sábado, 25 de abril de 2020

O Rei Davi e a Justiça do Rei Celeste


Quando em 2 Samuel 12 o rei Davi foi procurado pelo profeta Natã com um "caso" para ser julgado (essa era uma das funções do rei, julgar os casos em Israel), com aquela historinha da cordeirinha do pobre que foi comida pelo vizinho rico que recebeu um hóspede; Davi, mais que depressa, sentenciou o culpado muito além do que era prescrito. Disse o rei: “Tão certo como vive o Senhor, esse homem nasceu para morrer”! Essa sentença não era justa conforme a Lei. Um ladrão que roubava não por causa da fome, mas por usura, a sentença era aquela que foi proferida em seguida: “Restitua quatro vezes mais”. Me parece que Davi, num arroubo de justiça, achou-se se achou acima do que era prescrito na lei.
Sabemos que na sequência, Natã revela que esse homem na verdade era o próprio Davi, cujo crime era muito pior. O rei não roubou um animal de estimação de um pobre para fazer churrasco, mas adulterou com Bate-Seba, e assassinou seu marido Urias de maneira fria. Dois crimes qualificados em Israel, sobre os quais a punição era a morte sem chance de apelação. Davi havia julgado um crime menor com ira, sentenciando de maneira excessiva o criminoso, não de acordo com a lei, enquanto ele mesmo, que havia cometido crimes de sangue, era de fato, segundo a Lei, réu de morte.
Até entendo que ao ouvir a história, o rei que tinha sido pastor quando jovem, e sendo o último filho de uma linhagem se sete, se viu no lugar do pobre roubado, e por isso julgou com ira, e não de conformidade com a lei. Nós, da mesma sorte, muitas vezes, não julgamos conforme a Palavra de Deus, mas julgamos conforme nossas conveniências, conforme a nossa história.
Todavia, Deus surpreende Davi ao sentencia-lo com vida. Ao ouvir sua confissão: "Pequei contra o SENHOR", Natã emenda: "Também o SENHOR te perdoou; não morrerás". É evidente a misericórdia de Deus sobre Davi. O Rei que julga não somente Israel, mas toda terra, que escreveu a Lei com os próprios dedos, e que ali disse que o adúltero, e o assassino deviam morrer, aparentemente contradiz sua própria Palavra. É assim mesmo? Certamente que não!
Esse mesmo Rei celeste viria a terra, fazendo-se homem, sendo chamado de Filho de Davi. Esse mesmo Filho de Davi, mesmo cumprindo perfeitamente a Lei, viria morrer na cruz em lugar dos pecadores, o que incluía o próprio Davi. Deus não anulou ou contradisse sua própria Lei, antes a cumpriu, como quando disse: não vim revogar a lei, mas a cumpri-la (Mateus 5.17, 18).
Essa é a diferença entre nós e Deus quando se trata da Lei. Queremos usá-la para nossos arroubos de justiça, segundo nossas conveniências, que não correspondem ao que Deus quer. Queremos ser mais justos que Deus, quando na verdade a ira do homem não produz a justiça de Deus (Tiago 1.20). Mas a realidade é que sempre quebramos a Lei, e somos por isso culpados de morte. Enquanto isso, Deus, o Rei justo e misericordioso, que se fez homem, que cumpriu perfeitamente a Lei, foi, em nosso lugar, sentenciado à morte. Eis a ironia dos fatos, o escândalo do evangelho: Nós que transgredimos sua lei, e que por isso éramos merecedores da morte, fomos contemplados não só com perdão, mas com a Vida Eterna, por meio daquele que cumpriu a lei perfeitamente.
Apesar de muitas vezes nos identificarmos com Davi quando este venceu Golias, somos na verdade como ele quando se deitou com Bete-Seba, e quando matou Urias. Somos como ele quando repreendido por Natã, ouvirmos o evangelho desmascarado nosso pecado. Espero que sejamos também como ele, quando cremos nesse mesmo evangelho que nos promete o perdão de Deus sobre nossos pecados, afirmando que ao invés de morrermos, o Filho de Davi morreu em nosso lugar.

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