terça-feira, 30 de julho de 2013

Sobre a maldição das pirâmides do mundo moderno


Chega a ser irônico que os esquemas financeiros de ganho rápido e fácil sejam chamados de pirâmides. A designação para esse tipo de ascensão fraudulenta nos últimos tempos se dá por causa do recrutamento de pessoas, proporcionando uma progressão geométrica do tipo 1, 2, 4, 8, 16... e assim até a sua quebra. Ao meu ver, a ironia se dá pelo fato de que não apenas em seu aspecto matemático, mas também pelo aspecto histórico, estas pirâmides podem ser comparadas as do antigo Egito.
Nos dias dos faraós, pirâmides eram construídas por estes monarcas sob a pretensão de que seu reinado na terra se estendesse pela eternidade. Dentro destes majestosos sepulcros, não apenas o corpo do faraó morto era depositado, bem como todos os seus tesouros e ainda os ministros de seu governo, ainda vivos. Desta sorte, as pirâmides de hoje, tão suntuosas em suas promessas, nada mais são do que túmulos que cedo ou tarde engolirão tanto aos seus criadores, como seus associados.
Em uma matéria sobre a história de algumas pirâmides do século passado que li hoje, percebi o quão evidente é o desfecho sempre terrível reservado para todos os que se envolvem nelas. As histórias de faraós modernos como de Charles Ponzi, Maria Branca dos Santos e Bernad Madoff, revelam finais trágicos após anos de glória. Chega a ser um contraste praticamente certo, acrescendo as ironias do termo, pois poderíamos então falar também em uma maldição das pirâmides modernas.
Neste ponto, quando me refiro a maldição, não tenho em mente de forma alguma ao uso feito desta palavra pelo partido da Batalha Espiritual, que atribui a tudo uma ação demoníaca. Entendo por maldição aqui o fato de que Deus não deixar que essas pirâmides permaneçam por tanto tempo, para nos ensinar algo sobre o pecado que impulsiona esse comércio.
É obvio que o propulsor desse tipo de negócio é a ganância e ambição dos homens, como bem observou Álvaro Modernel no artigo que mencionei acima. O que está embutido nestes pecados é a insatisfação que o homem tem com o ganho do suor de seu rosto, e ao mesmo tempo o sentimento de que se achar merecedor de algo maior. Isto equivale a ingratidão e soberba, o que afronta ao Criador, uma vez que Ele graciosamente nos dá o pão (Salmo 127.2), apesar de nossa rebelião (Gênesis 3.17-19). Todo ganho fácil se dá pelo esforço de outra pessoa, e assim, no sistema de pirâmide, sempre alguém lucra de maneira ilícita sobre o suor do próximo (Provérbios 22.16).
Assim, os pecados se acumulam pela ganância, ambição, ingratidão, soberba e a opressão ao próximo. Um cristão que verdadeiramente espelha Cristo deve manter-se longe de tudo isso. O que Jesus ensinou e viveu nos dá uma diretriz completamente diferente do que os faraós e suas pirâmide proclama.
"pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos." 2 Coríntios 8.9
Deus Filho, Senhor do Universo, se fez homem na condição de servo, nos falando de um outro reino, muito diferente dos deste mundo. Ele nos mostrou que existe um outro tesouro, verdadeiro e eterno, diferente dos tesouros deste século. E saldando a nossa dívida, contraída por causa do pecado, satisfez a justiça de Deus Pai, restabelecendo a comunhão outrora perdida.
Em um certo sentido, e para não perder a viagem até aqui, podemos comparar todo esquema de pirâmide financeira as promessas de igrejas neopentecostais. Estes faraós dos púlpitos fabricam suntuosos palácios na terra, mas que são na verdade apenas sepulcros caiados. Pregando um outro cristo e um outro evangelho, agregam malditos que preferem atender aos sonhos de seus corações ao chamado de arrependimento e graça da Palavra de Deus. O fim dos construtores destas pirâmides eclesiásticas será ainda pior do que daquelas financeiras (Lucas 10.10-15).
Devemos nos satisfazer em Deus, que nos amou por intermédio de seu Filho, e nos deu o seu Espírito. Devemos ter como nosso tesouro o próprio Jesus, nele somos feitos os mais ricos sobre a terra, mas não deste mundo. E inconciliável nos agarramos as riquezas deste século e ao mesmo tempo as da eternidade. Isso não quer dizer que devemos cruzar nossos braços e não trabalharmos. Devemos em nosso labor encontrar a verdadeira satisfação não em um gordo salário que podemos receber, mas no fato de que nossa dívida foi paga pelo sangue do nosso Senhor na cruz e que por isso somos verdadeiramente prósperos. Somente assim somos salvos da maldição do pecado, evidenciado em pirâmides deste mundo, muito antes do Egito antigo e seus faraós.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A Manifestação do Reino dos Céus e o Justo Procedimento


Em Israel havia uma expectativa muito grande quanto a manifestação do reino de Deus. Os judeus viviam sob o domínio romano, pagavam pesados impostos, e viam sua terra santa pisada por gentios. Tudo isso era causa de profunda indignação e ódio. No Evangelho de Lucas, encontramos uma passagem onde os discípulos, como bons judeus, também encontravam-se ansiosos pela manifestação do reino, que pensavam ser imediata, tão logo Jesus chegasse a Jerusalém. Jesus responde a essa excitação com a Parábola da Dez Minas (19.11-27).
Assim, esta parábola objetivamente se aplica ao anseio pela manifestação do reino de Deus, sem a reflexão de seu tempo e custo. Nela um homem nobre distribui dez minas para seus dez servos, e depois se ausenta para tomar posse de um reino. Sua ordem para estes servos é de negociar as minas distribuídas até seu retorno. O texto nos fala daqueles que obedeceram suas ordens e destacada um outro que não. Os obedientes foram contemplados, o desobediente deixado sem nada. Este homem também sofreu oposição de alguns concidadãos, e sobre estes trouxe o rigor da pena capital.
A vinda de Cristo certamente deve causar nos cristãos grande anseio (Apocalipse 22.17,20). Mas por vezes esse anseio parece encontrar-se misturado com outras expectativas mais terrenas. Esse era a ideia que os judeus tinham da manifestação do reino de Deus, numa restauração monárquica de Israel, e sua libertação do domínio gentílico. A visão de um messias que lhes fartasse de pão (João 6.14,15), que se voltasse ao hic et nunc - o aqui e agora. Mesmo antes de Jesus subir ao céu, depois de sua morte e ressurreição, em Atos, alguns discípulos seus ainda estavam preocupados com a restauração de Israel (Atos 1.6). Jesus deixou claro que isso não era da conta deles, mas a proclamação de seu testemunho pelo poder do Espírito Santo (v. 7-8).
O reino de Cristo "já é, e ainda não". Seu reino já é presente desde sua primeira vinda a este mundo, sendo ele mesmo o próprio Reino (autobasiléia). A questão é que seu reino não é deste mundo (João 18.36), e não tem aparência visível (Lucas 17.20,21). Porém, chegará o dia em esse reino se manifestará plenamente, aos olhos de todos na vinda do seu Rei (Marcos 14.62). Todas as coisas serão refeitas, e sua justiça reinará para sempre.
Desta forma, nesse interregno, é nosso dever acima de todas as coisa "negociar" até que nosso Senhor volte (Lucas 19.13), e assim "apressarmos" sua vinda. O sinal de que realmente ansiamos o reino de Jesus é justamente a sujeição a sua ordem de testemunharmos dele. Não sabemos exatamente quando ele virá, mas sabemos que quando vier, pedirá conta da missão que foi confiada aos seus. Tudo o que sublima este anseio, numa euforia por coisas terrenas, pode significar que nosso coração não se encontra realmente nas coisas do alto, e que seu reino não é prioridade em nossas vidas. Se realmente queremos ver a manifestação gloriosa do Reino de Cristo, devemos atender a ele como se já tivesse sido instaurado. É assim que somos cidadão do reino, é assim que devemos nos portar. Ao guardar a mina do Senhor, e atender a outros compromissos, atesta-se contra si, quando se é chamado para servir ao Rei dos reis.
Israel foi restaurado como país quase dois mil anos depois destas palavras, mas ainda luta contra seus inimigos em seu próprio território. Ao longo de séculos, pessoas depositam seus corações em seus próprios reinos, imaginando um dia serem realmente livres. Devemos ter fome e sede de justiça, mas sabendo que seremos realmente fartos no reino que ainda virá. Sejam todas as coisa dele, por meio dele e para ele, eternamente, amém!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sobre as recentes manifestações


Tenho visto um certo entusiamos da parte de alguns Cristãos Protestantes com os recentes protestos feitos no Brasil, e até mesmo no mundo afora. É irônico, e posso ser acusado de incoerência por isso, mas não penso que os cristãos protestantes devem ser conhecidos assim por causa de protestos. Não é porque somos Protestantes que devemos nos prestamos a todo e qualquer protesto. Sei que é muito protesto e protestante para um parágrafo só, então vamos ao que quero dizer.
Primeiro, a razão histórica para sermos chamados Protestantes está relacionada a segunda Dieta Imperial Alemã de Speyer (1529), quando os nobres dissidiram do imperador Carlos V, quanto a revogação da primeira dieta (1526), retornando ao edito de Worms. Estes nobres, formalmente, por meio do que seria ao mesmo tempo uma objeção, um apelo e uma afirmação, buscaram acima de tudo a liberdade religiosa. A raiz histórica deste protesto, em Lutero, nasceu no ensino da Palavra, e posteriormente na afixação das 95 teses nas portas de Wittenberg. Isto foi necessário em razão do governo maligno da Igreja Católica naqueles dias, que não somente impossibilitava o conhecimento do Deus verdadeiro por meio de sua Palavra, como também iludia o povo com a possibilidade de se adquirir um terreno no céu por meio das indulgências. Assim, a essência da Reforma Protestante foi hermenêutica, ainda que os fatores políticos e sociais tenham se alinhado naqueles dias (leia-se "alinhados" como providência divina). Nas palavra de Lutero, a melhor descrição do que aconteceu naqueles dias:
Simplesmente ensinei, preguei, escrevi a Palavra de Deus; não fiz mais nada. E então, enquanto eu dormia, ou bebia cerveja em Wittenberg junto de meus amigos Philipe e Amsdorf, a Palavra enfraqueceu tão intensamente o papado que nenhum príncipe ou imperador jamais fez estrago assim. Não fiz nada, a Palavra fez tudo.
Mesmo naqueles dias, alguns movimentos extremos foram severamente repudiados pelos reformadores. Tanto a Guerra dos Camponeses, como a Reforma Radical, não representavam a natureza da proposta dos reformadores. O desejo desses grupos ultrapassava o que as Escriturar determinam a Igreja em sua relação com o Estado. Estes extremistas valiam-se da força e da violência para a instauração de um suposto reino na terra, o qual certamente não era o Reino dos Céus.
A Igreja tem o seu papel de profeta junto ao Estado. Tem o dever de proclamar a Palavra de Deus, denunciando os pecados, ou encorajando os governantes naquilo que é correto. Creio que cristão verdadeira deveriam envolver-se na política, pela vocação de servir ao Estado, de maneira justa e digna. É imprescindível destacar a condutas política de homens como de William Wilberforce e Abraham Kuyper. É esse o tipo de militância que deveria nos orientar, que têm uma eficácia maior que a empunhadura de cartazes e marchas de protesto.
Quanto aos dias atuais, devemos ter o zelo de atentarmos para o nascedouro destes protestos recentes. Eles não são espontâneos como alguns inocentemente acreditam. Eles são orquestrados por algum grupo, cujas identidade e intenção permanece nebulosa ainda. Estes anônimos, se dizem interessados no bem estar da população, posicionando-se contra a corrupção e outras mazelas sociais, mas que ainda não revelaram seus reais interesses. Pregam contra a impunidade de políticos corruptos, mas legislam em favor da impunidade quando exigem a soltura dos vândalos, saqueadores e depredadores do patrimônio público e privado presos pela polícia. Essa incoerência me faz questionar se realmente têm intenções justas., ou se querem usar a justiça em causas próprias.
Um último fator que destaco é a injusta acusação de alguns que entendem que aqueles que não protestam estão inertes e conformados com a situação. Imaginam marchar pelas ruas, com gritos de ordem, e que esta pressão popular sobre o governo, seja a solução dos problemas. Não me oponho a esse direito de protestar, de maneira pacífica obviamente. Mas penso que é de um reducionismo muito grande pensar que isso resolva alguma coisa, ou que seja indispensável algo dessa natureza. Como salientei anteriormente através de alguns nomes de alguns cristãos, penso que pessoas melhor organizadas e dispostas politicamente, têm, em uma conduta direita, melhores condições de prover melhorias para a sociedade. Protestar é um direito de todos, dentro dos protocolos exigidos para o bem estar geral. Contudo, protestar não chega a ser sempre um dever. É dever de todos agir de maneira justa e correta, e agindo assim, pelo menos os cristãos, vivendo e proclamando o Reino dos Céus, grandes transformações podem acontecer no reino da terra.  

sábado, 8 de junho de 2013

Prego Hoje em Apocalipse 13 - A disposição dos santos diante das Bestas


Introdução: 
Acho interessante os filmes que retratam temas apocalípticos, sejam de ordem sobrenatural (Advogado do Diabo), ou natural (O Dia depois de Amanhã), trazem sempre a perspectiva escapista e triunfante dos homens. Vende-se a ideia de que no fim o homem pode prevalecer sem Deus.
Sabemos que Apocalipse é um livro incomum em toda a Bíblia. Sua linguagem simbólica e seu deslocamento temporal podem causar grandes dificuldades em sua interpretação. Mas quando nos atemos à essência de sua mensagem, o entendimento de seu conteúdo torna-se mais simples. O livro fala sobre “A vitória de Cristo e seus santos, sobre Satanás e seus seguidores”. Todo o livro explora o cenário de Cristo triunfante na história, e os seus eleitos, que mesmo em meio a peleja, perseguição, sofrimento e morte, já venceram junto ao seu Senhor. Apesar de todas investidas do Dragão contra Cristo e sua Igreja, e da aparente segurança que suas hostes desfrutam, seu fim é sempre derrota e condenação.
Resumidamente podemos perceber duas grandes divisões do livro, e outras sete menores. A primeira divisão maior (1-11) esboça a luta externa entre Igreja e Mundo, a segunda (12-22) retrata essa realidade internamente, ou seja, Cristo versus Satanás. Esta é a quarta sessão menor (12-14), onde observamos a investida de Satanás contra Cristo, e posteriormente de seus auxiliares (as bestas e a prostituta) contra a igreja. Podemos até mesmo descrever cada capítulo sucintamente assim:
12 – Satanás avança contra Cristo, desde a Antiga Aliança. Não obtendo êxito, pois o Filho nasceu e reina ao lado do Pai, se lança contra a Igreja na Nova Aliança.13 – Os auxiliares do Dragão, a Besta do mar e a Besta da Terra, oprimem a Igreja.14 – O Filho traz redenção aos seus eleitos, e juízo sobre a terra e seus habitantes.
A temática escatológica foi deixada de lado de alguns anos pra cá. Até as últimas décadas do século XX (60-90), esse foi um assunto retratado intensamente nas igrejas. Muitos, apesar de uma perspectiva errônea de interpretação, demonstravam por outro lado grande zelo para com a volta de Jesus. É verdade que as circunstancias tais como guerras e a virada do milênio incitavam as pessoas a pensarem em uma eminente volta de Jesus, e por isso falarem mais a esse respeito. Mas hoje, pouco se fala a respeito da Parousia. O “avanço tecnológico” das estruturas eclesiásticas faz com que se pense muito mais no estabelecimento nessa terra, que na grande tribulação ou no arrebatamento final. Fala-se em visão para alcançar o mundo, fala-se em crescimento da igreja, e como estabelecer a supremacia evangélica sobre a sociedade, mas muito pouco sobre os céus e a terra entesourados para o fogo (2 Pedro 3.7). Sem sombra de dúvidas devemos trabalhar incessantemente na proclamação do evangelho, até porque esse é um dos sinais da volta de Jesus. Mas não podemos nos enganar pensando que estabeleceremos o seu Reino por conta própria.
É partindo dessa perspectiva sobre o avanço de Satanás contra igreja, que quero falar a respeito de nossa perseverança e fidelidade (v.10). Como disse, isso não anula todo emprenho que a Bíblia como um todo nos conclama a termos, mas nos faz entender que nada do que fazemos é por nós ou para nós mesmos. Que uma vez que Cristo milita por nós, ele também nos conclama em meio ao fogo provador e perseverarmos nele, quando não há muito que fazer.

Argumentação: 

I.                   Quem são os inimigos aqui descritos.
1.      O Dragão. Satanás é o Dragão, e não tendo êxito contra Cristo e sua Igreja (cap. 12), pôs-se sobre a areia do mar para conclamar seus auxiliares, que o representam neste mundo.

2.      A besta do mar.
A)    Este primeiro auxiliar do Dragão representa o poder político sobre o mundo. Sua descrição é horrível, de um monstro que incorpora vários reinos da terra (Daniel 7). É rápida, forte e mortal, como um leopardo, urso e leão. Tem diademas em seus chifres, ou seja, autoridade do Dragão, como o texto explicita mais a frente.
B)    O golpe mortal sofrido, e depois recuperado, possivelmente sinaliza a morte de Nero, o primeiro grande perseguidor romano, e depois o retorna da perseguição naqueles dias da parte de Domiciano. Mas podemos inferir também, nos dias finais, a grande perseguição que haverá da parte do Homem da Iniquidade (2 Tessalonicenses 2.4) trará de volta a ira de Satanás como antes de sua prisão (20.2,3,7-9).   
C)    Todo governo que se levanta sobre a terra, apregoando para si a condição de “Salvador da pátria”, fazendo pairar sobre si a áurea de benfeitor maior (como os imperadores de Roma), encarna a figura da besta do mar.
D)    Sua atuação durante 42 meses nos remete ao período em que não choveu em Israel, nos dias do profeta Elias (3 anos e meio). Esse período é o mesmo descrito agora no capítulo 12.14 (1 tempo, 2 tempos e metade de um tempo). Mesmo perseguida por Acabe, a igreja ali foi sustentada por Deus (1 Reis 17.4,9).
E)    Haverá um homem nos dias do fim, o anticristo como chama João (1 João 2.18), e Homem da Iniquidade, como declara Paulo. Este ainda não veio, mas certamente o seu espírito já paira sobre os governos da terra desde os dias do apóstolo. Seu propósito maior é imitar o Cristo, exigindo para si a adoração dos povos. Aqueles que o adoram, de todas as nações, não se encontram inscritos no Livro da Vida do Cordeiro, e portanto não fazem parte do numero dos eleitos. 

3.      A besta da terra.
a)      A besta da terra é subalterna a do mar, e serve como seu profeta e sacerdote. Sua função é religiosa e propagandista. A aparência desta besta não é tão amedrontadora como da primeira, mas sua missão é tão maligna quanto. Sua aparência mansa como cordeiro, contrasta com sua fala mortífera do dragão. Assim como a besta do mar recebe autoridade do Dragão, esta recebe dela a sua autoridade, e por isso estão todas associadas.
b)     Sua atuação, relacionada à fala (de dragão), é para engano e sedução dos povos (Apocalipse 20.3). Seus sinais extraordinários compelem os cidadãos da terra a adorarem a besta do mar, e consequentemente a morte dos santos. 
c)      Ela marca na testa e na mão direita os seus a fim de possam comprar e venderEm outras palavras, o sistema proposto por esse falso profeta restringe a vida comum (compra e venda) aos que dispõe sua mente e ações a favor da besta (Deuteronômio 6.8).
d)     Assim como o Espírito sela os eleitos em sua fronte, os réprobos são marcados (como gado) pela besta da terra. Esta marca 666 é número de homem, pois não chega a perfeição de Deus. O homem foi criado ao sexto dia, mas a obra completa de Deus finaliza-se no sétimo, com o seu descanso. Assim, essa marca indica que os seus portadores nunca chegarão a plenitude de seu propósito.
II.                Qual é o procedimento dos santos em meio a suas investidas.
Como já disse anteriormente, a perspectiva expressa em Apocalipse não significa passividade e inércia na vida cristã. O que é explorado no texto é como em Cristo, mesmo em perseguição e danos sofridos, os santos são preservados. Isso nos leva a algumas condutas de perseverança e fidelidade.
1.      Consciência das circunstancias.
a)      Diversas vezes o Senhor Jesus adverte seus discípulos em seu sermão escatológico de que não deviam deixar-se enganar. Satanás como pai da mentira, emprega em suas bestas toda arte de ilusão a respeitos dos fatos, pintando um cenário onde aparentemente são vitoriosos.
b)      Não podemos esquecer duas coisas: 1) Satanás e suas hostes, bem como os seus, foram sentenciados a derrota desde Gênesis 3.15, o que culminou em seu despojamento na cruz (Colossenses 2.15). 2) Todo ação maligna está sob o controle e propósito de Deus, em sua agenda escatológica, evidente na expressão “é necessário” (Mateus 24.6; Apocalipse 20.3). Nada acontece por domínio de Satanás, ainda que ele confira poder e autoridade as suas bestas, mas ele mesmo não tem poder de si mesmo.
2.      Fidelidade.
a)      Uma vez enganados os povos, são compelidos a adorarem a Besta. Aqueles que pela fé enxergam os sinais por trás de tudo isso, não se dobrará a sua imagem.
b)     Devemos vigiar e orar a fim de não sermos seduzidos pelos “benefícios” trazidos pela besta do mar, propagados pela da terra. Uma vez que nos sintamos em casa com respeito a este mundo, mirando apenas o que se refere a essa vida, mesmo pelejando por interesses que são legítimos, mas transitórios (Mateus 24.38), corremos o risco de nos encontrarmos adorando a sua imagem, desprezando os tesouros que se encontram no alto (Mateus 6.19).
3.      Perseverança.
a)      Nossa fidelidade pode custar nossas vidas. Mesmo hoje, e desde sempre, e menor grau, cristão são provados em sua perseverança. Proibidos de pregar o evangelho, muitos são perseguidos até a morte.
b)     Devemos estar prontos para sofrer o dano, seja da restrição de nossos direitos, como no caso da marca para comprar e vender, como de nossa própria morte. Quando o texto falar em ser levado a cativeiro, ou morto a espada (v.10), é porque essas coisas serão inevitáveis. Mas é justamente em suportá-las, e não em subjugá-las, que seremos encontrados fiéis e perseverantes.   
c)  Fato é que se não estamos dispostos a sofrer nenhum dano, é porque já nos deixamos seduzir e somos encontrados infiéis.

Conclusão.
Sabemos que a mensagem pode ser devastadora, e trazer terror para alguns, mas para os crentes verdadeiros não. Esta é a mensagem de que “em todas essas coisas somos mais que vencedores” (Romanos 8.37).
Se crermos verdadeiramente que Jesus venceu a morte na cruz, que ressuscitou e reina, devemos crer também que mesmo passando por tudo isso, e até a morte, triunfaremos. Devemos nos regozijar, pois ele está às portas para nos redimir.
O poder para reverter às coisas não está em nossas mãos, mas naqueles que foram cravadas de pregos, e que agora traz a foice para ceifar os seus, e guardá-los em seus celeiros, e ceifar os demais, pisando-os no largar de sua ira (14.14-20). 


sábado, 1 de junho de 2013

Graças sejam dadas a Deus. Graças procedem de Deus.

Mas a justiça decorrente da fé assim diz: Não perguntes em teu coração: Quem subirá ao céu?, isto é, para trazer do alto a Cristo; ou: Quem descerá ao abismo?, isto é, para levantar Cristo dentre os mortos. Porém que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração; isto é, a palavra da fé que pregamos. [Romanos 10. 6-8]
A graça de Deus, sucintamente compreendida como favor recebido sem mérito algum do pecador, deve nos levar a outros dois pontos. Sendo uma dádiva recebida sem merecimento, somos lembrados de que devemos ser gratos por ela. Nossa gratidão não nos garante a graça (pois assim deixaria de ser graça), mas evidencia que ela chegou ao ponto que lhe foi proposto. A graça não visa simplesmente o pecador em suas necessidades triviais. A graça se presta a nos levar a Cristo, nos mostrando que somos indignos, e ao mesmo tempo, que só Ele é digno. Esta foi a gratidão demonstrada pelo leproso samaritano que voltou para adorar Jesus após ser curado (Lucas 17.16).
Somos humilhados por essa graça, pois nossa incapacidade é exposta. Mas essa mesma graça nos exalta, uma vez que somos também capacitados naquilo que antes nos era impossível, a obediência à Palavra. Era impossível agradar a Deus por causa do nosso pecado, mas graciosamente em Cristo, nos encontramos revestidos para tanto. A gratidão é expressa nessa obediência, para a glória tão somente de Deus. Assim somos exaltados não em nós mesmos, mas na condição de filhos de Deus, que andam segundo o seu conselho (Mateus 5.48).
Assim, mais dos que favores imerecidos, a graça nos propicia uma nova vida de gratidão e obediência àquele que é digno de toda honra e glória.

sábado, 25 de maio de 2013

Um cânon dentro do Cânon

Se as Escrituras não são Palavra de Deus para nós, somos deuses sobre elas.

Quando criança gostava de brincar com espelhos que sobrepostos refletiam minha imagem ad infinitum. É possível que um olhar assim possa ser lançado sobre as Escrituras, quando estas não são reconhecidas como regra de fé e prática sobre nossas vidas, ou, em outras palavras, não são a Palavra de Deus para nós.
O entendimento de que a Bíblia é palavra de Deus se dá pela fé. Podemos observar o seguinte:
Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela palavra e com a palavra testifica em nossos corações. (Confissão de Fé de Westminster 1.V).
Não se pode confundir o apreço que alguém pode ter com as Escrituras por suas qualidades, com a fé necessária para seu entendimento. Assim como alguns consideram Jesus um ser extraordinário, mas ainda assim um mero homem, consideram a Bíblia como um livro incomum, acima de todos os demais, todavia nada mais que um livro. Podem ressaltar qualidades estupendas, mas ainda assim desconhecem a natureza de sua autoridade. De fato a Bíblia é muito mais que um livro extraordinário, é a Palavra de Deus.
Para o Liberalismo clássico, ela esta repleta de erros, e não pode ser confiável em matéria do que fala acerca do sobrenatural. Ela tem seu valor moral em algumas partes, mas de acordo tão somente com o que representa a razão humana. É justamente ai que o Cânon bíblico é subtraído. Já não se reconhece mais a autoridade de muitos textos que compõe a lista de livros canônicos, em função de algo que se julga mais creditável que as Escrituras como um todo: o pensamento moderno. Todavia tal posicionamento lançou um olhar muito áspero sobre as Escrituras, e fez-se necessário uma palavra branda.
Os eventos do século XX, que culminaram na decepção sobre a razão humana, trouxeram o pensamento pós-moderno e a esperança de uma visão mais complacente da realidade. Logo, evocou-se em detrimento da razão o sentimento relativista de que a verdade pode ser mais que uma. O âmago da leitura bíblica deixa de ser o que Deus fala conosco, mas o que eu entendo daquela passagem. Os pentecostais em nome de superstições e misticismo, fogem muitas vezes do sentido verdadeiro do texto para justificarem suas experiências, isso quando não se afastam completamente em nome de alguma revelação extemporânea. Os neo-ortodoxos, seus irmãos mais intelectualizados, fogem em nome de uma experiência religiosa de cunho existencial, onde fala mais alto o que agrada o coração do ser caído, cheio de si e de suas questões últimas sobre a vida. Em ambos os casos, estes filhos do liberalismo não têm a coragem de negar diretamente a Bíblia, mas a substituem confiando em si mesmos, elegendo suas próprias verdades.
A leitura bíblica seletiva, onde alguns textos são de origem divina e outros profana, faz com que as pessoas se sintam verdadeiros editores do Espírito Santo. Chega a ser ridículo alguém afirmar que em Efésios 5.22 "mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos", Paulo escreve segundo o machismo de seus dias (como se até hoje o machismo não existisse), para logo em seguida, no verso 25 "vós, maridos, amai vossas mulheres", já se encontre em alinhamento com o Espírito. Ou seja, pensa-se que o Espírito inspirou parcialmente os autores bíblicos, pois ao mesmo tempo permitiu a inserção de muito material humano junto de sua Palavra. É necessário então mentes como a de Caio Fábio, integrada de maneira cósmica com Deus e a história, para se fazer uma edição do que é lei, e do que é graça (como se estes dois estivessem em contradição). O que acontece na verdade é que se as Escrituras não são a Palavra de Deus para nós, somos deuses sobre elas.
O que sei é que desde de que Deus criou o mundo, Ele tem se revelado ao homem pela sua Palavra. Que desde que chamou Moisés Ele tem feito com que homens santos registrassem infalivelmente sua Palavra (2 Pedro 1.21). Que apesar das traduções, o material que temos disposto para o conhecimento da Palavra de Deus, e isso já nos dias de Jesus e os apóstolos, são as Escrituras. Que em matéria de conteúdo, existência e influência, a Bíblia é maior que qualquer homem que já tenha vivido. E que aquele que não é um homem qualquer, mas o Filho do homem, Jesus Cristo, afirmou que são justamente as Escrituras que atestam a seu respeito (João 5.39). Portanto, quem são aqueles que se fazem juízes sobre a Bíblia quando o Supremo Juiz já deu o seu veredito sobre este mesmo livro? Refletindo sempre sobre suas almas, como em um espelho infinito, descobrem apenas o vazio, e querem igualmente esvaziar a Palavra de Deus das Escrituras. Ai deles, pois pesa sobre isso uma dura sentença  (Apocalipse 22.18,19).     


quarta-feira, 22 de maio de 2013

Voltando a falar de Jó


Depois de quase quatro anos, volto a esse post como prometi ao fim primeiro. Além da soberania de Deus atestada sobre todas as coisas, no caso em especial, sobre Satanás, quero destacar outro aspecto interessante nas primeiras linhas desse livro. Em seu papel de acusador, Satanás traz a tona sua perspectiva "teológica" sobre em que se baseia um relacionamento com Deus.
Satanás é chamado para uma conversa pelo próprio Deus. É curioso o fato de Deus estar "interessado" no itinerário de Satanás, como se não soubesse todas as coisas. É certo que sua pergunta não foi motivada por falta de conhecimento, uma vez que Ele é onisciente. "De onde vem?" e "Observas-te meu servo Jó?" são perguntas que revelam as atividades de Satanás tanto em relação a criação de Deus, como também de suas criaturas. Deus sabe todas estas coisas, mas questiona a fim de que seja registrado que Satanás se ocupada delas. Mas, ainda mais interessante é quando na segunda pergunta, Deus diz que Jó é seu servo, que é incomum, íntegro e temente a Ele. Deus não somente revela a ação do diabo, mas também seus pensamentos íntimos, sua leitura das circunstâncias.
Ao ser instigado pelo curriculum de Jó, Satanás responde a Deus com uma outra pergunta em tom de acusação: "Porventura, Jó debalde teme a Deus?". Sendo acusador (Apocalipse 12.10), não perde tempo em lançar sobre Jó a sombra de uma pessoa interesseira, de que seu temor por Deus só existe em razão das bênçãos recebidas.
É curioso, mas se observamos um pouco, essa acusação casa perfeitamente com a Teologia da Prosperidade. Satanás salientou que o temor de Jó não era sem causa, mas por motivos egoístas. Que se lhe fossem tirados os bens com quais fora cercado, seu amor se tornaria em ódio e blasfêmia. Ou seja, no entendimento do diabo, Deus por si não significada grande coisa para Jó, a não ser quando acompanhado das riquezas que lhe foram conferidas.
Sistematicamente os pregadores da teologia da prosperidade tem propagado justamente essa base relacional entre o crente e Deus. Que se Deus não abençoar o indivíduo, ele não é digno de reverência alguma. Que Deus para ser Deus tem obrigação de prover riquezas para ser crido.
Deus "aceita" o que foi proposto por Satanás, para que se soubesse o que realmente estava no coração de Jó. Ele perdeu tudo, menos a vida e a esposa. Seus filhos, bens e saúde foram como que instantaneamente tirados, e ainda assim o servo de Deus não pecou com seu lábios. Sua mulher, quando só lhe restava a vida e tumores malignos por todo o corpo, sugeriu-lhe o fim de seu sofrimento com imprecações contra Deus. Mas ainda assim Jó preservou sua integridade.
Na opinião dos profetas da prosperidade, um Deus que tira o que deu, que concede o mal além do bem, não é digno de adoração. Mas Jó afirma o contrário. Mesmo sem saber do que se tratou entre Deus e Satanás, ele reconhecia que o Senhor em sua soberania tinha direito sobre sua vida e tudo que lhe havia conferido. Ainda que Satanás tenha sido o agente das moléstias que mudaram sua sorte, adorando a Deus, Jó ressalta o direito divino de fazer o que bem entendesse com sua vida.
Certamente devemos aprender com a experiência de Jó, de que Deus é soberano, e tem autoridade e direito sobre todas as coisas. Que em toda e qualquer circunstância Ele é digno de adoração. Mas se de fato amarmos a Deus tão somente pelas bênçãos recebidas, Satanás estará certo em nos acusar como fez com Jó. E também será certo que não seremos chamados por Deus de seus servos.