ELE NÃO ESTÁ AQUI! |
Domingo, ao romper da aurora, as mulheres que
foram ao encontro do corpo de Jesus para embalsamá-lo, foram tomadas de grande
surpresa ao constatarem que Ele não se achava mais em seu túmulo. Estas
mulheres seguiram Jesus em seu ministério, e o serviram com seus bens (Lucas
8.2-3). E mesmo em suas últimas horas, correram risco de morte, mas não o
abandonaram como a maioria de seus discípulos. José de Arimatéia e Nicodemos já
haviam provido lençóis com óleos aromatizados para que o corpo fosse enfaixado (João
19.38-40). Mas foram justamente as mulheres que acompanharam a tudo, até o sepultamento
na sexta-feira à tarde, e que por causa do sábado, não podendo embalsamar
apropriadamente o corpo do Mestre, deixaram para o fazê-lo no domingo (Lucas
23.49,55- 24.1). Elas foram sozinhas ao sepulcro.
Com uma disposição notável, uma vez que sabiam
que a pedra era impossível de ser removida, a não ser por homens (Marcos 16.3),
seguiram assim mesmo para sua missão em favor daquele que jazia no túmulo. Mas
ao chegarem lá, não só a pedra havia sido removida, mas também dois anjos assentados
sobre ela, disseram-lhe que Jesus já não estava mais ali. Lucas registra a fala
dos anjos em um tom mais áspero, ainda que não conflitante com os demais
relatos. Questionaram a ida das mulheres ao túmulo justamente por pressuporem
que elas deveriam saber que Jesus não poderia ser encontrado entre os mortos:
Por que buscais entre os mortos ao que vive? Ele não está aqui, mas ressuscitou.
Apesar da nobre intenção daquelas mulheres, o
que se revelou ao mesmo tempo foi a sua incredulidade para com as palavras de
Jesus sobre sua morte e ressurreição (Lucas 24.5-7). Apesar de procederem melhor
que os discípulos, que sequer foram ao túmulo auxiliar na remoção da pedra, tal
cuidado com o corpo de Jesus desconsiderava suas palavras. Elas buscavam servir
o seu Senhor como a um morto, quando na verdade ele já se achava vivo.
É perceptível como muitas pessoas procedem da
mesma maneira como essas mulheres. Ainda que com gestos e atitudes nobres, retratam
Jesus meramente como um vulto histórico, ou um espírito de luz, com grandes lições
e exemplo de vida para dar. Nessa perspectiva, a ressurreição não faz diferença,
posto que o Nazareno entrou para história meramente como um símbolo, como uma
inspiração para os homens encontrarem em si o melhor.
Mas a contundente mensagem dos anjos, como no
dia do seu nascimento (Lucas 2.10-14), é que algo sobrenatural havia
acontecido: “Ele não está aqui, mas ressuscitou”. Essa é a Palavra que faz toda
diferença: Ele vive! Ninguém mais precisa temer a morte, pois a morte foi
vencida. Ariano Suassuna, no Auto da Compadecida, pela boca de Chicó, descreve
assim a morte:
Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único
mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra,
aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só
rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.
Pois
bem, esse mal outrora irremediável encontrou seu antídoto: O Cristo vivo. E
como diz o cântico: “porque Ele vive, posso encarar o amanhã/ porque Ele vive,
temor não há”. Nos depararmos com a ressurreição de Jesus muda nossa vida, e,
consequentemente, toda nossa agenda. Não vivemos mais em função da morte, mas
da viva que é digna de ser vivida. Antes, como as mulheres com seus bálsamos,
devíamos apenas nos preparar para a morte, fosse a de outros ou a nossa. Mas
com a ressurreição de Jesus, anunciamos e nos preparamos para a vida eterna,
pois tragada foi a morte pela vitória (1 Coríntios 15.54). Já não mais vivemos
para morrer, pois se com Ele morremos, também com Ele viveremos (Romanos 6.8).
Assim,
anunciamos nesse domingo que a morte de sexta-feira foi, na verdade, a morte da
morte. A ressurreição de Jesus é, hoje, o renascimento da vida; da vida em inextinguível
que Ele prometeu a todos os que nele creem (João 11.25).
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