segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O ensino proveitoso em meio ao sofrimento


É comum as pessoas pensarem que é possível aprender algo diretamente do sofrimento. Que a dificuldade pode aflorar algo de bom no ser humano, amadurecê-lo. Penso que há um equívoco nisso.
Aqueles que pensam que o sofrimento pode nos ensinar alguma coisa, desconsideram que "a força do homem nada faz, sozinho está perdido" - como afirma o hino Castelo Forte (Hinário Novo Cântico 155). De si mesmo, o máximo que alguém pode extrair no sofrimento é orgulho e raiva. O orgulho brota quando o indivíduo pensa que é capaz de superar sozinho o mal. Ele é entorpecido com a ideia de superação. Não quero dizer com isso que as pessoas devem manter-se inertes diante do sofrimento, sem esforço algum. Apenas constato a luta não deve ser solitária, pois ainda que haja triunfo sobre o sofrimento, o preço da soberba é alto. O orgulho, ou altivez, é acreditar de si mesmo mais do que realmente é, e nisso o ser humano é mestre. E nessa soberba, apenas promove sua ruína (Provérbios 16.18).
A raiva acompanha o orgulho, pois a pessoa se acha injustiçado em tais circunstâncias. Em outras palavras, questiona - como alguém tão bom, tão rico em qualidades, pode, ou tem que passar por tais mazelas? Aquele que pensa com orgulho, contestado com a realidade do sofrimento, acredita que esta sendo injustiçado pelas circunstâncias. Procura algo, ou alguém a quem dirigir sua ira, pois esse é o sentimento de justiça própria. Os outros, ou até mesmo Deus, devem ser culpados pelo que esta passando.
Assim, cruamente falando, do próprio homem que sofre, só se pode esperar um abismo maior que o sofrimento em si. Ele mergulha em seu ser no mesmo tipo de amor próprio que matou Narciso. É preciso enxergar-se em sua mazela com uma nítida visão daquilo que pode fazer. É daí que vem o aprendizado proveitoso em meio ao sofrimento, e este é obtido em humildade, quando visualizamos os dois opostos aos orgulho e a raiva.
É preciso quebrantar-se com a o fato de o homem não é intrinsecamente bom, mas que encontra-se na condição de pecador. O homem esta duplamente arruinado por causa do pecado: ao mesmo tempo que ele é incapaz de consertar o estrago do pecado, também está condenado nele. Ou seja, ao contrário do que faz pensar o orgulho, ele não pode livrar-se do mal, e sofre ainda as suas consequências. Por motivos diretos ou indiretos, o ser humano sempre sofre em função do pecado. Seja pelo que fez, ou o que outros fazem, ele colhe os abrolhos desta plantação desde o Éden, pela desobediência de nossos pais (Gênesis 3.17,18). Todo sofrimento na terra nos faz lembrar de que algo está fora da ordem, não está de acordo com a bondade infusa na criação (Gênesis 1.31). Assim, os filhos de Adão herdaram o sofrimento desestabilizador da ordem do cosmos. Esse reconhecimento contradiz o orgulho humano de achar-se o benfeitor da história.
O que resta fazer, uma vez que o homem esta arruinado no pecado? É então que humildemente nos voltamos a Deus, que é bom, e fez todas as coisas boas, no seu devido lugar. É reconhecendo no Criador o verdadeiro senso de bondade, e sua fonte, que se deve abandonar a "ególatria", o amor a si mesmo, e fugir em sua direção. É amando a Deus que podemos usufruir plenamente de sua bondade. É igualmente válido lembrar que não é porque o amamos que Ele nos ama, mas o contrário, pois em seu amor somos alcançados e libertos do maior de todos os sofrimentos nessa vida, a morte espiritual, a inimizade com Deus (Romanos 5.8; Efésios 2.1-4; 1 João 4.10). 
Deus é justo e bom, e a fonte de toda bondade. Se passamos por sofrimentos, aprendemos que sem Deus estamos perdidos, e somos os mais miseráveis seres da terra. Mas se nos humilharmos, e buscarmos consolo e força em Deus, venceremos. E pela fé sabemos que Ele não nos desampara, nem se nega a nós. Ele rejeita o soberbo, mas dá graça aos humildes (Tiago 4.6).

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