terça-feira, 23 de abril de 2019

Indigência Espiritual



Li certa feita que um dos erros da teologia da prosperidade é tentar adiantar o cumprimento de certas promessas de Deus. No caso, as riquezas materiais que esse movimento reclama para o tempo pressente só se cumprirão perfeitamente na glória. Ausência de dor, sofrimento e plenitude material são realidades futuras, num lugar onde a matéria prima usada na construção da Nova Jerusalém são pedras e metais preciosos (Apocalipse 21). Mas devo admitir que existe outro tipo de prosperidade para hoje, aquela expressa nas Palavras do Senhor Jesus quando diz “eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10.10).
Essa prosperidade pode ser muito bem compreendida pela na Parábola do Filho Pródigo. Quando caiu em si, na miséria em que se encontrava, desejando compartilhar da ração dos porcos, o filho pródigo se lembra da fartura da casa de seu pai, que inclusive abastecia seus funcionários. Aquele rapaz, em terra estrangeira, servindo no pior trabalho que um judeu podia considerar, lembra-se do quão rico e benevolente é o seu pai, e por isso, arrependido, decide voltar. A descrição de seu estado ao ser encontrado no caminho próximo da casa de seu pai é de um maltrapilho indigente, sem o seu sinete, descalço e com fome. O pai lhe restaura tudo isso, e festeja sua volta.
É evidente que uma parábola não tem aplicação literal, pois não trata meramente de alguém que fez escolhas financeiras erradas, que quebrou, e que depois viu-se restituído a sua condição primeira. A parábola trata do pecador que acredita que pode viver às custas das bênçãos de Deus, sem, contudo, ter com Ele comunhão. Esse pecador descobre a duras penas que as dádivas naturais que atendem aos justos e injustos não são lhes são suficientes (Mateus 5.45). Ele precisa voltar para casa, ele precisa voltar para seu pai, onde encontra pão e perdão. Deus tem abundância (fartura) de vida para nós, e foi para isso que seu Filho veio. Justiça, identidade e alimento espiritual nos são dados em Cristo na comunhão com Deus.
Por isso, o rei Davi, mesmo que do alto de seu trono, declarou que quando deixou de confessar seus pecados, seus ossos envelheceram e suas forças iam se acabando (Salmo 32.3,4). A despeito das condições materiais favoráveis nas quais Davi se achava, por causa do pecado suprimido em sua alma, o monarca de Israel se encontrava em estrema miséria espiritual. Nenhum trono substitui a comunhão com o Pai, nada pode ser mais próspero que sermos reconciliados com o Rei da Glória.
Em suma, o evangelho da reconciliação com o Pai, é um tesouro em vaso de barro (2 Coríntios 4.7) e nele temos toda prosperidade, presente e futura. Cristo nos concedeu o seu Nome, pelo qual somos chamados filhos de Deus. Também nos concedeu justiça e propósito de vida. Negligenciar isso é tornar-nos tão pobres e famintos quanto o filho pródigo quando servia aos porcos. É adoecer e enfraquecer tanto quanto o adúltero e assassino rei Davi antes de ser perdoado. O fato é que o pecado nos separa de Deus, mas, também, é Deus que nos separa do pecado. É Jesus Cristo quem encerra a subsistente condição de indigência espiritual. É em Cristo que temos vida abundante da graça, e nos tornamos o povo mais próspero deste mundo.