quarta-feira, 7 de março de 2012

Os Modernos Fariseus

"Da vaidade, fiéis servos Lutam por fazer-nos seus! Muitas vezes nos assaltam Os modernos fariseus. Mas se alguém procura ver-nos Sem a graça do bom Deus, Vencendo vem Jesus!"

Sempre tive um pé atrás com as críticas feitas aos fariseus. É claro que não estou falando das críticas feitas por Jesus a essa seita judaica daqueles dias. É precisamente por causa dos duros discursos do Senhor contra eles, que percebo uma imagem desfocada do que realmente pode ser chamado farisaísmo.
O conceito mais acentuado quando se fala em fariseus é o legalismo. Há um equivoco no próprio entendimento da palavra. A simples observância da Lei não é precisamente "legalismo". Quando perde-se de vista o espírito da lei, seu propósito maior, e toma-se como principal o cumprimento vazio de uma regra, então podemos falar em legalismo. A Lei nos foi dada como algo bom, é graciosa uma vez que nos conduz segundo o propósito sábio que Deus tem para nossas vidas. Mas quando toma-se a Lei sem cogitar a direção e a glória de Deus sobre ela, quando não passa de um rígido exercício moral para glória pessoal, a impressão que se passa é que apenas uns poucos e "melhores" homens podem alcançar. Guardar a Lei não é legalismo. Usar a Lei para exaltação pessoal sobre os demais sim.
Mas sim, os fariseus eram legalistas  (Mateus 23.4-7), e isso é parte de sua essência. Sua conduta moral, sua a observância da Lei, visava exclusivamente a promoção de uma imagem piedosa até mesmo por sua indumentária (V. 5). Ao mesmo tempo que se empenhavam em ensinar, sua satisfação era o fracasso de seus discípulos (V. 13). Mas aqueles que se graduavam em sua universidade eram até piores do que eles (V. 15). Esse verniz piedoso não condizia com a realidade de seus corações, uma vez que a observância da Lei em seu propósito divino é acima de tudo para com o próprio Legislador das almas. Deus conhece o coração de todo homem. Jesus sendo Deus podia com toda propriedade legislar sobre o coração daqueles homens legalistas, pois conhecia-lhes a intenção de se promoverem as custas da fraqueza dos demais. Sabia que ao mesmo tempo que seu exterior mostrava-se limpo, ocultavam um interior imundo, pois em nada temiam a Deus (v. 25-28). Todavia, nem só de legalismo vive um fariseu. Sua outra parte é a hipocrisia.
Em Lucas 12.1, Jesus esclarece que o "fermento dos fariseus" era a hipocrisia. O que levedava as massas era sua conduta dúbia diante dos enfrentamentos. O legalismo é a outra face da moeda daqueles que têm pavor de serem descobertos em sua imundície. Todo legalista é uma falso moralista já dizia o teólogo César Arruda. Apesar do esforço para provar-se melhor que os demais mortais, interiormente, pelo sensus divinitatis, o hipócrita sabe que diante de Deus ele ainda é reprovável. Mas lhe parece mais fácil se exaltar perante os homens, do que humilhar-se perante Deus (Mateus 23.12). Com isso provam que temem aos homens e não a Deus  (Lucas 12.4). Mesmo condenando a Jesus, não ousavam enfrentá-lo diretamente. O problema com Jesus não era necessariamente o seu ensino, mas sua popularidade. Seus esforços para desacreditá-lo vinham na tentativa de faze-lo tropeçar em suas palavras (Lucas 11.53,54). Teologicamente eram até próximos do ensino de Jesus (Mateus 23.3).
Na prática de sua hipocrisia, fizeram alianças com herodianos e saduceus para eliminar Jesus (Mateus 16.1; 22.15,16). E quando planejaram sua morte, o fizeram junto do Sinédrio (que era composto principalmente de saduceus). Estes mesmos sacerdotes hipócritas, quando questionados por Pilatos sobre a soltura do Rei do Judeus, admitiram o reinado de César sobre eles negando a Jesus.
A hipocrisia é a covardia institucionalizada na alma daqueles que fazem de tudo para não perder o prestígio e a glória dos homens. Se por um lado primavam pelo prestígio dos pequenos por sua "elevadíssima" conduta moral, diante dos romanos sucumbiram ao poder de um rei pagão rechaçando o reinado do Filho de Deus. A mesma alma elevada frente aos pobres era vendida aos poderosos pela execução de Jesus.
Mas e hoje, como se portam os modernos fariseus? Certamente não deixaram o legalismo e a hipocrisia, partes essenciais de seu caráter. Contudo, em um tempo em que a Lei não tem o mesmo prestígio, e que primar pela moralidade é visto como algo obsoleto, buscam em outros méritos a glória dos homens. Atualmente a moeda de maior valor é a realização pessoal pelas conquistas materiais. O poder temporal e o acúmulo do vil metal tem implicações espirituais. Ser rico e influente, creditando a um uso legalista da oração e o jejum, e a partir de votos e palavras de poder, têm grande aceitação em certas comunidades, principalmente entre os neopentecostais. Os sepulcros são caiados com riquezas, realizações profissionais e familiares. Alguns são comedidos em suas palavras, mas outros desbocados e desafiadores. 
O moderno fariseu, a exemplo de seus pais, tem a honra em seus lábios mas distante o coração (Marcos 7.6,7). Usam o nome de Jesus a todo tempo, mas para sua própria glória. Certamente eles não podem dizer como João Batista que "importa que Ele cresça e eu diminua" (João 3.30). O que fora dito a respeito de seus avós, os pais dos fariseus que mataram os profetas, e que Jesus afirmou a respeito daquela geração que intentou contra sua vida (Mateus 23.29-32), pode ser dito desta geração que procura assassinar a Palavra de Deus por meio de seus devaneios de grandeza. Em vão imaginam que podem roubar a glória daquele que é Rei dos reis, Senhor do Universo, Criador do céus e da terra, e por que por seu sangue preciosíssimo pagou o mais alto preço pelos seus, e venceu a morte. Essa glória nunca terão, nem dela farão parte.

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