer coisa sem sequer sair do lugar. Pela fé em sua pessoa e obra, todos os povos da terra encontram morada eterna em seu Reino. E
ainda, pela fé em sua Palavra que diz que Ele voltará, também um dia serão vingados aqueles que sofreram
atrocidades em sua peregrinação por essa terra.
"...porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor". Romanos 12.19
2 comentários:
Jesus Cristo não fugiu simplesmente da morte. Ele soberanamente dirigiu e orientou o encontro com ela. Obrigado Dick.
Amém
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