Quando estudava missões
em Brasília, morei no internato do curso. Lá enfrentávamos tensões na
convivência entre os alunos. Lembro-me de uma colega sempre repetir em tom
altivo para os demais: Não murmurem, aquele que se humilha será exaltado.
Naquele momento aquela fala me soava pretensiosa, e, por si só, já me fazia sentir-me
humilhado. Apesar de serem palavras bíblicas, sua interlocutora parecia fazer
justamente o contrário quando as pronunciava: Ela parecia se exaltar.
Não demorou muito para perceber
que, para alguém se humilhar, faz-se necessário que outra pessoa, ou
circunstância, se exalta sobre ele. Somos um povo de dura cerviz (Deuteronômio
9.6), não nos dobramos automaticamente. Deus suscita meios para que aprendamos
a nos humilhar. Esses meios, sejam pessoas bem-intencionadas ou não, sejam
circunstâncias que julgamos injustas ou não, devem ser recebidos com fé nessa
palavra: E quem a si mesmo se humilhar será exaltado. (Mateus 23.12).
Foi o próprio Deus quem conduziu
o povo no deserto para que fossem humilhados (Deuteronômio 8.2). Ali, por causa
do seu pecado de incredulidade (Números 13, 14), por quarenta anos tiveram que
se humilhar diante das circunstâncias de vida em um deserto. É evidente que num
lugar de completa escassez de recursos, as condições de vida são praticamente
nulas. Desta sorte, pela provisão de comida e roupa (8.3, 4), Deus estava ensinando
o seu povo a depender e confiar nele. Mais que do pão que descia do céu, é de
toda Palavra que procede da boca de Deus que vive o homem (Mateus 4.4).
Tudo o que procede da
boca de Deus é verdadeiro e fiel. Sua Palavra nos sustenta tanto na provisão de
todos os dias (como no caso do maná), como também na esperança daquele Dia em
que seremos recebidos por Ele em seu Reino Prometido (2 Pedro 3.13). Por isso
também, ao contrário do soberbo, o justo viverá pela fé (Habacuque 2.4),
humilhando-se na dependência da Palavra de Deus.
Existe ainda uma
implicação considerável nesse aprendizado do deserto, em conformidade com o que
mencionei acima em Mateus 23.12. Não basta que circunstâncias ou as pessoas nos
humilhem, é vital que nós nos humilhemos. As circunstâncias apenas ressaltam
nossa misérias e fraquezas que geralmente são camufladas em orgulho e soberba.
Em circunstâncias favoráveis, somos induzidos a acreditar que em uma força e autossuficiência
que simplesmente não existe. Mas essa nuvenzinha de ignorância que nos toma, se
dissipa com a realidade de que somos pó e erva do campo, e que com o menor
sopro de nosso Criador, podemos ser dissipados como a palha no vento. Quando
nos humilhamos de verdade, reconhecemos a realidade do que somos, e não
encontramos outra saída em nossas calamidades se não na graça de Deus.
Assim, na verdade, somos
humilhados pela graça de Deus, que nos aponta tanto nossa condição decaída por
causa dos nossos pecados, como também o amor e a bondade de Deus para conosco.
O povo de dura cerviz nos dias do deserto é o mesmo na Igreja de hoje. Nossa
peregrinação até que nosso Senhor retorne, deve ser feita de maneira humilde na
presença de Deus, sabendo que toda provisão que temos não procede deste mundo,
mas da Palavra de sua boca. Assim, somos disciplinados por nosso Pai (8.5) a
fim de não nos ensoberbecermos e menosprezarmos seus Mandamentos, pois é justamente
por meio deles que temos vida.
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