quarta-feira, 8 de junho de 2016

Humilhação, um aprendizado do Deserto


Quando estudava missões em Brasília, morei no internato do curso. Lá enfrentávamos tensões na convivência entre os alunos. Lembro-me de uma colega sempre repetir em tom altivo para os demais: Não murmurem, aquele que se humilha será exaltado. Naquele momento aquela fala me soava pretensiosa, e, por si só, já me fazia sentir-me humilhado. Apesar de serem palavras bíblicas, sua interlocutora parecia fazer justamente o contrário quando as pronunciava: Ela parecia se exaltar.
Não demorou muito para perceber que, para alguém se humilhar, faz-se necessário que outra pessoa, ou circunstância, se exalta sobre ele. Somos um povo de dura cerviz (Deuteronômio 9.6), não nos dobramos automaticamente. Deus suscita meios para que aprendamos a nos humilhar. Esses meios, sejam pessoas bem-intencionadas ou não, sejam circunstâncias que julgamos injustas ou não, devem ser recebidos com fé nessa palavra: E quem a si mesmo se humilhar será exaltado. (Mateus 23.12).
Foi o próprio Deus quem conduziu o povo no deserto para que fossem humilhados (Deuteronômio 8.2). Ali, por causa do seu pecado de incredulidade (Números 13, 14), por quarenta anos tiveram que se humilhar diante das circunstâncias de vida em um deserto. É evidente que num lugar de completa escassez de recursos, as condições de vida são praticamente nulas. Desta sorte, pela provisão de comida e roupa (8.3, 4), Deus estava ensinando o seu povo a depender e confiar nele. Mais que do pão que descia do céu, é de toda Palavra que procede da boca de Deus que vive o homem (Mateus 4.4).
Tudo o que procede da boca de Deus é verdadeiro e fiel. Sua Palavra nos sustenta tanto na provisão de todos os dias (como no caso do maná), como também na esperança daquele Dia em que seremos recebidos por Ele em seu Reino Prometido (2 Pedro 3.13). Por isso também, ao contrário do soberbo, o justo viverá pela fé (Habacuque 2.4), humilhando-se na dependência da Palavra de Deus.
Existe ainda uma implicação considerável nesse aprendizado do deserto, em conformidade com o que mencionei acima em Mateus 23.12. Não basta que circunstâncias ou as pessoas nos humilhem, é vital que nós nos humilhemos. As circunstâncias apenas ressaltam nossa misérias e fraquezas que geralmente são camufladas em orgulho e soberba. Em circunstâncias favoráveis, somos induzidos a acreditar que em uma força e autossuficiência que simplesmente não existe. Mas essa nuvenzinha de ignorância que nos toma, se dissipa com a realidade de que somos pó e erva do campo, e que com o menor sopro de nosso Criador, podemos ser dissipados como a palha no vento. Quando nos humilhamos de verdade, reconhecemos a realidade do que somos, e não encontramos outra saída em nossas calamidades se não na graça de Deus.
Assim, na verdade, somos humilhados pela graça de Deus, que nos aponta tanto nossa condição decaída por causa dos nossos pecados, como também o amor e a bondade de Deus para conosco. O povo de dura cerviz nos dias do deserto é o mesmo na Igreja de hoje. Nossa peregrinação até que nosso Senhor retorne, deve ser feita de maneira humilde na presença de Deus, sabendo que toda provisão que temos não procede deste mundo, mas da Palavra de sua boca. Assim, somos disciplinados por nosso Pai (8.5) a fim de não nos ensoberbecermos e menosprezarmos seus Mandamentos, pois é justamente por meio deles que temos vida.

      

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