Apesar
de ser a esperança de redenção de Israel para alguns, Jesus, também conhecido
como o Nazareno, morreu crucificado no Gólgota, nessa sexta-feira de Páscoa por
volta das 3 horas da tarde. Tendo sofrido sua sentença de morte entre malfeitores,
chama atenção o processo que o levou até a cruz. Ao que tudo indica, seu julgamento
não foi comum como o dos demais condenados à cruz.
Jesus
de Nazaré começou seu ministério há cerca de três anos, acompanhado de doze discípulos
que ele mesmo escolheu. Sua mensagem era sobre o arrependimento necessário, e a
fé nas boas novas, em vista do Reino que se aproximava. Peregrinando com mais
frequência entre as cidades galileias, realizou, segundo relatam, muitos
milagres, sinais e curas. Mesmo pessoas possessas por demônios eram
exorcizadas, e, segundo o próprio Jesus, libertas “pelo [poder do] Espírito de
Deus”, como indicação da chegado do Reino de Deus. Pães e peixes foram
multiplicados, ao menos duas vezes, alimentando multidões que o acompanharam em
lugares desertos.
A
respeito de seus ensinos, era evidente, desde o começo, que sua autoridade não
era incomparável. Sua pregação chamava atenção para o coração do homem, visível
por Deus, não para as aparências e palavras lisonjeiras que podiam impressionar
apenas aos homens. Esse foi, inicialmente, um dos grandes desconfortos causados
entre os fariseus. Por serem, juntamente com os escribas, tão apegados aos
holocaustos, sem necessariamente levar em consideração a misericórdia, tais
afirmações expõem sua hipocrisia.
Ao
que tudo indica, o incomodo maior viria ainda pela proporção que seu ministério
tomou com um milagre em específico. Segundo relatos, após a ressurreição de um
amigo por nome Lázaro, de Betânia, irmão de Marta e Maria, o Sinédrio se viu na
obrigação de eliminar o Nazareno, uma vez que “o mundo todo ia após Ele”, e que
também, por isso, os Romanos poderiam vir sobre eles e o povo, tomando-lhes a
nação. Nas palavras do Sumo Sacerdote deste ano: “Vós nada sabeis, nem
considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a
perecer toda a nação”.
A
partir de então, na semana antes da festa de Páscoa, os ânimos começaram a se
acirrar cada vez mais. No domingo, Jesus adentrou Jerusalém montado em um jumentinho,
sendo recebido pelos populares com ramos postos no chão e exclamações de “Hosana
ao Filho de Davi”! Depois disso, expulsou os vendedores e cambistas que se
instalaram no Templo, mais precisamente no Átrio dos Gentios. Não havendo mais
como esperar, os principais sacerdotes fizeram um acordo financeiro com Judas
Isacariotes, um dos discípulos, para que Jesus fosse entregue a prisão em uma
ocasião que evitasse tumulto. Há relatos de que o preço acordado foi o de
trinta moedas de prata.
Ao
se reunir na ceia da Páscoa, com seus doze discípulos em um aposento superior
da casa de um dos seus seguidores, Jesus lhes disse que seria traído por um
deles que se achavam naquela mesa. Mesmo que cada um tenha se acusado em tom de
dúvida, nenhum deles achou que poderia ser Judas, por ter ele o cargo de
confiança de tesoureiro. Mas havendo chegada a hora, Jesus segui dali de
madrugada para o Jardim Getsêmani afim de orar. Lá ele foi preso por uma
escolta guiada por Judas, e seus discípulos fugiram com medo.
Ainda
de madrugada, Jesus de Nazaré foi levado para a casa do sumo sacerdote. Em um
julgamento às pressas, com testemunhas incoerentes, a acusação que prevaleceu
foi de que o Nazareno havia dito que destruiria o templo, e o reedificaria em três
dias. Não respondendo ao sumo sacerdote Caifás, Jesus foi por ele conjurado a responder
pelo Deus vivo ser era ele o Cristo, o Filho de Deus. A resposta do réu foi: “Sim,
de fato. Porém, digo a vocês que breve verão o Filho do Homem assentado à direita
do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”. A sentença que já havia sido
decidida há dias, não precisava mais de interrogatórios: Jesus era culpado de
ser o Filho de Deus.
O
réu foi então encaminhado à autoridade civil maior, o governador Pilatos. Sendo-lhe
dito que Jesus era galileu, por ser da jurisdição de Herodes, que estava em
Jerusalém naqueles dias, enviou-lhe para que se reportasse a ele. Nada
respondendo a Herodes, servindo-lhe apenas de objeto de escárnio, devolve-o
para Pilatos com uma túnica estilosa. O governador não estava convencido de que
Jesus era um criminoso de fato, até porque não dava a mínima para a religião
judaica, e percebia que havia ciúmes da parte das autoridades religiosas. Para
não desagradar os membros do Sinédrio, disse que castigaria Jesus e depois o
soltaria. Mas isso não era suficiente para aqueles homens.
Pilatos
tenta em vão soltar Jesus pela escolha popular, colocando seu nome ao lado de
um malfeitor chamado Barrabás. Mas mesmo questionando o povo quanto ao crime
que teria sido cometido pelo Nazareno, nada ouvia além de “crucifica-o”! A
pressão aumenta sob o governador, pois o crime de Jesus segundo seus acusadores
não era apenas de blasfêmia, mas político, uma vez que seria o Rei dos judeus.
Com medo de ser acusado perante o Imperador de sedição, Pilatos não viu outra
saída a não ser soltar Barrabás, e autorizar a crucificação de Jesus. Num ato
simbólico, o governador lava as mãos do sangue de Jesus, que para ele era
inocente.
Como
em um espetáculo de horror, Jesus carregou sua própria cruz pelas ruas de
Jerusalém até o Gólgota, como dito inicialmente. Foi acompanhado pela multidão
dividida, que de um lado zombava dele, e de outro chorava por ele. A túnica sem
costura que ganhou de Herodes, foi sorteada entre os soldados que o colocaram
na cruz. E uma vez entre seus companheiros de sentença, continuou ouvindo as
ofensas vindas das autoridades junto a multidão: Salvou os outros, salve-se
também, se de fato é o Cristo de Deus. Consta também que algumas mulheres que o
seguiam, um de seus discípulos, e mesmo sua mãe, estavam ao pé da cruz. Ele
sofreu escárnio até de um dos malfeitores crucificados, mas foi defendido pelo
outro, que dele ouviu uma promessa sobre o paraíso naquele mesmo dia.
Jesus
morreu estranhamente antes dos outros dois condenados. O céu escureceu ao meio
dia, e exclamando em alta voz, disse: “está pago”, expirando em seguida. Terremoto
e rochas fenderam. Fora dito que até a cortina do santuário rasgou-se em duas
partes. E há relatos inclusive de mortos que voltaram a viver. Normalmente não
se morre crucificado com um forte brado, mas agonizando em sufoco. Até o
centurião acostumado a execuções deste tipo, com muito medo disse que “verdadeiramente
este era o Filho de Deus”. Por isso suas pernas não foram quebradas para
acelerar a morte, como se fez com os outros condenados. Mas para constatar sua
morte, uma lança foi atravessada ao seu lado.
O
corpo do Nazareno foi tirado da cruz, e levado por um homem de posição da
região de Arimatéia, chamado José, que o pediu a Pilatos. Os judeus que
organizaram o julgamento de Jesus, pretendem requerer uma escolta sobre o
túmulo, e um selo, para que, segundo eles, o corpo não seja roubado. Havia sido
dito por Jesus aos seus discípulos, que ele ressuscitaria ao terceiro dia.
Jesus
de Nazaré não morreu como morrem todos os homens. Ele também não viveu como os
demais. Ele estava certo desde o começo sobre o caminho que trilhava, até mesmo
em direção à cruz. Foi como se ao invés de ser levado, ele mesmo tivesse se
entregado. Como se tivesse nascido para isso.
Alguns
de seus discípulos estão desolados, com medo, e desacreditados. Mas se domingo
acontecer conforme suas Palavras, não mais terão razão para não crer. Tudo o
que disse em sua vida, mesmo sobre sua morte, foi verdade. Não poderia ser
diferente a respeito de sua ressurreição. Nesses próximos três dias, cabe-nos
esperar pela remissão de Israel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário