É claro que nos dias da Reforma existiram outros pregadores itinerantes que propunham a compra do céu aqui na terra. A venda das indulgências, recurso usado pela Igreja romana para angariar fundos para a edificação do seu reino do céu na terra, custou a milhares de pessoas o pão de suas mesas. Afirmava-se que os sacerdotes de então, tinham poder para conceder perdão sobre os pecados. Ainda que livres do castigo eterno pelo uso dos sacramentos, os pecadores podiam ainda sofrer alguma pena temporal no purgatório. As indulgências existiam justamente para diminuir ou remover esse sofrimento a partir de penitências praticadas. Estas começaram a ser negociadas a peso de ouro, tornando-se um mercado extremamente rentável para os papistas do século XVI.
Todavia, a figura de João Tetzel (1465- 1519) tornou-se emblemática para aqueles dias. Incubido de angariar fundos para a construção da Basílica de São Pedro pelo papa Leão X, "trombou" no território alemão com Martinho Lutero e suas Noventa e Cinco Teses. Graças a Deus pelo reformador, que não somente refreou essa imundícia, como também alavancou um processo pelo qual o mundo inteiro seria impactado pela pregação da Palavra de Deus. Como uma das partes da antítese da Reforma, Tetzel tornou-se memorável até os dias de hoje. Ele foi o agente maligno mais próximo do "epicentro" da Reforma. Como Satanás na vida de Jó, participou involuntariamente do mover de Deus naquilo que marcaria toda a humanidade a partir daquele século.
Hoje os "Tetzel's" modernos encontram-se mais dentro das igrejas descendentes da Reforma, que necessáriamente na Igreja romana. Centenas de vendedores de indulgência surgem com suas banquinhas trocando bençãos por dinheiro. Trata-se de uma verdadeira "feira da fé", tanto nas ruas como na mídia. É bem verdade que o chamariz não é mais o livramento das penas temporais sobre o pecado, mas a simples compra de bençãos terrenas emitidas do céu.
Aliás, pecado é um tema que não tem mais o mesmo peso de séculos atrás. Com uma igreja altamente secularizada, falar em punição sobre pecados não assusta quase ninguém, e nem é um bom recurso de marketing para atrair fiéis clientes. Fala-se diretamente de posses, bens e produtos adquiridos para o uso nesta vida. Vender o céu na terra tem hoje o significado de traze-lo para o "aqui e agora" nas mais variadas ambições que alguém pode ter. Para os mercadores da benção, a verdadeira pena temporal da qual os "santos" devem escapar é viver abaixo do padrão de riqueza estipulado pela sociedade consumista, ou em outras palavras, não ter menos poder aquisitivo que o "vizinho ímpio".
Destaco nesse texto, dentre os vários modernos vendedores de indulgências, a figura de Silas Malafaia. Fora outras cretinices teológicas já afirmadas (como seu namoro com a teologia relacional), sua sede por dinheiro recentemente parece não ter mais limites. Pouco antes do fim do ano passado, juntamente com o falso profeta Morris Cerullo, foi feito um desafio de R$ 900,00 para que Deus liberasse todas as benção ainda não dadas. Agora, como num recall (parece que a benção do Cerullo não funcionou como o esperado), com a ajuda de outro falso profeta, Mike Murdock, foi lançado o desafio de libertar 1 milhão de almas a partir da doação de mil reais de mil "parceiros" voluntários. Trata-se de um montante final de 1 milhão de reais, e a incrível conclusão que se pode chegar por esse calculo - R$ 1.000.000,00 divididos por 1.000.000 almas = uma alma por 1 real, o que indica que o sangue de Jesus vale menos que uma moeda. A promessa, praticamente a mesma de Cerullo, é a liberação de bençãos que o fiel cliente da banquinha de Malafaia ainda não possui. Pode ser desde um jatinho particular a uma tv LED.
Como disse em outro texto desse blog, não sei onde isso vai parar. Não sei se Deus levantará outro "Lutero" para deter tamanho mal propagado por esses homens de belial. No caso do Silas, não sei mais o que ele ainda pode pedir aos seus clientes. Entretanto, sei que o mesmo espírito que estava em Tetzel, hoje habita no televisivo vendedor de almas. Sei também que um dia, ele e todos os demais vendilhões do templo, do alto de seus milhões adquiridos do suor alheio, ouvirão: Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? (Lucas 12.20)
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Seguem os links dos videos da banquinha do Silas:
www.youtube.com/watch?v=SdxIRbm3gU8&feature=related
www.youtube.com/watch?v=gajL4e3JlRI&feature=related
www.youtube.com/watch?v=QXyTDsbjsnc
Um comentário:
Saudaçoes.
A igreja do Pr. Silas Malafaia não e descendente da reforma;sera que temos alguma?
Tetzel vendia pseudo perdão de pecados.
Talvez classificar Silas como alguem que pratica a simonia seja mais coerente.
Mesmo assim, mesmo que se force muitissimo a barra, não da para compara quem vende perdão de pecados com quem pede dinheiro para evangelizar.
E o mesmo que querer dizer que Lutero queria uma divisão na igreja, quando na verdade queria como Catolico reformar sua igreja. Tanto e que enviou cartas ao Papa Leão X com esse objetivo.
O que pesou contra Lutero foi declarar que a igreja errou ao excomungar Huss.
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