Jesus disse que deveríamos nos tornar como crianças para recebermos o reino dos céus (Mt 18.3). Sei que a interpretação das palavras do Senhor não sugerem em momento algum que as crianças são puras ou inocentes, mas que precisamos receber o Reino como novas criaturas, recém nascidos, completamente dependentes do nosso Pai Celestial.
Crianças demonstram serem filhas de Adão desde suas primeiras manifestações intelectuais. Começam a mentir com a fraqueza de quem não tem justiça intrínseca. São egoístas e por vezes crueis causando dor ou constrangimento a outros seres. Mas crianças também são frageis e extremamente dependentes, como nenhuma outra criatura. Quando ouvimos que da boca de pequeninos procede o perfeito louvor (Sl 8.2; Mt 21.16), podemos saber que delas vêm o mais sincero grito de socorro. Nisso devemos ser como crianças, desejando ardentemente a provisão do leite espiritual para o crescimento dado pelo Pai (1Pe 2.2).
Mas ultimamente ao que parece, o mandamento de Jesus se inverteu para alguns. Ao invés de nos tornármos como uma criança, são algumas crianças que têm se tornado como adultos. Assistindo alguns videos no blog Veshame Gospel, vi crianças pregando. Estas obviamente fazem um mimetismo de pregadores pentecostais que apenas gritam palavras de "benção", e afirmam descontextualizadamente textos que sugerem prosperidade. Assim, crianças se tornam como adultos em suas depravações teológicas e na dramaticidade de suas apresentações. Elas não deixaram para trás o caráter do velho homem herdado de Adão, e não servem como parâmetro do que Jesus falou.
A exploração dessas crianças é outro vexame. Do ponto de vista teológico não às considero vítimas, mas socialmente falando é visivel que elas servem de fonte de lucro. Tanto a mídia como seus empresários se utilizam do estranho fato de que crianças gritam e gesticulam como aqueles pregadores, os quais por si já são excentricos o suficiente para chamar atenção. Essas crianças a despeito de qualquer convicção são exposta a um grande público, que se constitui uma armadilha para o ego delas. Quando encontrarem-se em dilemas sobre a trilha de suas vidas, será muito difícil separar a popularidade adquirida da verdadeira relevância que se pode ter na vida das pessoas. E ainda, se em algum momento vierem a revelar o explícito caráter de Adão, abandonando a carreira de expoente religioso, o peso da acusação será maior que um desviado "comum" sofreria.
Em suma, a exploração do talendo dramático de crianças têm cruzado os caminhos do evangelicalismo. É inegavel que existem crianças com talentos naturais incomuns, e que da meneira correta estes deveriam ser desenvolvidos. Todavia, em hipótese alguma tais talentos podem ser confundidos com os dons conferidos pelo Espírito. Algumas dessas crianças talentosas demonstram uma capacidade incomum de memorização, e outras uma desinibição digna de um artista. Mas isso não significa a capacitação do Espírito para pregar, o que passa necessáriamente pelo estudo e a compreensão espiritual das Escrituras. Crianças com talentos artísticos e intelectuais devem explorar sua capacidade sem deixar seu mundo infantil, sem a cobrança de serem o que não são. Creio que na esfera do Reino elas devem ser cada vez mais encorajadas a pregar e viver o evangelho sem a alcunha de pastores ou missionários. Elas devem ser ensinadas e não adestradas. As crianças do Reino, sejam as mais pequeninas ou as que já são adultos, devem viver para a glória de Deus, e não de si mesmas.
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