Domingo, dia 16, preguei em Mateus 13. 24-30; 36-43. É bem visível, e já tornou-se proverbial que, por mais próximos e parecidos que sejam, trigo e joio são diferentes e um dia serão separados. Essa parábola encontra-se em um contexto muito interessante, quando Jesus respondia com ensinamentos ao que estava acontecendo. Constantemente os fariseus se opunham ao Senhor pelo que havia feito, no caso aqui, uma cura (12.9-14) e uma expulsão de demônio. Jesus passar a usar figuras da agricultura (12.33-37; 13.1-9; 31-32) para demonstrar que diante dele estavam dois grupos distintos: árvore, terra e semente boa; e, árvore, terra e semente má. Nesse mesmo contexto, nem a própria família de Jesus compreendia o que ele estava fazendo (12.46; conf. Mc 3.21), sendo assim, em certa medida, oposição dentro de sua casa.
A parábola do semeador é bem parecida com a do trigo e joio, mas esta última é um tanto mais intensa que a primeira. No caso do semeador, temos apenas a visualização de quatro tipos de terrenos, sendo que três não frutificaram e o último sim. Apesar de cada terreno ter sido explicado, nada é dito sobre o seu preparo e fim. É afirmado apenas que um frutificou abundantemente, ao passo que os outros não. Na segunda parábola, não só é destinguida a origem das sementes, como também é retratado o fim de ambas. É enfática na primeira parábola as condições de cada pessoa, enquanto que na segunda é revelado a origem e o fim de cada uma delas. Existe ainda no caso das duas parábolas a imensa vantagem de que o próprio Jesus faz suas exegeses. Em termos nominais, a segunda parábola constitui uma enfase maior na origem e no fim dos dois tipos apresentados. Nesse sentido, creio que a intensidade dessa segunda parábola não pode passar desapercebida. O temor e a esperança devem ser infundidos nos corações.
Podemos listar pelo menos três dferenças entre o trigo e o joio nessa parábola. A primeira é a origem de um e de outro. O trigo, ou a boa semente, procede do Filho do homem, enquanto que o joio foi plantado pelo inimigo, ou Diabo. Os filhos do Reino e os filhos do Diabo dividem um espaço comum, mas não a mesma procedência. Em Gênesis 3.15 já havia sido anunciada essa distinção: O descendente da mulher e a descendência da serpente seriam inimigos mortais. A descendência da serpente em outros momentos foi apontada assim: Raça de víboras (Mt. 3.7; 12.34; 23.33), filhos do diabo (Jo. 8.34). Os filhos do Reino compartilham da perseguição sofrida pelo descendente da mulher, e por isso, também, partilham de seu triunfo sobre Satanás.
Há outra distinção entre as duas plantas. Apesar de estarem juntas, o cuidado dispensado sobre as duas tem propósitos diferentes. O Diabo abandonou seus filhos no campo do Senhor, e por um tempo crescerão juntos com os filhos do Reino, debaixo do mesmo cuidado. Mas o único motivo para essa tolerância é a preservação do trigo. Os trabalhadores de imediato queriam arrancar a planta estranha, mas o dono do campo manda que as deixem juntas para que o trigo não sofra nem um tipo de dano. Deus dispensa qualitativamente o mesmo cuidado para justos e injustos (Mt. 5.45), mas no fim das contas fica claro que seu amor é para com os seus. É por amor aos vasos de honra que Deus suporta com grande longaminidade os vasos de desonra (Rm. 9.22). Ele conhece os seus, mas considera que por esse tempo eles deverão crescer junto com os filhos do seu inimigo, usufruindo das mesmas benesses, mas não do mesmo amor.
A última distinção, e talvez a mais impactante, é o fim reservado para esta lavoura mista. Os dois tipos de plantas, assim como não têm a mesma origem, também não terão o mesmo fim. O joio será ceifado, atado e lançado ao fogo, enquanto o trigo será recolhido para o celeiro. No fim tudo será muito simples, uns ouvirão "vinde benditos de meu Pai", e outros ouvirão "apartai-vos de mim, malditos!" (Mt. 25. 34, 41). Por mais que durante esse tempo as plantas pareçam embaralhadas, o dono da lavoura sabe perfeitamente quem é trigo e quem é joio, e Ele não fará injustiça confundindo-os. A promessa que temos é que os filhos do Diabo conhecerão o choro e o ranger de dentes para sempre, enquanto os justos resplandecerão como o Sol no Reino de seu Pai.
Devemos portanto não nos enganar com a aparente proximidade entre os filhos do Reino e os filhos do Diabo. Eles estão juntos no mundo, e por vezes usufruem materialmente das mesmas benesses, mas não vieram e nem irão para o mesmo lugar. Os eleitos de Deus conhecerão a glória do Filho do Homem, resplandecendo como o sol em um novo céu e nova terra, enquanto os filhos do Diabo serão eternamente atormentados.
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